quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Como as histórias em quadrinhos conquistam o público adulto

Com enredos bem elaborados os Grafic Novel arrebatam leitores exigentes e que desejam se ver na narrativa 


Diversidade é a palavra que define o atual público das histórias em quadrinhos. O estereótipo de ser “apenas só para meninos” ou “arte para o segmento infanto-juvenil” acabou. Os super-heróis deram espaço a novos personagens e histórias mais elaboradas, que cativam leitores de várias faixas etárias e ambos os sexos. Tudo começou com o surgimento do Grafic Novel - romance gráfico - que teve seus antecedentes nos anos 1960 como Tintin, Asterix e Spirou.

Sendo este um estilo de história em quadrinhos que possui um enredo mais extenso do que o normalmente encontrado nos gibis, ele é dividido em capítulos, reunido em um álbum luxuoso com páginas acetinadas e capa dura, atingindo um público adulto e elitizado que não mais se interessa por histórias de sexo como nos anos 1950 – em que Carlos Zéfiro é seu mestre no Brasil - e sim por histórias que se assemelham as suas vidas.

As pessoas sempre buscam na arte algum tipo de empatia, para que elas consigam se ver no que veem, se imaginar no contexto, sentir o que o personagem está passando, enfim, se inserir na situação. Existem pessoas que até mesmo antes de ler um livro, pesquisam sobre, por exemplo, a vida do autor para entender em que contexto tal obra foi escrita, ou no caso de cantores, investigam sobre os momentos que passou o músico para que escrevesse tal letra.

Os filmes, livros, fotos e músicas que realmente emocionam seu público são aqueles em que o próprio público possa se ver no contexto do personagem de tais obras ou que pelo menos expressem o momento emocional, espiritual, e até mesmo o social que esteja vivendo. Um exemplo disso foi quando foram criadas as tiras no Brasil, nos anos 1960. Aquele era um momento de total rebeldia e indignação da população diante das injustiças cometidas pela ditadura.
Em meados dos anos 60 e 70, época em que o Brasil passou por transformações significativas, surgiram cartunistas como Ziraldo, criador do Menino Maluquinho, e Henfil pai dos personagens Graúna e Os Fradinhos, e é claro Maurício de Souza, que é o inventor da Turma da Mônica, em 1959. Nessa época também foram produzidos personagens como Escorpião, Capitão Sete e Raio Negro. Já no estilo policial temos o "O Anjo", feito por Flávio Colin, e no faroeste temos o personagem gaúcho Fidêncio, de Júlio Shimamoto.
Como efeito do golpe militar, nasce um estado de moralismo no meio das HQs, entretanto surgiram as charges – desenho cômico - que satirizavam tudo o que indignasse o país, lembrando que elas tiveram lugar de destaque no Pasquim, jornal que mesmo sendo perseguido pela censura, criticava a ditadura incessantemente.
Na década de 1980, se firmaram os trabalhos de artistas como Angeli, Glauco, e Laerte. Classificados com o termo “quadrinhos underground”, pois eram vendidos de mão em mão, eles desenhavam em revistas como Chiclete com Banana e Circo Editorial, produziram juntos Los Três Amigos, e separados criaram a Rê Bordosa, Geraldão e Overman, respectivamente. Temos ainda nessa época os quadrinistas Caco Galhardo, Fernando Gonsales, Níquel Náusea, Adão Iturrusgarai e Miguel Paiva, que desenhou Radical Chic, Gatão de Meia Idade, e as tiras do detetive Ed Mort, ganhando maior fama sendo adaptados para televisão, teatro e cinema.
A partir de 1982, a arte americana e inglesa invadem o Brasil. Surgem desenhistas de HQs que começaram a ser conhecidos no mundo todo, como Frank Miller, que fez Sin City, Demolidor, A queda de Murdock, Elektra, Os 300 de Esparta. Neil Gaiman que desenhou Sandman e Stardust que foi adaptado para o cinema, tendo escrevido inclusive o script do filme Beowulf, juntamente com Roger Avary. E Alan Moore que desenhou A Liga Extraordinária, Constantine, V de Vingança, que foram adaptados para o cinema, sendo sua obra mais aclamada Watchmen, que foi criado juntamente com Dave Gibbons.

Os brasileiros não ficaram fora do circuito quadrinista mundial, entretanto, como resultado da fama foram contratados para trabalhar com grandes editoras americanas de super-heróis. Roger Cruz é um exemplo, na Marvel já desenhou X-Men, Surfista Prateado e Tropa Alfa, sendo também um dos fundadores e sócios da Fábrica de Quadrinhos. E Mike Deodato, um paraibano apaixonado por sua terra, que demonstrou muito bem seu amor pela Paraíba ao fazer “A História da Paraíba” em quadrinhos. Desenhando posteriormente Thor, Mulher Maravilha, Os Vingadores, Hulk, da DC Comics.

Com esses exemplos, percebe-se que hoje as histórias são mais importantes que as imagens. Os autores das HQs tem a chance de conquistar o leitor com calma, não precisa de heróis exagerados para cativar seu público. Público esse que a partir dos anos 1970 já incentivava seus filhos a lerem HQs. Esses filhos são hoje pessoas que estão na faixa dos 40 anos, são financeiramente independentes, movimentam um mercado de leitores que é formado por quem gosta do gênero e exige cada vez mais algo sofisticado.

Então a frase “coisa de menino” foi totalmente extinta e abriu espaço para o reconhecimento das HQs e seus criadores. Infelizmente a diversidade de público ainda não chegou ao Brasil com tanta força quanto em outros países, mesmo tendo ótimos autores e desenhistas, como além dos já citados, possuímos os goianos Fábio Yabu, criador do Combo Rangers, Christie Queiroz, que faz o Cabeça Oca e Anísio Serrazul desenhista dos Guerreiros da Tempestade. No entanto, só se reconhecem Disney e Maurício de Souza como autoridades em desenhos e HQs, os outros autores vão para países onde são melhores remunerados e reconhecidos por sua arte, o que é uma perda para o Brasil.
 

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