Por Marco Aurélio Fraga Borges, neurologista
A Organização Mundial de Saúde divulgou em 2004 que as doenças
cerebrovasculares, isto é, o popular derrame cerebral, denominado
cientificamente de acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE),
são a segunda causa de mortalidade no mundo, correspondendo a quase 10%
dos óbitos. No Brasil, país em que há uma grande desinformação da
população a respeito do assunto, a mortalidade ultrapassa as doenças
cardiovasculares, estando em primeiro lugar. Lembrando que o impacto
dessa doença tende a aumentar, pois espera-se um aumento de 300% na
população idosa, que é a principal afetada, especialmente na América
Latina e Ásia.
O derrame cerebral pode ser isquêmico, que é a consequência da falta
de circulação em uma determinada região do cérebro, provocada por
obstrução de uma ou mais artérias. O AVC isquêmico, geralmente, ocorre
em idosos, diabéticos, quem tem problemas de colesterol, tabagistas,
obesos e portadores de hipertensão arterial. Pode ser também
hemorrágico, que é quando ocorre o rompimento de um vaso sanguíneo ou
aneurismas. Ainda acontece devido à hipertensão arterial, problemas na
coagulação do sangue e/ou tabagismo.
Os fatores de risco são classificados em modificáveis e não
modificáveis, sendo os primeiros o principal alvo da prevenção, já que
os demais são inerentes a cada indivíduo. Os fatores de risco não
modificáveis são: maior prevalência em indivíduos com idade mais
avançada; predominância no sexo feminino; é mais comuns em negros; além
contar também se há outros casos na família.
Um grande estudo, conhecido como Interstroke, que envolveu
cerca de seis mil participantes de 22 países, incluindo o Brasil, chegou
à conclusão que 80% do risco global do derrame, seja ele isquêmico ou
hemorrágico, se deve a cinco fatores: hipertensão arterial – considerado
o mais importante – tabagismo, obesidade abdominal, dieta e ausência de
atividade física. O pesquisa foi publicada na revista Lancet em julho de 2010. O Interstroke fase
2 foi lançado e espera envolver cerca de 10 mil indivíduos com controle
mais rigoroso que o do primeiro estudo. Diabetes, consumo de álcool,
fatores psicossociais e causas cardíacas somados aos cinco primeiros
correspondem a 90% do risco global de AVC.
TRATAMENTO
O derrame cerebral é uma emergência médica e que o sucesso do
tratamento depende da agilidade no reconhecimento dos sintomas. A
característica marcante é o início de forma súbita e o fato de acometer,
normalmente, um único lado do corpo. Na face, pode haver desvio da boca
para um dos lados. Pode acontecer perda da força ou da sensibildade em
um dos lados do corpo. Pode ocorrer ainda dificuldade para falar, fala
pastosa (como em um indivíduo embriagado) ou mesmo incapacidade para
entender o que as pessoas falam ou nomear objetos. Alterações da visão e
dor de cabeça também compõem o quadro, principalmente se iniciado de
forma abrupta.
A frase mais importante no tratamento do derrame cerebral é: tempo é
cérebro. O tratamento deve ser realizado em unidade de AVC. A terapia se
dá em diversos estágios: no primeiro, quando isquêmico, ocorre o
tratamento da fase aguda do AVC, ou seja, até seis horas do evento. É
realizado com infusão de medicação chamada RtPA, que atua como
fibrinolítico na tentativa de diminuir o tamanho área lesada. Poder ser
feita de forma endovenosa até quatro horas e 30 minutos do início do
derrame, ou de forma intraarterial até seis horas do início do evento,
objetivando a recanalização da artéria. Esse último tem que ser
realizado em equipamento de hemodinâmica, onde é realizado cateterismo.
A segunda etapa do tratamento é a profilaxia secundária, ou seja, o
ajuste da medicação de acordo com os fatores de risco para tentar
prevenir um novo AVC. Por fim, a terapia de reabilitação para tentar
minimizar os efeitos do derrame a fim de tentar levar esse indivíduo a
independência funcional.
NOVIDADES
As novidades estão principalmente na primeira e terceira fase do
tratamento. No primeiro estágio, são as tentativas de se ampliar o tempo
de tratamento do AVC agudo por meio de avanços na interpretação dos
exames de imagem. Já no terceiro estágio da terapia a última notícia vem
do estudo Flame, em que verificou-se a melhora da evolução
motora em acometimento moderado a grave, quando se usava fluoxetina
associado à fisioterapia nos primeiro três meses do derrame. Outra, para
essa mesma fase de tratamento, uma publicação que evidenciou que
assistência na unidade de tratamento de AVC associada aos cuidados de
reabilitação diários reduz tempo de internação e até mesmo a mortalidade
em cinco anos.
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