Mauro Borges foi o primeiro governador goiano a pensar em planejamento na administração pública, numa época em que nem se falava no assunto. Ele deixou esta e outras marcas na política goiana
Mauro Borges |
Pedro Ludovico teve o mérito de fundar Goiânia, enfrentando as oligarquias da época e transferindo a capital do Estado; Mauro Borges, eleito governador em 1960, criou um plano administrativo que ficou conhecido como Plano MB e que promoveu uma verdadeira revolução no Estado. “Ambos lançaram as raízes do Goiás moderno que vemos hoje, tudo que foi conquistado foi fruto de muita dedicação para que Goiás pudesse desfrutar de toda essa pujança e modernidade”, considera Rodrigo.
Infelizmente, Mauro Borges foi afastado de seu cargo em 1966 pelos militares que tinham tomado o poder e só foi retornar ao cenário político em 1979, quando foi eleito presidente regional do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e, em 1982 foi eleito senador pelo PMDB e em 1990 novamente deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC).
Rodrigo conta que tinha pouco mais de vinte anos quando seu avô faleceu e que pôde comprovar que Pedro e Mauro, que era o primogênito, fizeram valer a relação pai e filho na política também. “Meu avô era um político nato, uma pessoa que conhecia profundamente a alma humana, que estava sempre envolvido com as questões políticas partidárias. Vejo meu pai mais como um administrador, uma pessoa que colocou em prática tudo que estudou. Ele tinha uma visão inovadora da política”, declara.
Um dos exemplos de seus feitos visionários foi a criação da Secretaria de Planejamento, numa época em que o Brasil ainda não tinha nem Ministério do Planejamento. “As pessoas não tinham essa visão da importância do planejamento, mas ele já tinha isso pronto na cabeça e colocou em prática”, analisa. “O exército moldou muito esse caráter administrativo. Ele é um realizador. Quando meu pai foi governador, meu avô já tinha grande poder na política o que facilitou. Meu avô ia cuidando da parte política e meu pai da parte administrativa. Foi um casamento perfeito e Goiás precisava desse time”, complementa. No do Plano MB, como era chamado seu projeto para integrar o Estado no cenário econômico nacional, Mauro Borges realizou também a conclusão do Aeroporto Santa Genoveva, da Usina Rochedo, da Usina de Cachoeira Dourada e promoveu a ampliação e reestruturação da Celg.
Campanha da Legalidade
Um capítulo a parte na gestão de Mauro Borges enquanto governador, foi sua participação ativa na Campanha da Legalidade, juntamente com o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. O movimento tinha por fim defender a posse do vice-presidente João Goulart, tendo em vista a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961. Alguns militares de alta patente e parte da sociedade brasileira eram contra a posse de João Goulart por considerá-lo aliado dos comunistas. Na ocasião da renúncia de Jânio, o seu vice estava em visita oficial à China, país comunista, fato que reforçou a tese dos favoráveis ao golpe.
O apoio de Mauro Borges chegou a transformar o Palácio das Esmeraldas em um quartel-general dos legalistas, utilizando a Rádio Brasil Central como difusora do movimento, na chamada rede da legalidade. Tal posicionamento criou atritos com as Forças Armadas, que mandou aviões da FAB sobrevoarem a capital goiana como forma de intimidação, a ameaça da invasão de Goiânia pelos militares chegou a causar pavor na população goianiense, tendo o governador cogitado a criar uma resistência armada, o que felizmente não foi necessário.
