segunda-feira, 23 de julho de 2012

Diabéticos devem redobrar os cuidados se tiverem doenças cardiovasculares

A placa coronariana no diabético é bem mais instável, mas suscetível à ruptura, à formação de trombo, de necrose ou a uma oclusão aguda do vaso

Indivíduos com diabetes devem ficar atentos às doenças cardiovasculares, pois a incidência costuma ser alta e podem levar à morte, caso não haja cuidados necessários. Segundo o endocrinologista Domingos Malerbi, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Diabetes, a doença vascular possui como característica principal a placa arteriosclerótica, responsável pela oclusão do vaso.
Nos diabéticos, as complicações ocorrem com mais intensidade e frequência. Domingos explica que a placa coronariana no diabético é  mais instável, mais suscetível à ruptura, à formação de trombo, de necrose ou a uma oclusão aguda do vaso. “No indivíduo diabético tem-se a influência da neuropatia na regulação do fluxo, influência da nutrição dessa placa, que é bem mais ágil no diabético, o que acarreta uma maior fragilidade da placa, com maior probabilidade dela romper e causar um evento vascular”, detalha.

O endocrinologista diz que para evitar as microangiopatias, como a retinopatia ou nefropatia, é preciso determinados graus de controle que são definidos pela hemoglobina glicada ou glicosilada. “Há um consenso na literatura de que valores abaixo de 7 de hemoglobina glicosilada conseguem fazer a prevenção de microangiopatias”, afirma. Já para as macroangiopatias foi demonstrado que mesmo tratando precocemente com tratamento mais agressivo e reduzindo essa hemoglobina glicada para 7, não se consegue prevenir com tanta facilidade as doenças cardiovasculares.

Domingos destaca que já foram feitas tentativas de tratar indivíduos com níveis mais baixos de hemoglobina glicada ao longo tempo. “Se o indivíduo tem uma doença cardiovascular instalada, o tratamento mais agressivo é capaz de aumentar a mortalidade. Aumenta porque para conseguir um grau de controle mais adequado com níveis de hemoglobina glicada mais baixos, automaticamente acarreta em um tratamento que possui uma incidência maior de hipoglicemia. Hipoglicemia em um doente vascular acaba sendo mais deletéria do que em um nível moderado de hiperglicemia”, esclarece.

No caso de pacientes com diabetes recém-instalado, inclusive na fase pré-diabetes, há possibilidade de se prevenir, se for mais agressivo no tratamento e usar metas mais baixas de hemoglobina glicada. Domingos diz que a prevenção é por meio de trocas hipoglicêmicas, e não centrado só na glicemia, porque, geralmente, esses pacientes possuem outros fatores de risco como hipertensão arterial, obesidade, dislipidemia, sedentarismo.

Atualização
A prevenção da doença cardiovascular em diabetes tipo 2 envolve uma série de parâmetros que vão além do controle da glicemia. “É bem mais eficaz se a prevenção for precoce. E deve ser atendida com metas mais rígidas em todos os parâmetros do que no indivíduo não diabético ou no indivíduo com diabetes de longa duração”, orienta o especialista.

Domingos adverte que se deve prestar atenção nas metas de tratamento que estão sendo mudadas no mundo. Várias sociedades têm publicado consensos, alterando metas de hemoglobina glicosilada em função do tempo de diabetes do paciente, em função da faixa etária do paciente, das comorbidades, da presença de outras doenças, como as cardiovasculares. Segundo o médico, não existe uma hemoglobina glicada que pode ser adotada para todos os indivíduos com diabetes. De acordo com o perfil clínico do paciente é que será estabelecida uma meta de controle. “Será um equilíbrio da prevenção da doença microvascular e macrovascular. A incidência de complicações, principalmente do lado macrovascular, causadas por hipoglicemia, é mais alta se o tratamento for mais intensivo”, reforça.

De acordo com Domingos, o endocrinologista possui uma visão mais global do problema porque não adota só a visão macrovascular e com isso consegue uma maior prevenção por meio do tratamento precoce dessas doenças cardiovasculares. “O ideal é que o endocrinologista aborde os casos antes de acontecer a doença e de uma forma um pouco mais ampla olhando todas as complicações possíveis que um diabético possa ter”, pontua.


Revista Diabetes em Goiás, julho de 2012.

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