quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Homens sofrem maior influencia do diabetes na sexualidade

 Problemas vasculares, hormonais e neurológicos interferem diretamente na vida sexual masculina em diabéticos enquanto nas mulheres as complicações estão relacionadas principalmente com a obesidade
HAROLDO SOUZA, endocrinologista


Qualquer doença crônica de longa duração pode trazer uma diminuição de energia ou queda do estado geral que influencia no interesse sexual. É o que afirma o endocrinologista Haroldo Souza, preceptor da residência médica em endocrinologia do Hospital Geral de Goiâna. O diabetes não foge a esta regra. Segundo o especialista, a doença, quando possui complicações acentuadas, afeta a sexualidade principalmente do homem, causando alterações vasculares, hormonais e neurológicas.

O paciente diabético pode ter uma complicação vascular chamada de vasculopatia. São homens que possuem arteriosclerose acelerada. “A doença afeta diretamente o vaso o que ocasiona um preenchimento vascular dificultado, retardando a ereção”, explica Haroldo. Outro fator importante para uma boa ereção é a integridade do sistema nervoso, já que são os estímulos que proporcionam a vasodilatação.

O endocrinologista afirma que dependendo da duração do diabetes, cerca de 50% dos pacientes possuem alteração no nível de testosterona que traz como consequências a diminuição do desejo, do libido sexual e da ereção. “É importante ressaltar que essa interferência acontece devido às complicações do diabetes. Não significa que todos os pacientes, se bem tratados e sem complicações, terão problemas”, esclarece.

Nas mulheres, o quadro das complicações diabéticas que influenciam na sexualidade está relacionado à obesidade. O excesso de peso pode provocar a Síndrome do Ovário Policístico o que dificulta a ovulação. Haroldo explica que no ovário policístico e no diabetes há o aumento do nível de insulina, chamado de resistência insulínica, que causa mudança no ciclo menstrual. “Esta alteração no nível hormonal faz com que haja uma porção maior de andrógeno, que é um hormônio masculino, aumentado os pelos, acnes e tendo interferência direta na sexualidade feminina”, exemplifica.

Uma restrição às mulheres é o uso do anticoncepcional, pois a diabética já possui uma tendência maior à trombose. Com o avanço da medicina, hoje é aceitável o uso do contraceptivo, mas em baixas doses. O endocrinologista afirma sugerir em seu consultório o uso de outros métodos como camisinha. Outro cuidado é em relação a gestação. “Se a paciente quiser ter uma gravidez deve ser extremamente programada. Primeiro, deve-se fazer uma avaliação para ver se existem complicações que proibam a grestação em si. Mesmo se a mulher não as tiver, ainda assim devemos fazer um controle intenso”, dita. O especialista alerta que se houver a gravidez sem uma programação rigorosa, há o risco de aborto ou da criança ter má formação.

Durante o ato sexual

Haroldo explica que um fator recorrente durante o ato sexual em diabéticos é a hipoglicemia, na qual ocorre o desfalecimento da pessoa. “Às vezes é um pouco frustrante para o paciente principalmente se o parceiro não estiver acostumado com a situação”, contextualiza. Outro constrangimento comum é o uso da bombinha insulínica colocada de forma subcutânea na pele. “Principalmente as mulheres se sentem incomodadas com o aparelho. Algumas até tiram, mas ainda assim fica um cateter a vista”, narra. O endocrinologista alerta que o paciente poderá ficar sem a bomba por no máximo duas horas.
Os diabéticos ainda podem ter uma neuropatia avançada que atinge os nervos. Essa doença pode trazer problemas de sensibilidade que podem interferir na sexualidade, pois a pessoa pode ficar constrangida durante as carícias. “Essa falta de sensibilidade ocorre mais nas extremidades, nas pernas e mãos”, ameniza Haroldo.

Prevenção

A hipoglicemia ocorre principalmente nas pessoas que utilizam insulina do que naquelas que controlam a diabetes apenas com comprimidos. Para que não haja esta queda de glicemia, o especialista orienta fazer a dosagem de açúcar na ponta do dedo antes do ato sexual. “ Se ela tiver com a glicemia abaixo de 100, o ideal é lanchar antes da atividade para que ela não passe mal”, alerta. Outra dica é não prolongar o ato.

Para as complicações vasculares e neurológicas, um bom controle do diabetes é fundamental. Fumar, por exemplo, é uma ação que pode alterar bastante os problemas vasculares. “Se a pessoa tiver diabetes  e além disso fumar, a chance dela ter complicações aumenta e muito. Parar com o vício é fundamental”, ressatlta Haroldo.

Em relação ao nível de hormônio masculino, é imprescindível que o paciente tenha uma vida saudável, com prática de atividade física regular e controle da alimentação. “Em pessoas que engordam demais, essa queda hormonal pode ser o dobro da queda normal”, alera o endocrinologista. “Manter o peso dentro da faixa de normalidade, com certeza é algo que pode melhorar o nível de hormônio masculino, principalmente a partir do momento que o homem vai envelhecendo. A prática de esportes é essencial, pois pode melhorar o nível de hormônio como retardar o problema vascular”, completa.

Outra manifestação incidente em diabéticos está relacionada com altas taxas de colesterol e trigliceres. “Se o paciente tiver colesterol alto, por exemplo, pode inensificar os problemas vasculares. E deve ser tratado com rigor desde o início e continuamente”, explica.


A psicologia e a sexualidade

Haroldo conta que um dos grandes problemas psicológicos associados ao diabetes é o fantasma da impotência sexual. Isso ocorre principalmente com os homens. “Quando a pessoa é diagnosticada diabética, uma das suas primeiras perguntas é se vai ficar impotente”, relaciona. Ele explica que este quadro faz parte das complicações da doença e não acontece com todos os pacientes. “As vezes o homem não possui problemas vasculares, neurológicos ou hormonais e ainda assim se queixa da impotência. O que fazemos é mostrar a ele que no quadro clínico não existe nenhuma complicação. O problema está na cabeça”, afirma.

O paciente que possui diabetes muito avançado pode ter uma ejaculação retrógrada. Ao invés de ejacular e aparecer o esperma, há uma desautonomia autonômica e o esperma vai para dentro da bexiga. “Essa disfunção não tira o prazer do orgasmo, mas só de não ter ejaculado pode mexer com a cabeça dos homens e logicamente diminui a fertilidade, ficando mais difícil engravidar alguém”, finaliza Haroldo.


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