Por Joaquim Caetano de Almeida Netto | Presidente da Academia Goiana de Medicina
Nas três primeiras
décadas após a proclamação da República, a medicina e
os cuidados com a saúde
praticamente não evoluíram em Goiás, apesar de
possivelmente cerca de
uma centena de médicos terem se radicado no Estado,
um número
significativo na época.
Muitos deles se
estabeleceram na então capital do Estado onde existia um
hospital minimamente
estruturado, o Hospital Dom Pedro de Alcântara, alguns
nas principais cidades
goianas de então e também em pequenas
dentre aquelas da
região da estrada de ferro, recém-chegada de Araguari,
atendendo em pequenos e
improvisados hospitais ou em consultório também
improvisados, muitas
vezes em condições absolutamente precárias, tendo que se deslocar
para a zona rural, quase sempre a cavalo e mal remunerados.
A assistência à saúde
só começou a melhorar, ainda que de forma lenta e
gradual no período em
que o Estado foi governado por dois médicos, Brasil de
Ramos Caiado (1925-
1929) e Pedro Ludovico Teixeira (1930-1954), época
em que se iniciou uma
maior preocupação governamental com a saúde da
população em geral e
não apenas com o pessoal da corte e militares.
A partir de então
ocorreu uma crescente incorporação de conhecimentos
clínicos e práticas
cirúrgicas já existentes principalmente nas capitais da
região sudeste que
permitiram uma gradual transformação dos
empíricos cuidados com
a saúde em elementar assistência médica a saúde,
então acessível
apenas à população urbana, uma vez que a
rural continuava
esquecida pelo governo republicano, apesar de ser a
predominante e mais
produtiva, pelo que os resultados práticos foram
irrelevantes.
Ainda no final do
governo de Brasil di Ramos Caiado foi fundado, em 1927, o
Hospital Evangélico
Goiano em Anápolis o segundo do Estado, cem anos após
o Hospital Dom Pedro de
Alcântara, criado na antiga capital em 1826.
O hospital Evangélico
Goiano, fundado pelo médico James Fanstone, filho de
um casal de
missionários ingleses no Brasil , nascido no Recife e formado em
medicina na Inglaterra,
após servir como médico na primeira guerra mundial retornou
ao seu país como
Doutor pelo Instituto de Medicinal Tropical de Londres, juntamente
com a esposa enfermeira Inglesa Deisy.
Como missionários
evangélicos, o casal Dayse- Fanstone se estabeleceu em
Anápolis onde de
imediato fundaram uma improvisada casa de saúde que,
após alguns anos de
sua fundação, passou a atuar em área física bem
estruturada com
equipamentos modernos para a época, dotado de um grupo
de médicos altamente
comprometidos com a profissão, o então Hospital
Evangélico Goiano,
popularmente chamado Hospital D. Fanstone que atendia
gratuitamente boa parte
dos pacientes.
O Hospital Evangélico
Goiano e seu dedicado grupo de médicos e enfermeiras inglesas, além
de ter sido pioneiro nas intervenções cirúrgicas de porte em
Goiás, desempenhou papel muito importante na formação de pessoal
de enfermagem, até então inexistente em Goiás.
Desde então, o hoje
Hospital Evangélico de Anápolis muito contribuiu para a
melhoria da assistência
médica em Goiás atendendo, não só à população local
e dos municípios
vizinhos, mas também a pacientes de municípios distantes,
principalmente das
regiões norte e nordeste do Estado, vindo a se constituir
nas décadas seguintes
no segundo polo de assistência médica em Goiás.
Em 1937, já no Governo
Pedro Ludovico Teixeira, foi criado o Hospital
Evangélico de Rio
Verde pelo casal de missionários americanos, médico Dr.
Donald
Gordon/enfermeira D.Helena, quando aquele município contava apenas
50 mil habitantes.
Já em pleno
funcionamento, em meados da década de 40, o Hospital
Evangélico de Rio
Verde passou a atender pacientes dos municípios
Circunvizinhos, vindo a
se constituir no terceiro polo de assistência médica no
Estado, o primeiro no
Sudoeste Goiano.
