quarta-feira, 25 de abril de 2012

A arte de conciliar funções sublimes

Maternidade e sucesso profissional. Quem tem filhos sabe que as duas coisas muitas vezes parecem incompatíveis. Mas duas juízas provam, mais uma vez, a versatilidade inerente às mulheres

SARA DAVI SOUSA : “Maternidade para mim é tudo”

SA MARA MOREIRA DE SOUSA com JOÃO PEDRO e
MARIA TEREZA : “Para mim, a maternidade nunca foi
obstáculo para que eu exercesse a minha função de juíza”


Elas fazem parte daquele grupo de mulheres que se empenham em obter o melhor da vida, tanto no campo profissional, quanto no pessoal. E é claro que conseguem. Mesmo que tenham de fazer malabarismos para conciliar o excesso de atividades que as duas facetas da vida impõem. No
entanto, a receita é simples: amor e bastante responsabilidade. “É difícil, viu! E hoje está bem mais fácil do que foi há um tempo atrás. Quando meu primeiro filho nasceu eu tinha que viajar muito porque era juíza volante e muitas vezes eu tive que sair de casa e deixar o meu bebê de oito
meses em casa e ir trabalhar durante três dias no interior”, conta a juíza do trabalho Samara Moreira de Sousa, auxiliar fixa da 12ª VT e mãe de João Pedro, 4 anos, e Maria Tereza, 2 anos. “Desde que minhas filhas nasceram é uma batalha diária. A princípio eu tive seis meses de licença maternidade e mais dois de férias, depois voltei a trabalhar.

Desde então, a rotina é um tanto quanto árdua e exige organização e muita ajuda, tanto do meu marido, quanto das babás. Tenho duas babás durante o dia e uma à noite e mesmo assim é uma correria”, declara a também juíza do Trabalho Sara Davi Sousa, mãe das trigêmeas Luisa,
Isabela e Sofia, de 1 ano e meio. E Sara ainda desenvolve outra atividade que é acordar
às 5h da manhã, cinco vezes por semana, para correr. Faz um percurso diário de 10 a 15 quilômetros, já participou de algumas meia maratonas, e está planejando participar da Maratona de Berlim, no dia 30 de setembro. Perguntada pela reportagem sobre sua classificação, a juíza é modesta. “Não,
na verdade, para mim, terminar a prova já é uma realização.

Não tenho pretensão de colocação”, argumenta. “Sempre falo que a vida é administração mesmo, a gente corre com os filhos, corre com a família, corre com o trabalho, organiza tudo e o que me dá bateria para dar conta de tudo é o esporte”, complementa. As mães da atualidade sabem que não anda nada fácil conseguir alguém que cuide de criança com dedicação. Ainda mais quando são três. Mas Sara considera que teve sorte, já que conseguiu três babás por indicação de amigas e tem
dado certo. “Tem uma babá que está comigo desde quando as crianças nasceram e as outras duas desde quando elas fizeram dois meses. As crianças estão totalmente adaptadas, têm um convívio muito bom com elas”, destaca.

Já Samara conta com o auxílio de sua mãe, que sempre morou com ela. Além disso, João Pedro e Maria Tereza já vão para o colégio pela manhã. Ela se recorda que, por diversas vezes em que viajou para o interior, antes de se tornar juíza fixa da 12ª Vara do TRT, pôde levar o filho mais velho
para cidades em que ia mais com mais frequência, como Itumbiara, Rio Verde, Ceres, São Luís dos Montes Belos, onde mantinha relações de amizade com os servidores e com os diretores da vara. “Outras vezes eu não levava, mas ficava chorosa, sentimental, porque as viagens demoravam três dias, geralmente. Hoje que estou na capital está mais fácil, porque eu sei que uma hora eu volto para casa e isso me deixa mais feliz”, relata. “Não que eu não fosse antes, mas agora sei que, na pior das hipóteses, vou vê-los pelo menos dormindo. A minha segunda filha pegou uma fase mais sossegada, o João Pedro sofreu um pouquinho comigo”, lamenta.

