terça-feira, 7 de agosto de 2012

Trajetória de um campeão paraesportivo

Pode parecer estranho para alguns, mas foi somente depois da amputação da perna direita que Robson descobriu seu potencial esportivo, que o levou a lugares e a competições nunca antes imaginados
O protesista e estudante de fisioterapia Robson Limiro Gonçalves usa prótese de membro inferior direito desde 1992, quando sofreu um acidente de moto aos 22 anos e teve que se submeter a
uma amputação tibial (abaixo do joelho). Depois disso, Robson passou a integrar equipes paradesportivas e se tornou um dos destaques nacionais na área de atletismo e, atualmente, de futebol.
Dito assim parece simples, mas Robson teve que superar vários obstáculos até chegar a esta posição.

Segundo ele, logo depois do acidente, a dificuldade inicial foi quanto à aquisição da prótese,
que é um produto caro e na época não contava com apoio de programas governamentais de doação de próteses como os que existem hoje. Robson conta que teve que promover rifas e contar com o apoio de familiares e amigos para adquirir o equipamento. Em seguida, veio a dificuldade de adaptação.
“No início machucava bastante e chegava a sangrar, porque era uma prótese bem simples, com pouca tecnologia. A reabilitação, para eu conseguir andar sem muleta foi em torno de três meses”, detalha.

Mas ele foi se adaptando e as próteses foram evoluindo. Depois de retomar o trabalho, como sempre gostou de esportes, decidiu participar da Caminhada Ecológica, feita todos os anos para Aruanã no mês de julho, tendo participado das edições de 1996 e 1997. Depois começou a se envolver em corridas, e para isso precisava de próteses mais modernas, específicas para corrida, que, de acordo com ele, são aquelas lâminas de fibra de carbono. Tendo conseguido a prótese, passou a participar de vários campeonatos brasileiros paraesportivos, quando conseguiu a pontuação necessária para integrar o mundial de para-atletismo na Inglaterra, em 1998, quando ficou em oitavo lugar. “Depois tentei conseguir o índice para ir às Paraolímpiadas de 2000, mas não consegui, o que me fez parar
com o atletismo, até porque a idade já havia chegado , e passei a praticar futebol, para o qual não se utiliza a prótese, só a muleta”, comenta.

Foi assim que passou a integrar a equipe goiana de futebol no ano 2000, quando o grupo obtinha apenas os 3º e 4º lugares no Campeonato Brasileiro de Futebol para Amputados. Desde 2008,
há três competições consecutivas, que são bienais, a equipe goiana tem sido campeã. Para Robson, a mudança inevitável que se tem ao perder um membro pode ser positiva ou negativa, o que vai depender exclusivamente do amputado. Para ele, sua vida mudou para melhor em diversos os aspectos. Primeiro no profissional, já que na época do acidente ele era protesista dentário e quando retornou à labuta diária decidiu abrir uma loja de jogos eletrônicos e uma sorveteria, quando obteve um bom rendimento.

MUDAN ÇA DE VIDA
Em 1999 teve a oportunidade de entrar para o ramo da ortopedia, que foi quando se tornou protesista de membros. “Meu trabalho permite que eu faça a minha prótese e, quando faço para um cliente uma prótese tibial, avalio como se fosse eu que fosse utilizá-la, porque consigo analisar todos os detalhes que ele pode enfrentar. E quando são outros níveis de amputação ou outros membros amputados, eu não sei, mas tenho uma proximidade para saber o que a pessoa anseia quando vai pegar a prótese”, avalia. A outra mudança foi no aspecto esportivo, que até então era praticado por ele apenas como forma de lazer e, com a amputação, passou a competir.

“Se não fosse o acidente eu teria continuado com minha vida comum e não teria, por exemplo, saído do país para competir fora. Além da Inglaterra, já fui para a Argentina, onde participei do campeonato mundial de futebol de amputados, e já viajei bastante pelo Brasil, Sul e Sudeste, tudo com o paradesporto”, comemora. E esse histórico esportivo garantiu a ele uma bolsa integral para cursar fisioterapia na Estácio de Sá, onde está no quinto período.

Robson diz ainda que a amputação não o impediu de ter uma vida social e amorosa. Prova disso é que se casou e teve duas filhas, Renata e Fernanda. Divorciou-se e agora vive junto com a segunda mulher, com quem tem a filha Ana Beatriz. “Uma vez numa palestra numa faculdade um rapaz me perguntou ‘então, se sua vida melhorou tanto, você escolheria ser amputado’. Com certeza não, porque não é possível saber o futuro que nos aguarda, mas dizer ‘como eu lamento, se eu não tivesse perdido minha perna eu seria uma pessoa bem melhor’, pelo contrário, computando tudo, eu não
tive perda, só tive ganho”, conclui.

Revista Ortopedia em Goiás, agosto de 2012.

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