quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Qualidade de vida dos diabéticos não é prejudicada com tratamentos

Sintomas, diferenças, semelhanças e tratamentos indicados para os tipos mais comuns de diabete

A maioria dos casos de diabetes mellitus, doença caracterizada por níveis de glicose (açúcar) no sangue acima do normal e que, quando não controlados provocam diversas complicações, pode ser classificada como diabetes tipo 1 ou tipo 2. “São inúmeros os tipos de diabetes, mas os mais importantes são o tipo 1 (DM 1) que ocorre principalmente em crianças, adolescentes e adultos jovens, este diabetes necessita de uso diário de insulina (duas, três ou quatro aplicações); o tipo 2 (DM 2), de início lento, insidioso, com maior frequência em adultos obesos, pode ser controlado com dieta e medicamentos orais, porém eventualmente requerem insulina para o seu controle; finalmente o diabetes gestacional que, como o próprio o nome indica, aparece durante a gestação podendo ou não persistir após o término da gravidez”, explica o endocrinologista Nelson Rassi.

Segundo o endocrinologista, estudos científicos não identificaram grupos de risco para os portadores do diabetes tipo 1. “Sabemos que a hereditariedade é importante ou seja os parentes de primeiro grau desta pessoa tem um risco maior de desenvolver esta doença. Mas é algo em torno de 5%, o que significa uma chance relativamente pequena. É importante enfatizar que a maioria das pessoas recém-diagnosticadas com DM 1 não possuem parentes com esta enfermidade”, frisa. “O tipo 2, ao contrário, tem na hereditariedade um papel importantíssimo, quero dizer que irmãos, filhos e pais de pacientes com DM 2 têm uma grande chance de desenvolverem a doença”, acrescenta. Ele diz ainda que outros grupos de risco são as pessoas obesas, com hipertensão arterial, triglicérides altos, portadoras de doença coronariana e mulheres que tiveram filhos com mais de 3,8 kg ao nascimento, dentre outros fatores.

SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS
Embora apresentem algumas diferenças, os dois tipos de diabetes também apresentam muitas semelhanças. “A primeira delas é que ambos se caracterizam por valores excessivos de glicose no sangue e a segunda é que os dois tipos levam às mesmas complicações crônicas: perda da visão, da função renal, angina, infarto, cegueira, insuficiência renal e diálise, gangrenas e amputações e derrames cerebrais, dentre várias outras complicações”, enumera Nelson Rassi.

Já as diferenças residem principalmente nas causas. “No diabetes 1 há completa destruição das células beta produtoras de insulina por um processo autoimune ou seja, o próprio corpo produz compostos imunológicos que agridem estas células, assim, o nosso sistema imunológico não reconhece as células beta, produtoras de insulina, como sendo parte do nosso próprio corpo e passa a produzir substâncias (citocinas) que agridem e destroem as células”, afirma. “Já no tipo 2, dois fatos ocorrem quase que simultaneamente: a insulina tem a sua capacidade de reduzir a glicose sanguínea diminuídas, denominamos isto de resistência insulínica, e o número de células, por um processo degenerativo, diminui lentamente”, destaca.

Outra diferença, de acordo com o endocrinologista, é a manifestação inicial da doença e a população acometida. “O diabetes tipo 1 geralmente se inicia de maneira rápida, agressiva com excesso de micções, sede intensa, emagrecimento, fraqueza e, se não diagnosticada e tratada adequadamente conduz ao coma e óbito em dias ou semanas”, alerta. Além disso, acomete principalmente crianças e adolescentes, mas pode atingir inclusive adultos e idosos.

Já o diabetes tipo 2 começa de forma lenta, leve, e frequentemente passa desapercebido nos estágios iniciais, acometendo principalmente indivíduos obesos, acima dos 30 anos, com história familiar de diabetes tipo 2. “Geralmente, o tipo 2 é resultado de uma combinação não fortuita da genética com o ambiente desfavorável. Em outras palavras, indivíduos nascem com a genética errada. No decorrer da vida, sob diferentes estresses, passam a se alimentar de modo errado, tanto em quantidade, quanto em qualidade, com pouca ou nenhuma atividade física, estilo de vida que leva facilmente à obesidade. Esta mistura genética com obesidade é explosiva e pode resultar no diabetes tipo 2”, descreve.

Conforme o médico, muitas vezes estes pacientes são assintomáticos ou oligossintomáticos (poucos sintomas), ou então apresentam queixas pouco específicas como fraqueza, cansaço, desânimo, perda de peso, disfunção erétil e prurido vaginal. “Não é incomum o diagnóstico somente ser feito após vários anos, com o aparecimento de alguma complicação da enfermidade, como infarto, derrame, alterações visuais ou renais”, avisa. De acordo com dados estatísticos atuais, cerca de 10% da população adulta brasileira possui diabetes tipo 2 e, além de obesos, atinge portadores de triglicérides elevados, pressão alta, doença coronariana e mulheres que tiveram diabetes gestacional ou filhos com mais de 3,8 kg.

TRATAMENTO INCLUI MUDANÇA NO ESTILO DE VIDA
Os tratamentos também são diferenciados. “No diabetes tipo 1 o tratamento com insulina é essencial para manutenção da vida imediata e anti- diabéticos orais são inúteis, enquanto que no tipo 2 o tratamento é conduzido com dieta e medicamentos orais”, enfatiza. A insulina pode ser necessária em alguns pacientes com muitos anos de doença, embora o seu uso possa ajudar no controle, ele raramente é fundamental para manutenção da sobrevida imediata. Denominamos estes indivíduos de insulino requerentes, enquanto que os com diabetes tipo 1 são insulino dependentes.

Tratamento com insulina
O tratamento consiste em quatro vertentes: insulina, cujo esquema é individualizado e complexo, controle da glicose por meio de medidas das glicemias capilares de três a seis vezes ao dia, alimentação e atividade física. “É importante que ocorra participação ativa dos pacientes e familiares. É necessário também uma equipe multidisciplinar de saúde, formada por nutricionista, psicólogo, enfermeira, educador físico, além de oftalmologista, cardiologista, angiologista e nefrologista”, orienta Nelson Rassi.


Qualidade de vida não é afetada
O endocrinologista diz que costuma parecer aos familiares que as mudanças serão enormes e a vida nunca será como antes, mas que, com o correr dos meses estes novos hábitos vão lentamente se incorporando à rotina do paciente, sem prejuízo na qualidade de vida. “Muitos destes jovens se tornam esportistas de primeira linhagem, inclusive campeões olímpicos ou excelentes profissionais de saúde, frequentemente na área de diabetes”, frisa.

Revista Diabetes em Goiás, setembro de 2011.

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