No caso de Sara, embora ela ainda atue como juíza volante, as condições de trabalho facilitaram o doce ofício de mãe, já que ela nunca teve que se deslocar para o interior. “Uma semana eu trabalho aqui, faço dezessete audiências por dia, e na outra semana eu fico dedicada a sentenciar. Mas trabalho todos os dias”, detalha. Entretanto, ela diz que, mesmo sabendo que as filhas estão seguras e bem cuidadas pelas babás, se preocupa sempre em saber como elas estão entre uma audiência e outra.

O mesmo acontecia com Samara, quando tinha que deixar João Pedro com avó. “Eu sabia que ele estava sendo bem cuidado, porque minha mãe estava com ele, tinha todo o tempo para ele. Mas a viagem era tormentosa”, analisa. No entanto, ela nunca deixou que esta preocupação interferisse em seu trabalho. “Querendo ou não eu ficava envolvida com os problemas das pessoas que estavam
procurando auxílio. Eu sempre brinco com as pessoas que trabalham comigo que quando eu entro na sala de audiência deixo a mala de problemas na porta e na hora que eu saio eu pego de volta”, se diverte. “Quando estou na sala de audiência, não levo meus problemas pessoais comigo, por mais dolorosos que sejam, porque nossa função é dar um pouco de luz, tentar acalmar o sofrimento
daqueles que estão lá buscando alguma solução. Às vezes uma palavra basta. E a ajuda da minha mãe é essencial, se não fosse a ajuda dela, a mala de problemas provavelmente não ficaria de fora da sala de audiência”.

Determinação
As duas juízas, que são amigas – inclusive, Sara é madrinha de João Pedro – têm mais um ponto em
comum: vêm de outros Estados e tinham consciência de que precisariam de determinação para obter sucesso profissional. “Eu sabia que teria que enfrentar uma situação no trabalho um pouco mais dura, mas desde que vim para cá encarei tudo com muita firmeza”, diz Samara, que veio de Terezina, capital do Piauí. “Para mim, a maternidade nunca foi obstáculo para que eu exercesse a minha função
de juíza volante. Sou auxiliar fixa há apenas quatros meses.

Mas depois de um tempo como juíza volante passei a ficar apenas aqui”. Sara, que é mineira de Uberlândia, atuou como juíza em seu Estado natal por quatro anos e meio e em março de 2010 pediu remoção para Goiás porque seu marido, o advogado Élcio Berquó, é goiano. Grávida, ela
continuou a trabalhar até o 5º mês de gestação por necessitar de repouso por indicação médica.
 
E para ambas, a maternidade representa o que há de mais sublime na existência humana. “Antes de me tornar mãe, eu encarava todas as cidades como sendo longe, tudo era problema, mas depois, todas as designações que me davam, eu achava simples, afinal de contas eu tinha uma razão maior para fazer tudo aquilo, tudo ficou mais claro, nada mais é difícil”, afirma Samara. “Maternidade para mim é tudo. Representou para mim saber o que é o amor verdadeiro, porque acho que só sendo mãe a gente consegue sentir um amor tão forte. É uma dádiva divina e eu fui triplamente abençoada. Não tem outra forma de definir minhas filhas: elas são tudo de bom, a razão da minha vida”, estabelece Sara.

E ser juíza? “É minha realização pessoal, profissional, porque era um sonho também e eu me sinto realizada profissionalmente nessa função. Me sinto útil, capaz de ajudar alguém”, avalia Sara. “É tudo o que eu quis na vida, desde a faculdade era o que eu queria. Não me vejo fazendo qualquer outra coisa na vida que não seja ser mãe e juíza. Sinceramente!”, finaliza Samara.

Jornal da AMATRA18, março de 2012.

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