quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Evolução da assistência à saúde e da medicina em Goiás da Proclamação da República ao final da era Vargas (1889- 1954)


Por Joaquim Caetano de Almeida Netto | Presidente da Academia Goiana de Medicina


Nas três primeiras décadas após a proclamação da República, a medicina e
os cuidados com a saúde praticamente não evoluíram em Goiás, apesar de
possivelmente cerca de uma centena de médicos terem se radicado no Estado,
um número significativo na época.

Muitos deles se estabeleceram na então capital do Estado onde existia um
hospital minimamente estruturado, o Hospital Dom Pedro de Alcântara, alguns
nas principais cidades goianas de então e também em pequenas
dentre aquelas da região da estrada de ferro, recém-chegada de Araguari,
atendendo em pequenos e improvisados hospitais ou em consultório também
improvisados, muitas vezes em condições absolutamente precárias, tendo que se deslocar para a zona rural, quase sempre a cavalo e mal remunerados.

A assistência à saúde só começou a melhorar, ainda que de forma lenta e
gradual no período em que o Estado foi governado por dois médicos, Brasil de
Ramos Caiado (1925- 1929) e Pedro Ludovico Teixeira (1930-1954), época
em que se iniciou uma maior preocupação governamental com a saúde da
população em geral e não apenas com o pessoal da corte e militares.

A partir de então ocorreu uma crescente incorporação de conhecimentos
clínicos e práticas cirúrgicas já existentes principalmente nas capitais da
região sudeste que permitiram uma gradual transformação dos
empíricos cuidados com a saúde em elementar assistência médica a saúde,
então acessível apenas à população urbana, uma vez que a
rural continuava esquecida pelo governo republicano, apesar de ser a
predominante e mais produtiva, pelo que os resultados práticos foram
irrelevantes.

Ainda no final do governo de Brasil di Ramos Caiado foi fundado, em 1927, o
Hospital Evangélico Goiano em Anápolis o segundo do Estado, cem anos após
o Hospital Dom Pedro de Alcântara, criado na antiga capital em 1826.

O hospital Evangélico Goiano, fundado pelo médico James Fanstone, filho de
um casal de missionários ingleses no Brasil , nascido no Recife e formado em
medicina na Inglaterra, após servir como médico na primeira guerra mundial retornou
ao seu país como Doutor pelo Instituto de Medicinal Tropical de Londres, juntamente com a esposa enfermeira Inglesa Deisy.

Como missionários evangélicos, o casal Dayse- Fanstone se estabeleceu em
Anápolis onde de imediato fundaram uma improvisada casa de saúde que,
após alguns anos de sua fundação, passou a atuar em área física bem
estruturada com equipamentos modernos para a época, dotado de um grupo
de médicos altamente comprometidos com a profissão, o então Hospital
Evangélico Goiano, popularmente chamado Hospital D. Fanstone que atendia
gratuitamente boa parte dos pacientes.

O Hospital Evangélico Goiano e seu dedicado grupo de médicos e enfermeiras inglesas, além de ter sido pioneiro nas intervenções cirúrgicas de porte em Goiás, desempenhou papel muito importante na formação de pessoal de enfermagem, até então inexistente em Goiás.

Desde então, o hoje Hospital Evangélico de Anápolis muito contribuiu para a
melhoria da assistência médica em Goiás atendendo, não só à população local
e dos municípios vizinhos, mas também a pacientes de municípios distantes,
principalmente das regiões norte e nordeste do Estado, vindo a se constituir
nas décadas seguintes no segundo polo de assistência médica em Goiás.

Em 1937, já no Governo Pedro Ludovico Teixeira, foi criado o Hospital
Evangélico de Rio Verde pelo casal de missionários americanos, médico Dr.
Donald Gordon/enfermeira D.Helena, quando aquele município contava apenas
50 mil habitantes.

Já em pleno funcionamento, em meados da década de 40, o Hospital
Evangélico de Rio Verde passou a atender pacientes dos municípios
Circunvizinhos, vindo a se constituir no terceiro polo de assistência médica no
Estado, o primeiro no Sudoeste Goiano.

