terça-feira, 23 de outubro de 2012

Quem nunca torceu o tornozelo?

Em casos mais graves, o tratamento da entorse envolve imobilização, medicamentos, aplicação de gelo, fisioterapia e, em alguns, até cirurgia
RODRIGO ALVARENGA NUNES, ortopedista


A entorse de tornozelo é uma das lesões ortopédicas mais comuns. Afinal, o famoso “torci o pé” ou “torci o tornozelo” dito pela maioria da população em algum momento, é justamente a entorse de tornozelo, que, nas palavras do ortopedista Rodrigo Alvarenga Nunes, especialista em Cirurgia do Tornozelo e Pé, é o movimento torcional brusco realizado pelo pé / tornozelo, com estiramento dos ligamentos do tornozelo e pé podendo levar a ruptura ligamentar e até mesmo a fraturas.

Segundo ele, a principal causa de entorse é a pisada em falso em terrenos irregulares, buracos ou degraus de escadas ou calçadas. “O maior grupo de risco envolve os pacientes idosos devido a osteoporose e os praticantes de atividade esportiva com risco de traumas de alta energia”, detalha. Os principais sintomas são dor e edema (inchaço) ao redor do tornozelo e pé, com frequente presença de equimose ou hematomas no local. “Dependendo do grau da lesão os pacientes podem ter dificuldade para andar e movimentar o tornozelo”, acrecenta.

O ortopedista diz que a prevenção está relacionada ao uso de calçados de solado rígido, cano alto e contraforte firme, e com amortecimento de maneira que, se pisar em falso, o movimento possa ser amortecido e a entorse evitada. Ele aconselha ainda a evitar calçados flexíveis, tais como sapatilhas, sandalhas rasteiras e de borracha. “Nos casos crônicos tornozeleiras de elástico podem dar mais segurança para o paciente caminhar”, orienta.

Rodrigo diz que o diagnóstico é basicamente clínico, através do exame físico com a palpação das estruturas do tornozelo e pé e mobilização da articulação do tornozelo e pé. Exames complementares podem ser solicitados, mais comumente as radiografias. “A ultrassonografia e a ressonância magnética podem ser necessárias em casos específicos à procura lesões ligamentares. A tomografia computadorizada pode ser realizada nos casos de fraturas articulares, para avaliar melhor o local da fratura”, explica, complementando que a ressonância magnética é o melhor exame para determinar se houve ruptura ligamentar e avaliar as lesões associadas, esclarecendo melhor o quadro clínico do paciente e exercendo um papel fundamental na indicação de um tratamento conservador ou cirúrgico.

O tratamento nas lesões ligamentares leves, conforme Rodrigo, envolve a imobilização provisória, para evitar a dor no tornozelo, mais anti-inflamatórios e analgésicos via oral, mais gelo local e fisioterapia para restabelecer os movimentos e diminuir o edema. Já nos casos mais graves, a imobilização é mantida por mais tempo (uma média de 4 a 6 semanas), mais medicação via oral e acompanhamento ambulatorial, até a diminuição da dor e edema, para que seja iniciado o tratamento fisioterápico e a marcha com botas imobilizadoras de solado rígido.

A recuperação depende muito da gravidade da lesão, porém a média é de 15 a 21 dias, podendo se estender para até seis semanas nos casos mais graves. “Os principais fatores que alteram o tempo total de recuperação são a quantidade de ligamentos que foram distendidos ou rompidos, se houve fratura associada, e se existem outras lesões associadas tais como as lesões de cartilagem do tornozelo e as lesões tendinosas”, esclarece.

No caso de atletas, Rodrigo diz que o tratamento é basicamente o mesmo, porém, devido à necessidade de retorno à atividade esportiva e ao fato da musculatura do atleta ser mais desenvolvida, ele pode ter um tratamento mais funcional, com menor tempo de imobilização e iniciar os exercícios fisioterápicos mais precocemente. “O exercício físico com carga total (corridas, saltos) são restritos até a melhora da dor e do edema o que acontece em média em duas semanas”, frisa.

O problema também pode ser tratado por meio de cirurgia, com reconstrução ligamentar anatômica nas lesões agudas, mas, de acordo com o médico, embora seja cada vez mais realizado, ainda é muito discutido, já que neste tipo de cirurgia os ligamentos são reconstruídos utilizando tendões e suturas internas. “Nas lesões crônicas, em que os pacientes têm instabilidade do tornozelo devido a entorses de repetição ou entorses graves não tratadas, é realizada a reconstrução ligamentar cirúrgica. Em casos não tratados, com o passar do tempo podem aparecer sinais de artrose. Por isso, infiltrações articulares com viscosuplementos podem ser utilizadas para melhorar os movimentos e diminuir a dor”, informa. “Existem casos em que lesões antigas levam ao desgaste da cartilagem com artrose avançada do tornozelo e nesses casos o tratamento cirúrgico já não envolve a reconstrução ligamentar, mas sim a retirada da cartilagem lesionada e fixação óssea do tornozelo (artrodese) bloqueando os movimentos que eram a causa da dor”, conclui.

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