sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Meio século de convivência pacífica com o diabetes

Ao tratar lesões causadas pela tuberculose, que não respondiam à medicação, o farmacêutico José Paulino descobriu que era portador do diabetes tipo 1

O farmacêutico goiano José Paulino Rodrigues soube aos 23 anos que era portador do diabetes tipo 1. Ele estava tratando lesões pulmonares causadas pela tuberculose em Belo Horizonte (MG), depois de ter tentado, por seis meses, se curar com um médico de Goiânia e de ter recebido a indicação do radiologista José Normanha para procurar o pneumologista José Feldman em Belo Horizonte. “Os bacilos da tuberculose tinham começado a corroer o pulmão e havia formado as chamada cavernas”, explica. Como ele estava em tratamento havia 90 dias e as lesões, monitoradas periodicamente por radiografi as, não regrediam, Feldman suspeitou que José Paulino fosse portador de diabetes, o que foi confi rmado por um exame de dosagem da glicose.

“Na época eu desconfiava, porque tinha micções frequentes, fraqueza, dor nas pernas e estava emagrecendo. A cada semana eu estava mais magro. Tinha sede, a boca seca, que é o que acontece quando a taxa de diabetes está alta”, relembra. Ao constatar a doença, Feldman sugeriu a José Paulino que procurasse um endocrinologista . “Quando fui me consultar com ele pedi: ‘Doutor, eu estou fraco e
gostaria que o senhor me atendesse rapidamente’. Ele me respondeu: ‘Pelo contrário, nossa consulta vai ser demorada, porque daqui a 50 anos você ainda vai se lembrar de mim’, narra. “Eu, que sabia pouco sobre a doença, falei: ‘Mas eu não tenho apenas mais uns cinco anos de vida?’ E ele: ‘Não,
você pode viver muito, mas depende exclusivamente de você”, completa. E por duas horas o endocrinologista explicou detalhadamente o que era o diabetes.

José Paulino conta que ele iniciou descrevendo o por que de ter escolhido essa especialidade. Os pais tinham morrido por causa do diabetes, assim como várias outras pessoas da família, o que o fez se aprofundar no estudo da patologia. Ele desconfi a que sua avó paterna também era portadora de
diabetes, tendo em vista que ela se levantava várias vezes à noite para tomar água e urinar. Mas como a doença era pouco conhecida na época, ele não tem certeza. Já entre seus fi lhos e netos, nenhum apresentou a doença. Remontando à consulta com o endocrinologista, José Paulino rememora que ele havia feito mestrado na Suíça. “Na época, era o melhor diabetólogo de que se tinha notícia”,
afi rma. “Me passou um cardápio rico em vegetais, verduras, derivados de leite, queijo e iogurte. Até hoje tomo bastante iogurte. Me explicou que eu podia comer qualquer fruta, mas teria que restringir a quantidade. E assim eu fi z e, por incrível que pareça, estou aqui conversando com você hoje”,
comemora o farmacêutico.

Ao tratar lesões causadas pela tuberculose, que não respondiam à medicação, o farmacêutico José Paulino descobriu que era portador do diabetes tipo 1 Ele diz ainda o médico o informou que o diabetes descontrolado é uma porta aberta para várias infecções, problemas renais, doenças cardiovasculares e que isso o conscientizou da vida que teria que levar dali para a frente, inclusive com a prática constante de exercícios físicos. “Quando descobrimos o diabetes e começamos a tratá-lo, as lesões, de mais ou menos três centímetros de diâmetro, fecharam, porque a taxa de glicose alterada é que não permitia a cicatrização da lesão”, explica. 

A adaptação à disciplina alimentar foi a parte mais difícil dessa nova rotina, recorda-se José Paulino. “Eu tinha o hábito de jantar bastante, de comer gordura, doce. Minha mãe era mineira e fazia um senhor pão de queijo, doces e bolos excelentes e eu tive que abandonar todas essas delícias. Toda vida sempre gostei muito de banana e o médico me
disse: você vai ter de passar a comer um quarto do que era acostumado”. Esse período foi crucial, porque não podia mais ingerir frituras, enlatados e teve que diminuir a ingestão de carboidratos, cuja principal fonte é o arroz, que ele adora.

Apesar do sacrifício inicial, José Paulino se adaptou à essa dieta e, graças a ela e aos exercícios físicos, conseguiu controlar a doença. “Eu durmo cedo, me levanto cedo e caminho de dois a três quilômetros por dia. O corpo se habituou tanto, que aos sábados e domingos, em que não faço caminhada, eu não durmo bem”, declara. Para ele, é possível, sim, viver bem, sendo portador de diabetes. “Graças aos conhecimentos que tenho sobre a doença e ao juízo que sempre tive, levo uma vida normal”,
assegura. “Quando a pessoa toma conhecimento de que é portador, tem que se aprofundar para saber administrar a doença”, aconselha.

Revista Diabetes em Goiás, setembro de 2011.

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