segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Tratamento e prevenção de trombose venosa profunda em cirurgia ortopédica

Doença é a causa mais comum de morte nos três primeiros meses pós-operatório

Para PAULO SILVA o exame padrão ouro para diagnosticar a doença é a flebografia
A trombose venosa profunda (TVP) representa hoje a complicação de maior incidência nas cirurgias dos membros inferiores podendo ocorrer, quando não é adequadamente prevenida, em até um terço dos casos. “Nas cirurgias do quadril este índice aumenta, podendo chegar em até 40% a 70% dos casos submetidos à artroplastia total do quadril”, informa o ortopedista e presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia, Regional Goiás e membro da Sociedade Brasileira do Quadril, Paulo Silva. Segundo o médico, que é especialista em Cirurgia do Quadril, a trombose é a causa mais comum de morte nos três primeiros meses pós-operatório. “Quando comparada às cirurgias abdominais e torácicas o risco de TVP em cirurgias do quadril é cinco vezes maior”, relata.

Paulo Silva diz que na maioria dos casos a trombose é assintomática e em 2% dos soltam coágulos que obstruem o pulmão e podem ser fatais. “Esta afecção é mais frequente do que imaginamos, portanto a sua profilaxia é uma exigência e um preceito ético. Alguns autores citam que ‘o maior erro é acreditarmos que nossos pacientes, porque são bem medicados e bem operados, não apresentarão ou estarão livres da complicação’. O médico deve sempre estar atento aos fatores de risco da trombose e da sua sintomatologia”, alerta.

Dentre os fatores de risco, o ortopedista diz que os principais são idade acima de 40 anos, imobilização, trombose venosa profunda prévia, obesidade, varizes, uso de anticoncepcionais, fatores genéticos, duração do ato cirúrgico, infecção, neoplasias, insuficiência cardíaca, gravidez e puerpério. “Os sinais e sintomas mais comuns são dor, eritema e edema unilaterais com sinal de Homans positivo. Dor torácica pode estar presente nos casos em que houve evolução para embolia pulmonar e nestes deve ser feito eletrocardiograma e gasometria arterial”, enumera, acrescentando que, apesar disso, o diagnóstico falso positivo ou falso negativo pode chegar a 50%. Por isso, o ortopedista afirma que o exame padrão ouro para o diagnóstico é a flebografia, mas que, por ser um exame invasivo, vem perdendo espaço para o Dupplex scan.

O especialista frisa que é de fundamental importância que o médico tenha conhecimento da fisiopatologia da TVP, pois a possibilidade de prevenção existe quando se sabe os processos de deflagração. No entanto, conforme Paulo Silva, o melhor método para prevenção da TVP ainda é controverso. “Não há um consenso e grande parte da literatura atual é difícil de interpretar, devido diferenças nos relatos de trombos na panturrilha, comparados com trombos na coxa e variações nos protocolos de administração de medicações”. Apesar disso, devido ao grande índice de trombose em cirurgias ortopédicas – principalmente em artroplastias do joelho e quadril – é sempre importante lançar mão de medidas profiláticas mecânicas e farmacológicas, como forma preventiva ou mesmo de minimizar as consequências da trombose.

Como medida mecânica para prevenção do problema, Paulo Silva diz que o mais indicado é a deambulação precoce, conforme o tolerado pelo paciente. “Não há estudos que provem a eficácia deste procedimento, porém a deambulação precoce melhoraria o retorno venoso dos membros inferiores”. Em pacientes acamados e sem possibilidade de locomoção deve ser realizados mobilização precoce e exercícios ativos para os membros inferiores. Outro método que melhora o retorno venoso e minimiza a coagulação, de acordo com o médico, é o uso de botas de compressão pneumática sequencial externa. “Estes aparelhos demonstraram grande eficácia na prevenção da formação de trombos. O uso de meias elásticas de compressão é outro meio útil e que deve fazer parte do arsenal na prevenção da TVP. Como observamos, os meios mecânicos atuam apenas na melhora da circulação venosa, devendo ser complementada com uso de meios farmacológicos que atuam na cascata da coagulação”, pontua.

Entre os meios farmacológicos, Paulo Silva informa que várias drogas já foram usadas e testadas na tentativa de diminuir a incidência de TVP em cirurgias ortopédicas. “A aspirina é um antiagregante plaquetário que não demonstrou eficácia na prevenção de trombose proximal ou distal dos membros inferiores embora seja barata e de fácil acesso. É hoje uma droga proscrita para prevenir TVP em pacientes submetidos à artroplastia de quadril”, garante. Entretanto, o médico afirma que existem diversas outras drogas utilizadas com sucesso na prevenção tromboembólica e recentemente foram desenvolvidos anticoagulantes orais, porém eles necessitam de um acompanhamento a longo prazo para comprovar a real eficácia. “A prevenção da TVP e seu reconhecimento precoce quando estabelecida é dever do médico com aspectos legais e éticos para o bem do paciente”, orienta.

Risco de trombose dobra após quatro horas seguidas de viagem

A chance de desenvolver trombose venosa profunda dobra após quatro horas seguidas de viagem, segundo informação da World Health Organization (WHO). O estudo realizado estimou que um em cada 6 mil passageiros de percursos de longa distância corre este risco. Pessoas altas que viajam com as pernas apertadas entre poltronas ou bancos e pessoas  baixas que não apóiam os pés no chão estão particularmente vulneráveis a desenvolver coágulos, os quais estão associados à imobilidade durante o trajeto. Obesos, mulheres que usam pílulas anticoncepcionais e portadores de desordens de coagulação também são mais suscetíveis.

De acordo com a pesquisa, há um maior risco de tromboembolismo venoso durante viagens em que os passageiros ficam sentados e imóveis por mais de quatro horas seguidas, não importando o meio de transporte: carro, avião, ônibus ou trem. Sem as contrações musculares regulares, o sangue começa a se “empoçar” nas pernas e cria condições para a formação de coágulos ou trombos no sistema venoso profundo. A trombose pode não ter sintomas ou causar dor na panturrilha (batata da perna) e edema (inchaço) nas áreas afetadas.


Cerca de 2 bilhões de pessoas viajam de avião a cada ano e muito mais viaja por via terrestre por períodos prolongados. Especialistas dizem que a prevalência de trombose é relativamente baixa - um em cada 6 mil, incluindo os com pequenos coágulos ou com trombose assintomática. Isto significa que, em média, uma pessoa é afetada a cada 20 vôos de longa distância carregando 300 passageiros.

Para reduzir estas estatísticas, é necessário que os passageiros exercitem os músculos das panturilhas durante as viagens, movimentando os pés e os joelhos de cima para baixo e de baixo para cima, saindo de seus assentos por alguns minutos, quando possível. Também é importante evitar medicamentos para dormir, álcool em excesso e o uso de roupas apertadas que atrapalham a circulação.




Revista Ortopedia em Goiás, novembro de 2012.

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