sexta-feira, 8 de junho de 2012

Prevenção do câncer está diretamente ligada à alimentação

Diversos estudos têm demonstrado a relação uma dieta rica em gordura e baixa em fibras ao surgimento de diversos tipos de cânceres. O endocrinologista José Antônio César da Silva detalha o que a medicina já sabe sobre este assunto



A alimentação do paciente com câncer deve ser uma dieta equilibrada, balanceada e compatível com seu estado clínico, inclusive com a via de administração estabelecida, podendo ser por via oral, ou por meio de sonda naso-gástrica ou ainda a venosa. Quem explica é o endocrinologista José Antônio César da Silva, pós-graduado em Endocrinologia e especialista em Nutrologia e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. “Deve sempre se levar em conta as necessidades e as possibilidades do paciente”, frisa.

Ele esclarece ainda que, não é pelo fato de a pessoa estar com câncer que o médico dará a ela um maior aporte calórico, e que, muitas vezes, é preciso restringir o uso de alimentos para beneficiar  o tratamento e por conseguinte conseguir o bem estar físico do paciente. Em todo o caso, José Antônio diz que o ideal é que os nutrientes a serem ingeridos contenham as propriedades nutrológicas recomendáveis para cada caso específico. “A boa alimentação é aquela palatável e ao mesmo tempo executada de modo à propiciar um bom aporte calórico para o paciente, assim poderemos, ao examinarmos o paciente detectarmos suas preferências alimentares, elaborando uma dieta que o agrade, respeitando as somatórias de equilíbrio entre o possível e o necessário para o seu pronto restabelecimento, tanto quando este estiver internado e no seu dia a dia quando estiver em sua residência”, resume.

No entanto, José Antônio diz que alguns alimentos devem ser evitados, principalmente aqueles ricos em gorduras, tais como carnes vermelhas, frituras, molhos com maionese, leite integral e derivados, bacon, presuntos, salsichas, linguiças, mortadelas e outros processados e embutidos. “Devido aos nitritos e nitratos presentes nestes alimentos, que são conservantes. Uma vez no organismo se transformam em nitrosaminas, que têm ação carcinogênica potente e são responsáveis pelos altos índices de câncer de estômago observados em populações que consomem alimentos com estas características de forma abundante e frequente”, ressalta, lembrando que os alimentos defumados e os churrascos são impregnados pelo alcatrão, proveniente da fumaça do carvão, o mesmo encontrado na fumaça do cigarro e que tem ação carcinogênica conhecida.

GORDURA E CÂNCER DE MAMA
Segundo ele, no Brasil, os tumores que se relacionam aos hábitos alimentares estão entre as seis primeiras causas de mortalidade por câncer, já que o consumo de alimentos que contêm fatores de proteção está abaixo do recomendado em diversas regiões do país. “De acordo com uma pesquisa do Ministério da Saúde, que em 2010 entrevistou 54.367 pessoas, o padrão alimentar no país mudou para pior. Apesar de consumir mais frutas e verduras, o brasileiro continua a comer bastante carne gordurosa – 1 em cada 3 entrevistados – e tem optado por alimentos práticos, como comidas semiprontas, que são menos nutritivas”, relata. José Antônio comenta que o consumo de gorduras é mais elevado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde ocorrem as maiores incidências de câncer de mama no país.

Outro problema elencado pelo médico é a baixa ingestão de fibras, que leva a uma alta incidência de câncer de cólon e reto. Uma das razões para isto, de acordo com o endocrinologista, é que o feijão, alimento rico em ferro e fibras, que tradicionalmente acompanhava o arroz, perdeu espaço na mesa dos brasileiros. “Em 2006, 71,9% da população revelava comer o grão ao menos cinco vezes na semana. Em 2010, a média caiu para 65,8%. A queda na média nacional pode ser atribuída às mudanças na dinâmica da família brasileira, que tem tido cada vez menos tempo de preparar comida em casa e o feijão tem preparo demorado”, considera o médico, complementando que, para agravar o quadro, as pessoas têm se exercitado menos.

Outro dado negativo comentado pelo médico diz respeito aos refrigerantes e sucos artificiais, que têm alta concentração de açúcar e têm ganhado espaço na preferência dos brasileiros. “Ao todo, 76% dos adultos bebem esses produtos pelo menos uma vez por semana e 27,9%, cinco vezes ou mais na semana. O consumo quase que diário aumentou 13,4% em um ano. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a popularidade dos refrigerantes é ainda maior: 42,1% tomam refrigerantes quase todos os dias. Apesar de o mercado oferecer cada vez mais versões com menos açúcar, como os diet e os light , somente 15% dos brasileiros optam por eles”, detalha o endocrinologista. “Os jovens também preferem alimentos como hambúrguer, cachorro-quente, batata frita que incluem a maioria dos fatores de risco alimentares acima relacionados e que praticamente não apresentam nenhum fator protetor. Essa tendência se observa não só nos hábitos alimentares das classes sociais mais abastadas, mas também nas menos favorecidas”, completa. 

