quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Abordagem psicopedagógica clínica nas dificuldades de aprendizagem

Por Ana Cristina dos Santos | Psicopedagoga clínica e fonoaudióloga clínica
A abordagem psicopedagógica tem como objeto de estudo a aprendizagem humana e seus padrões evolutivos normais e da diversidade. Atua no campo de conhecimento em Saúde e Educação, estudando o processo de aprendizagem e suas dificuldades.

Os problemas de aprendizagem procedem em sua essência da capacidade de realizar  e processar a informação. Surgem muitas vezes por questões orgânicas, ambientais, afetivas, emocionais específicas e outros. Podem ser relacionados a uma diversidade de fatores, como fatores neurobióticos, afecções emocionais ou a organizações pedagógicas distantes do processo de adaptação e/ou maturação em que o aprendente se encontra. As habilidades frequentemente afetadas a partir deste distúrbio são: leitura, escrita, processamento auditivo e da fala, raciocínio e matemática.
 
Dificuldades de aprendizagem
De  acordo com a neurociência, os problemas de aprendizagem são causados por diferenças no funcionamento cerebral e na forma pela qual o cérebro processa a informação. Ao aprender, o cérebro entra em atividade e ocorre uma série de modificações físicas e químicas. O cérebro humano realiza novas conexões de acordo com a necessidade que enfrenta, ou seja, isto o leva a estar continuamente reorganizando-se, desenvolvendo sua maturação biológica e cognitiva.

A psicopedagogia enfatiza a aprendizagem como processo de troca mútua entre o meio e o indivíduo, tendo o outro como mediador. Numa concepção mais abrangente, Fernandez(1991) considera as dificuldades de aprendizagem como sintomas ou “fraturas” ocorrentes no processo de aprendizagem e, para que essa ocorra, é necessário intervir no nível cognitivo e o desejante, além do organismo e do corpo.

Pain (1981,citado por Rubinstein, 1999) considera a dificuldade para aprender como um sintoma, que pode ser determinado por:
•    fatores orgânicos, envolvidos com aspectos do funcionamento anatômico, como do sistema nervoso central e dos órgãos sensoriais;
•    fatores específicos, relacionados à dificuldades específicas do sujeito, não envolvidos com constatação orgânica, se manifestando na área da linguagem, por  exemplo;
•    fatores psicogênicos;
•    fatores ambientais, como ambientes familiares e educacionais inadequados.

Abordagem Psicopedagógica
O objeto de estudo da Psicopedagogia é o sujeito com suas  características da aprendizagem humana, suas evoluções, suas modalidades para o aprender, condicionadas a outras influências. A dificuldade de aprendizagem está envolvida com toda a estruturação e vivência do indivíduo, incluindo aí a sua estrutura organizacional, a instituição familiar e escolar.

Os problemas de aprendizagem geralmente são levantados no período e âmbito escolar, à medida em que são abordadas e exigidas aprendizagens de percepções, memória, discriminação, associação, linguagem e pedagógicas.

São muitos os casos em que a intervenção psicopedagógica é extremamente importante e indicada: dificuldade de leitura e escrita com e sem causa orgânica, dificuldade de memorização, atenção e concentração, distúrbio da lateralidade, na organização têmporo-espacial, distúrbio psicomotor, disgrafia, dislexia, hiperatividade, dentre outros.

No diagnóstico clínico, o psicopedagogo deve mobilizar sua ação no sentido de verificar o potencial de aprendizagem. Para isto, o psicopedagogo conta com alguns instrumentos, tais como:
•    a entrevista com a família/ anamnese com informações de aprendizagens informais até as formais acadêmicas;
•    entrevista com o cliente com escuta do motivo da consulta pelo próprio, observação e avaliação do potencial e das dificuldades, envolvendo pesquisa dos aspectos relacionais, cognitivos, motores e pedagógicos, provas operatórias, projetivas e modalidades expressivas do sujeito;
•    contato com a escola, onde se investiga sobre a dinâmica de aprendizagem do cliente na situação de sala de aula, seu comportamento acadêmico e seu relacionamento com colegas e professores.

O psicopedagogo, em sua intervenção clínica, trata de escutar o desejo do sujeito e induzi-lo a atividades e recursos para uma via de expressão, de acesso ao conhecimento, linguagem, normativa social. As intervenções clínicas, incluem o verbal, informações, assinalamentos, sínteses, interpretações, interrogações e observações, levando o aprendente a ser autor de seu próprio conhecimento, a ter prazer em suas construções, aprendizagens e identificando a melhor forma de aprender.

O trabalho psicopedagógico dirige-se a ajudar a recuperar o prazer perdido de aprender e a autonomia do exercício da inteligência, no qual o saber é uma construção pessoal e está relacionado ao fazer. Não pode haver construção de saber, se não se joga com o conhecimento.

Referências  Bibliográficas

BOSSA, Nádia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.Porto Alegre: Artes Médicas , 1994.
RUBINSTEIN, Edith. Atuação Psicopedagógica e Aprendizagem Escolar . Petrópolis –RJ ,  Editora Vozes ,1999 .
RUBINSTEIN, Edith. Psicopedagogia : contextualização , formação e atuação profissional . Porto Alegre: Artes Médicas , 1992 .
FERNÁNDEZ, Alicia.  A inteligência Aprisionada. Abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas , 1991.
FONSECA,V . Introdução às Dificuldades de Aprendizagem.Porto Alegre.Artes Médicas,1995.

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