terça-feira, 5 de abril de 2011

Atenção ao sangramento uterino anormal

Orion Elias Sampaio - Ginecologista e obstetra

As hemorragias uterinas anormais podem se apresentar em três fases importantes na vida da mulher, assumindo três formas: Menorragia/Hipermenorreia, ou perda sanguínea no período menstrual, excessiva em quantidade e/ou número de dias (definidos como habituais naquela mulher); Metrorragia, ou perda sanguínea, de origem corporal, fora do período menstrual; e Menometrorragia, ou perda sanguínea irregular e prolongada, que não é possível classificar como uma das anteriores. De acordo como o médico ginecologista e obstetra Orion Elias Sampaio, são fatores que desencadeiam as hemorragias anormais os pólipos endometriais, miomas hiperplasia endometrial com ou sem atipia, e neoplasia do endométrio. A seguir, confira com o especialistas orientações importantes sobre o assunto.

Sangramento uterino normal
Para conceituar um sangramento uterino anormal é necessário primeiro estabelecer o que se considera um sangramento menstrual normal. O fluxo menstrual médio dura de 3 a 8 dias. O ciclo médio varia entre 21 e 35 dias. Portanto, sangramento uterino anormal é aquele que apresenta uma alteração em um ou mais destes três parâmetros, ou seja, um sangramento excessivo em duração, frequência ou quantidade. Com relação a este ultimo parâmetro, não existe uma maneira prática e objetiva capaz de medir a quantidade de sangue eliminado, porém, se o sangue menstrual forma coágulos, provavelmente a perda é maior que o normal. Um hemograma completo e contagem das plaquetas confirmará o diagnóstico. E para uma confirmação precisa, primeiramente devemos afastar as causas orgânicas. Depois, devemos separar as pacientes em dois grupos: as que estão ovulando e as que não estão.

Hemorragia uterina anormal
É a hemorragia uterina que sai do padrão normal em quantidade e duração (o padrão normal vai de 2 a 10 ou de 21 a 35 dias), que pode acometer adolescentes de 10 aos 19 anos. São elementos diagnósticos a considerar o início do desenvolvimento da puberdade, a menarca, que pode ser espontânea ou induzida, calendário menstrual, característica do fluxo menstrual (abundância, presença de coágulos, cor e cheiro), dismenorreia (cólica menstrual), que se classifica como primaria ou secundaria, corrimento (características e sintomas associados), dores pélvicas, atividades sexual, e contracepção. É importante observar antecedentes obstétricos e também hábitos de vida, como alimentação, atividade física, higiene pessoal, tabagismo, alcoolismo e drogas, antecedentes médicos e cirúrgicos. Em pessoas com predisposição hemorrágicas é indispensável  a avaliação de medicações de uso atual. É de fundamental importância observar o histórico familiar, bem como endocrinopatias, discrasias sanguíneas, tuberculose, doenças autoimunes, patologias malignas e hipertensão.


Como é feito o diagnóstico
Sempre é bom lembrar da importância do exame físico, tais como observação dos sinais vitais, palpação da tireoide, exame mamário, e também o exame ginecológico completo. Como auxílio diagnóstico, os exames devem ser requisitados em função da especialidade de cada caso, como os de maior importância nas hemorragias de urgência, o hemograma e contagem de plaquetas, lembrando sempre do estudo da coagulação, o teste de gravidez e se possível a ultrassonografia pélvica. Devemos sempre fazer diagnóstico diferencial observando o fator disfuncional.

A Metrorragia
Podemos classificar a metrorragia como um sangramento uterino disfuncional, ou seja, um sangramento uterino anormal, cuja origem se deve, exclusivamente, a um estímulo hormonal inadequado sobre o endométrio. Entretanto, o termo é frequentemente usado como sinônimo de sangramento uterino anormal e o que vemos na prática clínica é um grande número de sangramentos uterinos anormais provocados por lesões orgânicas, genitais ou extragenitais, sendo erroneamente rotulados e tratados como disfuncionais.

Sangramento uterino disfuncional
O sangramento uterino disfuncional ou endócrino é um distúrbio frequente que pode ocorrer em qualquer época do período reprodutivo da mulher, mas concentra-se principalmente em seus extremos, ou seja, logo após a primeira menstruação e no período da menopausa. Podemos defini-lo como um sangramento uterino irregular, sem nenhuma causa orgânica (genital ou extragenital) demonstrável. É, pois, um diagnóstico de exclusão, feito após cuidadosa eliminação das causas orgânicas de sangramento uterino representadas pela gravidez e suas complicações, patologias uterinas e pélvicas benignas e malignas, e problemas extragenitais, como distúrbios da coagulação, doenças sistêmicas, endocrinopatias extra ovarianas, ou uso de medicamentos que interferem com a ação hormonal ou com os mecanismos de coagulação. O diagnóstico etiológico é, portanto, um desafio ao senso crítico do médico, à sua perspicácia na observação e interpretação dos sinais e sintomas, e à sua capacidade de saber utilizar os meios adequados para a comprovação ou exclusão das possíveis patologias. Quanto mais minuciosa e apurado for o diagnóstico, mais causas orgânicas iremos encontrar, especialmente nas pacientes acima de 35 anos, fazendo com que um aparente sangramento disfuncional seja então identificado como orgânico. Aproximadamente 20% das pacientes com sangramento disfuncional são adolescentes e 50% estão na faixa dos 40 a 50 anos.

Causas e tratamento

O termo sangramento uterino anormal é bastante abrangente. Dentre as causas, inclui-se a disfunção hormonal. Quando falamos em sangramento disfuncional, pressupõe-se que todas as outras causas já foram excluídas. O grande desafio clínico é chegar ao diagnóstico preciso de sangramento uterino disfuncional, pois o tratamento será, em princípio, exclusivamente hormonal e sem possibilidade de fracasso. Se falhar, com certeza não será disfuncional. Neste caso, teremos que reavaliar o diagnóstico, para identificar a real causa orgânica. Este é o ditado básico: “Sangramento disfuncional corrige-se com hormônios. Se não corrigir, não é disfuncional, é orgânico”.

Dica do especialista
Se a mulher observar qualquer anormalidade, durante a sua fase reprodutiva ou não, deverá procurar o seu ginecologista para que seja feito um diagnóstico preciso e um tratamento adequado, que lhe traga alívio e conforto no seu dia a dia.

Informativo Samaritano, D&D, fevereiro de 2011

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