À semelhança do Hospital Evangélico de Anápolis, o Hospital Evangélico
De Rio Verde também contribuiu de forma relevante para a formação de
Profissionais de enfermagem, então carentes em todo Centro-Oeste do Brasil.

Novos e substanciais avanços na assistência à saúde ocorreram com a Transferência da capital, iniciados com a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, construída graças a uma ação conjunta da sociedade São Vicente de Paula e do Governo Estadual com decisivo apoio da primeira dama do Estado, D. Gercina Borges Teixeira, com efetiva participação da emergente sociedade goianiense.

Iniciada em 1936, apesar da carência de recursos, a Santa casa de
Misericórdia de Goiânia começou suas atividades em 1939 em uma creche
instalada na recém-concluída Casa da Criança mas só passou a prestar
assistência médica à população em dezembro de1942 em clínica e cirurgia
geral, puericultura e obstetrícia.

Concomitantemente, foi criada a Escola de Enfermagem São Vicente de
Paula, para suprir não só a Santa Casa, mas também a falta deste profissional
em todo Estado, alguns anos mais tarde, encorporada pela recém-fundada
Universidade Católica de Goiás.

No início da construção de Goiânia, médicos pioneiros, atendendo em
improvisados consultórios ou em pequenas casas de saúde em Campinas e
em Goiânia, prestaram assistência à crescente população da Nova Capital.

Após frustradas propostas do governo para apoiar particulares na construção
do primeiro hospital de Goiânia, Altamiro de Moura Pacheco, com recursos
próprios fundou o Instituto Médico Cirúrgico de Goiânia que, com área física e
equipado de forma moderna para a época, ao lado da Santa Casa e das Casas
de Saúde Dr. Rassi e Dr.Laurindo em Campinas, contribuiu para melhorar a
assistência à saúde na Nova Capital.

Na sequencia foram surgindo alguns hospitais já razoavelmente estruturados
e equipados, destacando-se o Hospital Santa Luzia, o Hospital São Lucas, Hospital Santa Helena e Hospital Rassi, dentre outros menores, época em que começaram a se
estruturar as especialidades médicas em Goiás a partir da clínica e da cirurgia
geral, da puericultura e da obstetrícia que, juntamente com o primeiro laboratório de
análises clínicas, ensejaram uma gradual transformação da embrionária Assistência a Saúde, pela efetiva incorporação de Ciência e Tecnologia , modernizando- se.

Na década de cinquenta importantes iniciativas foram tomadas pelos
médicos goianos que resultaram na fundação da Associação Médica de Goiás,
do Conselho Regional de Medicina e da Revista Goiana de Medicina que muito
contribuíram para o crescimento da medicina no Estado.

Concomitantemente os Governos Estaduais e Municipais deram início ao
saneamento básico anunciado desde o período mudancista como o que seria uma
marca da Nova Capital, surgindo então um novo e alvissaneiro cenário que levou
a Nova Capital, já nos meados dos anos cinquenta, a ser considerada lócus
privilegiado da saúde e o principal pólo de assistência médica do Estado.

Publicações consultadas
1 - Araújo e Silva, N.R. 1 - Educação e Saúde em Goiás: promessas e mudanças. In Saúde e doenças em Goiás, 1999.
2 - Campos, F. I. Serviço de Higiene, origem da Saúde Pública em Goiás. In Saúde e Doenças em Goiás, 1999.
3 – Carasch, M. C. História das doenças e dos cuidados médicos na Capitania de Goiás. In Saúde e doenças em Goiás, 1999.
4 - Carvalho Bueno, Jerônimo. História da medicina em Goiás, 1979.
5 - Castelo Branco, Lena F. F. Saúde e Doenças em Goiás. A medicina possível, 1999.
6 – Ferreira Salles, G. V. Saúde e doenças em Goiás – 1826 a 1930.
7 - Godinho, I. R. Médicos e medicina em Goiás do século XVIII aos dias atuais, 2004.
8 - Rezende, J. M. Prefacio do Livro Saúde e doenças em Goiás,1999.
9- San’tana de Moraes, M. A. Dos primeiros tempos da Saúde Publica em Goiás á Faculdade de Medicina, 2012.

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