O Brasil dispõe de poucos dados sobre óbitos e sobrevida de portadores de câncer do aparelho digestivo, mas, de acordo com a cirurgiã oncologista Fátima Mrué, em um estudo realizado em Campinas, São Paulo, sobre câncer de estômago, no qual os pacientes foram avaliados quanto à sobrevida em cinco anos, a partir de 1991, observou-se uma sobrevida global baixa, de apenas 9%. “No entanto, nos estágios mais iniciais, quando a doença ainda está restrita ao estômago a sobrevida foi de 81% neste mesmo estudo”, ressalva a especialista.
Taxas de sobrevida
As taxas de sobrevida de câncer são fortemente influenciadas pelo estágio em que a doença for diagnosticada, e geralmente são representadas em um período de referência de cinco anos. No Brasil ainda temos carência de dados relativos à sobrevida da maioria dos tipos de câncer, atualmente temos apenas alguns dados pontuais de instituições isoladas. Dentre estes, temos dados referentes a pacientes atendidos no Instituto Nacional do Câncer (Inca). Portadores de câncer de cólon e reto avaliados no ano de 2006 tiveram uma sobrevida global em cinco anos de 46%, porém, analisando apenas os pacientes que tiveram diagnóstico no estágio I (fase mais inicial da doença), eles tiveram uma sobrevida em cinco anos de 89%. Outro estudo que nos serve de referência, em relação ao câncer de estômago, foi realizado em Campinas, São Paulo, em que os pacientes foram avaliados quanto à sobrevida em cinco anos a partir de 1991. Neste estudo observou-se uma sobrevida global baixa, de apenas 9%, no entanto, nos estágios mais iniciais, quando a doença ainda está restrita ao estômago, a sobrevida foi de 81% neste estudo.
Câncer de estômago
Segundo o Inca, ocorrem todo ano no País cerca de 21 mil casos novos dessa doença, com cerca 12 mil óbitos. O câncer de estômago é mais comum a partir dos 50 anos., sendo ainda o terceiro mais comum no País — superado pelo de pulmão e pelos ginecológicos, isto é, de mama e ovário — e o segundo entre os que mais matam, após o de pulmão. Pode surgir em pessoas com predisposição genética ou resultar do consumo exagerado de sal e de alimentos que contenham corantes, conservantes e outras substâncias, do tabagismo e da ingestão excessiva de bebidas alcoólicas.
Pâncreas, esôfago, fígado e vias biliares
Para os demais cânceres do aparelho digestivo, como o câncer de pâncreas, o de esôfago e o de fígado e vias biliares não dispomos de informações de sobrevida no Brasil. Mas a gravidade da doença pode ainda ser avaliada pela razão entre a incidência e o número de mortes, sendo que quanto menor este índice, mais grave é a doença. Nesta medida de relação entre incidência e óbito, temos, de acordo com dados do Inca, uma relação menor que 2,0 para o câncer de esôfago, de estômago, de pâncreas, de fígado e vias biliares, sendo a relação incidência/mortalidade maior que 2,0 apenas para o câncer de cólon e reto. Fatores importantes que influenciam na sobrevida são as condições de assistência à saúde do País, como acesso aos serviços de saúde, acesso aos instrumentos diagnósticos e retorno ao médico em tempo hábil.
Métodos diagnósticos
Os cânceres do tubo digestivo, ou seja, de esôfago, estômago e intestino grosso podem ser diagnosticados com facilidade pela endoscopia digestiva alta com biópsia da lesão para os dois primeiros e colonoscopia, também com biópsia, para o último. O câncer do intestino delgado é pouco frequente, e geralmente é de mais difícil diagnóstico, exceto os localizados na primeira e segunda porções do intestino delgado, situação em que a duodenoscopia (um tipo de endoscopia digestiva alta especial) poderá diagnosticar. Já o câncer de fígado e vias biliares são diagnosticados mediante métodos de imagem, tais como tomografia computadorizada ou ressonância magnética, podendo necessitar de métodos sofisticados como a ultrassonografia encoscópica, no caso de lesões pequenas localizadas no interior das vias biliares. Todos estes métodos de imagem são inclusive auxiliares para a introdução de agulhas de biópsia para obter fragmentos da lesão para confirmação do diagnóstico.
Tratamento cirúrgico
A cirurgia nos casos de câncer do aparelho digestivo garante, em quase todas as situações, benefícios para o paciente. Não obstante os avanços nos esquemas de tratamento quimioterápico, bem como o surgimento de drogas mais específicas para o tratamento de alguns tumores, o tratamento cirúrgico ainda é considerado o que mais oferece possibilidade de cura. A cirurgia é indicada não apenas quando a ressecção curativa é possível, mas inclusive no alívio dos sintomas e na prevenção de complicações graves, tais como sangramento, obstruções do trato digestivo e outras. Nos casos em que a doença encontra-se disseminada ou nos casos em que o paciente não reunir condições clínicas suficientes para serem submetidos a um procedimento cirúrgico com segurança, ou nos casos em que o paciente manifestar desejo de não ser operado, podem ser utilizados outras formas de tratamento para alívio dos sintomas.
Recaídass dependem também do emocional
As chances de recaída estão relacionadas principalmente ao estágio em que a doença foi diagnosticada: quanto mais avançada a doença, maior a chance de recorrência. Mas podem ser influenciadas pelo comportamento intrínseco do tumor, e ainda por aspectos relacionados ao paciente, tais como seu estado imunológico, sua capacidade emocional de enfrentamento da doença, sua estrutura familiar, bem como fatores culturais, sociais e religiosos.
Metástases
A expectativa de metástase está relacionada principalmente ao estágio da doença, sendo mais comuns nos estágios menos iniciais, situação em que a expectativa de metástase é baixa. Assim como nas recaídas, outros fatores podem influenciar no seu desenvolvimento.
Revista Vida Nova, março de 2011
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