Teia familiar
O caçula Rodrigo comenta que nos primeiros anos de sua vida ele não teve um pai muito presente. “Realmente era impossível fazer tudo. Era militar, depois se engajou na política, estava passando por um momento de grande dinamismo em sua vida”. No entanto, no auge da atividade política, Mauro foi caçado pelo regime militar e aí Rodrigo cita o antigo ditado de “há males que vêm para o bem”. “Foi a época que nós pudemos nos aproximar mais, tê-lo junto com minha mãe, Lourdes. Eles foram morar na fazenda e eu e meus irmãos fomos morar em Brasília para estudar, mas estávamos sempre juntos. As lembranças que temos desta época são muito boas porque estávamos bem unidos”, frisa. “Acho que eu tenho o temperamento parecido com meu pai, nós gostamos de esporte, ar livre, natureza, e nos identificando bastante. Sempre fizemos diversos programas juntos e tudo isso estreita laços”, declara.
Ele assegura que a educação passada por seu pai, sempre em concordância com sua mãe, é a mesma que tenta transmitir aos seus filhos. “Sobretudo na questão de valores, caráter e ética, o que ele nos ensinou nos marcou muito, porque ele deu muitas demonstrações de tudo o que falava. Entre momentos fáceis e difíceis, tivemos sempre juntos. Sempre tivemos uma família unida, com laços. A casa estava sempre cheia, com todos participando”, afirma.
Nessa torrente de boas lembranças, Rodrigo comenta que as lembranças que guarda de seu avô não são de aventuras políticas, mas sim de um velhinho muito simpático, sempre disposto a conversar. “Ele era firme conosco, nunca foi de adular, passar a mão na cabeça, mas era espirituoso, gostava de conversar, de ouvir o que nós tínhamos para falar”, relembra.
Ele conta que Pedro e Gercina ainda moravam na casa onde hoje é o museu Pedro Ludovico Teixeira e era lá que se reunia toda a família. “As festas de Natal eram sempre com ele. Curtíamos muito a família. Tanto meu avô quanto meu pai nunca foram pessoas que achavam que dinheiro era algo fundamental para viver bem. Eram pessoas que levavam uma vida normal, sem exageros ou excessos, mas sempre familiar. Nunca vi bailes de gala. Não era nem usual naquela época. Goiás inteiro era discreto, modesto. E fomos criados nesse ambiente. Éramos uma família normal, como qualquer outra. Claro que tinha a política que permeava tudo, pois não há como separar, mas fora isso era uma vida familiar”, conceitualiza.
Outro ponto importante desta teia familiar é a participação de sua avó, dona Gercina, e sua mãe, dona Lourdes, que, segundo Rodrigo, sempre tinham voz ativa nas questões familiares e políticas. Assim, de acordo com ele, na época da construção de Goiânia, faltando dinheiro, inúmeras dificuldades e seu avô lutando para enfrentar os problemas, dona Gercina disse: “Pedro, você cuida de Goiânia e a pobreza deixa comigo”. “Minha avó ajudou a erguer a Santa Casa e outros. Tanto na vida do Pedro Ludovico como na do Mauro Borges, ter mulheres que desempenharam um papel dessa forma dava tranquilidade para eles exercerem seus mandatos. Todas elas tiveram uma participação fundamental na vida dos maridos”. conta Rodrigo Borges.
Herança
Rodrigo Borges avalia que a trajetória política de seu avô e seu pai foi extremamente representativa para que Goiás se tornasse o que é hoje, com liderança econômica em diversos segmentos e com crescimento expressivo em muitos outros. “São pessoas que estiveram à frente da vida política de Goiás em um momento de agitação, de transformação”, teoriza. Para ele, o governador Marconi Perillo também reúne um pouco destas características, principalmente pela capacidade de administração que tem demonstrado em suas gestões.
Como legítimo herdeiro, Rodrigo, que é formado em administração pública, declara que tem, sim, o sonho de continuar esta saga política. “Já saí como candidato, fiquei como suplente. Mas acredito que pude contribuir um pouco com o governo do Marconi Perillo. Me senti honrado em poder ajudá-lo naquilo que pude como secretário de Turismo e outros cargos que ocupei”. E, embora afirme que está mais voltado para seus empreendimentos particulares, coloca-se à disposição do governo estadual para ajudar naquilo que precisar.
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