ALIMENTOS SAUDÁVEIS
Já o  consumo de alimentos ricos em fatores de proteção, tais como frutas, verduras, legumes e cereais, tem aumentado, mas ainda é baixo, lamenta José Antônio. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, 30,4% da população com mais de 18 anos comem frutas e hortaliças cinco ou mais vezes na semana. Entre os entrevistados, 18,9% disseram consumir cinco porções diárias (cerca de 400 gramas) desses alimentos, mais do que o dobro do percentual registrado em 2006.

Outro vilão que também age a favor do aparecimento do câncer é o uso de agrotóxicos, conforme o médico. Ele relembra que os agrotóxicos não são recentes na agricultura mundial e que sempre foram utilizados para evitar o proliferação de pragas que antigamente destruíam lavouras inteiras e que esses venenos poderosos prejudicam não só os que consomem os alimentos com altos teores de agrotóxicos,  mas ainda em maior grau aos que lidam diretamente com o produto no campo. “A maioria são pessoas humildes desprovidas de conhecimentos maiores quanto ao risco de contaminação. A leucemia é o principal tipo de câncer associado ao uso de agrotóxicos. Dado alarmante é o que afirma que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo com mais de mil produtos químicos sendo comercializados em território brasileiro e em alguns casos com redução fiscal, o que incentiva ainda mais seu uso indiscriminado”, critica.

Por todos estes fatores, o endocrinologista lembra que algumas mudanças nos hábitos alimentares podem ajudar a reduzir os riscos de desenvolvimento de câncer. “A adoção de uma alimentação saudável contribui não só para a prevenção do câncer, mas também de doenças cardíacas, obesidade e outras enfermidades crônicas como diabetes”, informa. Assim, José Antônio ressalta os benefícios trazidos pelas frutas, verduras, legumes e cereais integrais, que contêm nutrientes, tais como vitaminas, fibras e outros compostos, que auxiliam as defesas naturais do corpo a destruírem os carcinógenos antes que eles causem sérios danos às células. “Esses tipos de alimentos também podem bloquear ou reverter os estágios iniciais do processo de carcinogênese e, portanto, devem ser consumidos com frequência”, orienta.



O médico diz ainda que já está mais que comprovado que uma alimentação rica nesses alimentos ajuda a diminuir o risco de câncer de pulmão, cólon e reto, estômago, boca, faringe e esôfago e que há pesquisas que mostram a probabilidade de eles reduzirem também o risco de câncer de mama, bexiga, laringe e pâncreas, assim como o de ovário, endométrio, colo de útero, tireoide, fígado, próstata e rim. 
”As fibras, apesar de não serem digeridas pelo organismo, ajudam a regularizar o funcionamento do intestino, reduzindo o tempo de contato de substâncias cancerígenas com a parede do intestino grosso”, destaca.

Outro ponto criticado por José Antônio é a tendência cada vez maior da ingestão de vitaminas em comprimidos, o que não substitui uma boa alimentação. “Os nutrientes protetores só funcionam quando consumidos por meio dos alimentos, o uso de vitaminas e outros nutrientes isolados na forma de suplementos não é recomendável para prevenção do câncer.
A alimentação saudável somente funcionará como fator protetor, quando adotada constantemente, no decorrer da vida. Neste aspecto devem ser valorizados e incentivados antigos hábitos alimentares do brasileiro, como o uso do arroz com feijão”, frisa.

Assim, estabelece o endocrinologista, uma alimentação equilibrada e balanceada contribui e muito na melhora do estado de saúde de toda e qualquer pessoa e principalmente nos portadores de câncer. Por esta razão, ele recomenda aos centros de tratamento de câncer que tenham sempre uma boa equipe multidisciplinar que atue de modo integrada somando esforços para melhorar a ingesta de alimentos ditos funcionais para agirem como "medicação" para tratamento do câncer.
”Precisamos lutar sempre por uma maior conscientização do que é uma alimentação saudável, que ajude na melhor qualidade de vida das pessoas. Os meios de comunicação, como a Revista Vida Nova, que traz informações sérias prestadas por profissionais comprometidos com a melhora da qualidade de vida dos pacientes com câncer, estão efetivamente contribuindo com esse importante setor da saúde que é a oncologia, desmistificando-o e humanizando o tratamento e a recuperação do paciente, ao mesmo tempo abordando medidas de prevenção, tornando o conhecimento e a informação a mais importante arma na luta que se trava à favor da vida e da saúde das pessoas”, conclui.

OBESIDADE TAMBÉM É UM  INIMIGO
O endocrinologista José Antônio alerta que, desde a infância até a idade adulta, o ganho de peso e aumentos na circunferência da cintura devem ser evitados. O índice de massa corporal (IMC) do adulto (20 a 60 anos) deve estar entre 18,5 e 24,9 kg/m2. O IMC entre 25 e 29,9 indica sobrepeso. Com IMC acima de 30 a pessoa é considerada obesa. O IMC é calculado dividindo-se o peso (em kg) pela altura ao quadrado (em m).

Revista Vida Nova




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