À semelhança do
Hospital Evangélico de Anápolis, o Hospital Evangélico
De Rio Verde também
contribuiu de forma relevante para a formação de
Profissionais de
enfermagem, então carentes em todo Centro-Oeste do Brasil.
Novos e substanciais
avanços na assistência à saúde ocorreram com a Transferência da
capital, iniciados com a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia,
construída graças a uma ação conjunta da sociedade São Vicente
de Paula e do Governo Estadual com decisivo apoio da primeira dama do
Estado, D. Gercina Borges Teixeira, com efetiva participação da
emergente sociedade goianiense.
Iniciada em 1936,
apesar da carência de recursos, a Santa casa de
Misericórdia de
Goiânia começou suas atividades em 1939 em uma creche
instalada na
recém-concluída Casa da Criança mas só passou a prestar
assistência médica à
população em dezembro de1942 em clínica e cirurgia
geral, puericultura e
obstetrícia.
Concomitantemente, foi
criada a Escola de Enfermagem São Vicente de
Paula, para suprir não
só a Santa Casa, mas também a falta deste profissional
em todo Estado, alguns
anos mais tarde, encorporada pela recém-fundada
Universidade Católica
de Goiás.
No início da
construção de Goiânia, médicos pioneiros, atendendo em
improvisados
consultórios ou em pequenas casas de saúde em Campinas e
em Goiânia, prestaram
assistência à crescente população da Nova Capital.
Após frustradas
propostas do governo para apoiar particulares na construção
do primeiro hospital de
Goiânia, Altamiro de Moura Pacheco, com recursos
próprios fundou o
Instituto Médico Cirúrgico de Goiânia que, com área física e
equipado de forma
moderna para a época, ao lado da Santa Casa e das Casas
de Saúde Dr. Rassi e
Dr.Laurindo em Campinas, contribuiu para melhorar a
assistência à saúde
na Nova Capital.
Na sequencia foram
surgindo alguns hospitais já razoavelmente estruturados
e equipados,
destacando-se o Hospital Santa Luzia, o Hospital São Lucas,
Hospital Santa Helena e Hospital Rassi, dentre outros menores, época
em que começaram a se
estruturar as
especialidades médicas em Goiás a partir da clínica e da cirurgia
geral, da puericultura
e da obstetrícia que, juntamente com o primeiro laboratório de
análises clínicas,
ensejaram uma gradual transformação da embrionária Assistência a
Saúde, pela efetiva incorporação de Ciência e Tecnologia ,
modernizando- se.
Na década de
cinquenta importantes iniciativas foram tomadas pelos
médicos goianos que
resultaram na fundação da Associação Médica de Goiás,
do Conselho Regional de
Medicina e da Revista Goiana de Medicina que muito
contribuíram para o
crescimento da medicina no Estado.
Concomitantemente os
Governos Estaduais e Municipais deram início ao
saneamento básico
anunciado desde o período mudancista como o que seria uma
marca da Nova Capital,
surgindo então um novo e alvissaneiro cenário que levou
a Nova Capital, já nos
meados dos anos cinquenta, a ser considerada lócus
privilegiado da saúde
e o principal pólo de assistência médica do Estado.
Publicações
consultadas
1 - Araújo e Silva,
N.R. 1 - Educação e Saúde em Goiás: promessas e mudanças. In
Saúde e doenças em Goiás, 1999.
2 - Campos, F. I.
Serviço de Higiene, origem da Saúde Pública em Goiás. In Saúde e
Doenças em Goiás, 1999.
3 – Carasch, M. C.
História das doenças e dos cuidados médicos na Capitania de Goiás.
In Saúde e doenças em Goiás, 1999.
4 - Carvalho Bueno,
Jerônimo. História da medicina em Goiás, 1979.
5 - Castelo Branco,
Lena F. F. Saúde e Doenças em Goiás. A medicina possível, 1999.
6 – Ferreira Salles,
G. V. Saúde e doenças em Goiás – 1826 a 1930.
7 - Godinho, I. R.
Médicos e medicina em Goiás do século XVIII aos dias atuais, 2004.
8 - Rezende, J. M.
Prefacio do Livro Saúde e doenças em Goiás,1999.
9- San’tana de
Moraes, M. A. Dos primeiros tempos da Saúde Publica em Goiás á
Faculdade de Medicina, 2012.
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