segunda-feira, 23 de julho de 2012

Cirurgia de redução de estômago pode curar diabetes tipo 2


SÉRGIO VÊNCIO diz que no bypass gástrico, a chance de melhorar o diabetes em pacientes usuários de insulina ou que tenham mais de nove anos de doença é baixíssimo

Técnicas de cirurgia bariátrica têm se mostrado eficientes na cura da doença, que atinge cerca de 20% da população mundial

A cirurgia bariátrica e metabólica tem sido amplamente estudada no mundo inteiro para tratamento de diabetes tipo 2. “Grandes estudos prospectivos mostram resolução do diabetes e doenças associadas em até 98% dos pacientes, dependendo da técnica utilizada”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, regional Goiás (SBEM-GO), Sérgio Vêncio. “Técnicas mais simples promovem uma resolução menor. Técnicas mais complexas ou que causam maior desnutrição, induzem um percentual maior de melhora, porém com mais efeitos danosos à saúde”, ressalva.

As indicações aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina são para pacientes com diabetes tipo 2 e índice de massa corporal acima de 35 kg/m2. Pesquisas publicadas em março de 2012 no New England Journal of Medicine confirmam a tese de que a operação de redução de estômago é eficaz no tratamento da doença. De acordo com os estudos, pessoas submetidas à intervenção têm chances maiores de experimentarem a remissão da doença – quando a tolerância à glicose e os níveis de açúcar no sangue voltam ao normal – do que as que optam pela terapia tradicional. Também foram notadas melhoras na pressão sanguínea e nos níveis de colesterol.

A conclusão foi baseada em dois levantamentos, realizados na Universidade Católica, em Roma, na Itália, e na Cleveland Clinic, nos Estados Unidos. Ambos os trabalhos compararam a evolução dos quadros de pacientes que sofreram a cirurgia com o dos que aliaram restrições na dieta e prática de exercícios físicos ao uso de medicações. Entre os italianos, as taxas de remissão chegaram a 75% no grupo cirúrgico. Não houve nenhum registro de regressão dos sinais da patologia naqueles que não foram operados. Já no trabalho americano, os índices foram, respectivamente, de 42% e 12%.

Vêncio informa que a Sociedade Brasileira de Diabetes permite a indicação em pacientes com IMC (Índice de Massa Corporal) entre 30 e 35 e que apresentem grande dificuldade de controle glicêmico. “O uso do IMC para indicar uma cirurgia tem sido amplamente discutido, ele ainda é a ferramenta usada, mas acredito que no futuro outros fatores têm de ser levados em conta, criando-se um escore de risco, como doenças associadas, reserva pancreática, grau de resistência insulínica, peso, tempo de diabetes, etc”, salienta, lembrando que, no caso do bypass gástrico, a chance de melhorar o diabetes em pacientes usuários de insulina ou que tenham mais de nove anos de doença é baixíssimo.

“Qualquer melhora no peso induz maior controle glicêmico, pressórico e lipêmico”, frisa o médico. De acordo com ele, estudos têm mostrado que algumas cirurgias têm sua ação completamente centrada na perda de peso, como no caso do bypass gástrico e banda gástrica, e outras técnicas induzem remissão do diabetes e doenças associadas por mecanismos independentes da perda do peso, como a duodenal switch e sua variação sem desnutrição, a interposição ileal.

Sérgio Vêncio alerta para o fato de que existe um movimento entre os especialistas que tenta realizar técnicas feitas para obesos mórbidos em pacientes com obesidade leve. “Vale lembrar que na técnica mais realizada no mundo, o bypass gástrico, 40% dos pacientes voltam a ter diabetes, 40% podem ter distúrbios graves como alcoolismo e 40% voltam a ganhar peso”, avisa. Segundo ele, o Brasil tem liderado o avanço de novas técnicas e ele acredita que isso contribuirá e muito para que a cirurgia bariátrica se torne mais uma ferramenta no arsenal terapêutico do endocrinologista. “Porém o que observamos com temor é que a necessária avaliação aprofundada e detalhada do paciente com diabetes tipo 2 não tem sido feita na maioria dos casos”, contrapõe.

O presidente da SBEM-GO reitera ainda que, qualquer pessoa que se candidata a realizar essa cirurgia para tratamento do diabetes e doenças associadas, deve ser analisada criteriosamente para afastar falência pancreática, diabetes tipo LADA (diabetes latente autoimune do adulto), e outras contraindicações para a cirurgia, como casos graves de neuropatia, que também devem ser avaliados com bastante critério.

PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA CIRURGIA
Entre os pontos positivos da cirurgia bariátrica, o endocrinologista destaca o fato dela envolver mecanismos diferentes para o tratamento da doença. “O diabetes é uma doença grave, causada por várias alterações metabólicas, que coexistem e fazem com que a doença progrida rapidamente. A cirurgia bariátrica e metabólica tem se mostrado eficaz na resolução do diabetes e na diminuição da mortalidade nesses pacientes”, destaca.

Um dos pontos ativados pela cirurgia é o GLP-1, que, entre outras funções, estimula a produção de insulina pelo pâncreas. “No entanto, deve-se deixar claro que a melhora não tem nenhuma relação com a redução do peso e do percentual de gordura do paciente já que os níveis de glicose se normalizam antes de tais mudanças poderem ser observadas, diz o especialista, que enumera outros benefícios do procedimento. “Influi positivamente no controle da hipertensão arterial, da apneia do sono e da infertilidade”, exemplifica.

O ponto negativo, segundo ele, é que cada cirurgia atua de uma forma e algumas são ineficazes para o diabetes, dependendo do estágio da doença, e não devem ser realizadas. “Além disso, técnicas que induzem desabsorção ou desnutrição através do desvio (bypass) intestinal causam sérias sequelas. O candidato à cirurgia deve entender que a cirurgia não o exime do acompanhamento frequente com o endocrinologista”, salienta.



Revista Diabetes em Goiás, julho de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário