quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Fatores de risco e novidades em tratamento do derrame cerebral

Por Marco Aurélio Fraga Borges, neurologista
A Organização Mundial de Saúde divulgou em 2004 que as doenças cerebrovasculares, isto é, o popular derrame cerebral, denominado cientificamente de acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE), são a segunda causa de mortalidade no mundo, correspondendo a quase 10% dos óbitos. No Brasil, país em que há uma grande desinformação da população a respeito do assunto, a mortalidade ultrapassa as doenças cardiovasculares, estando em primeiro lugar. Lembrando que o impacto dessa doença tende a aumentar, pois espera-se um aumento de 300% na população idosa, que é a principal afetada, especialmente na América Latina e Ásia.

O derrame cerebral pode ser isquêmico, que é a consequência da falta de circulação em uma determinada região do cérebro, provocada por obstrução de uma ou mais artérias. O AVC isquêmico, geralmente, ocorre em idosos, diabéticos, quem tem problemas de colesterol, tabagistas, obesos e portadores de hipertensão arterial. Pode ser também hemorrágico, que é quando ocorre o rompimento de um vaso sanguíneo ou aneurismas. Ainda acontece devido à hipertensão arterial, problemas na coagulação do sangue e/ou tabagismo.

Os fatores de risco são classificados em modificáveis e não modificáveis, sendo os primeiros o principal alvo da prevenção, já que os demais são inerentes a cada indivíduo. Os fatores de risco não modificáveis são: maior prevalência em indivíduos com idade mais avançada; predominância no sexo feminino; é mais comuns em negros; além contar também se há outros casos na família.
Um grande estudo, conhecido como Interstroke, que envolveu cerca de seis mil participantes de 22 países, incluindo o Brasil, chegou à conclusão que 80% do risco global do derrame, seja ele isquêmico ou hemorrágico, se deve a cinco fatores: hipertensão arterial – considerado o mais importante – tabagismo, obesidade abdominal, dieta e ausência de atividade física. O pesquisa foi publicada na revista Lancet em julho de 2010. O Interstroke fase 2 foi lançado e espera envolver cerca de 10 mil indivíduos com controle mais rigoroso que o do primeiro estudo. Diabetes, consumo de álcool, fatores psicossociais e causas cardíacas somados aos cinco primeiros correspondem a 90% do risco global de AVC.

TRATAMENTO
O derrame cerebral é uma emergência médica e que o sucesso do tratamento depende da agilidade no reconhecimento dos sintomas. A característica marcante é o início de forma súbita e o fato de acometer, normalmente, um único lado do corpo. Na face, pode haver desvio da boca para um dos lados. Pode acontecer perda da força ou da sensibildade em um dos lados do corpo. Pode ocorrer ainda dificuldade para falar, fala pastosa (como em um indivíduo embriagado) ou mesmo incapacidade para entender o que as pessoas falam ou nomear objetos. Alterações da visão e dor de cabeça também compõem o quadro, principalmente se iniciado de forma abrupta.

A frase mais importante no tratamento do derrame cerebral é: tempo é cérebro. O tratamento deve ser realizado em unidade de AVC. A terapia se dá em diversos estágios: no primeiro, quando isquêmico, ocorre o tratamento da fase aguda do AVC, ou seja, até seis horas do evento. É realizado com infusão de medicação chamada RtPA, que atua como fibrinolítico na tentativa de diminuir o tamanho área lesada. Poder ser feita de forma endovenosa até quatro horas e 30 minutos do início do derrame, ou de forma intraarterial até seis horas do início do evento, objetivando a recanalização da artéria. Esse último tem que ser realizado em equipamento de hemodinâmica, onde é realizado cateterismo.
A segunda etapa do tratamento é a profilaxia secundária, ou seja, o ajuste da medicação de acordo com os fatores de risco para tentar prevenir um novo AVC. Por fim, a terapia de reabilitação para tentar minimizar os efeitos do derrame a fim de tentar levar esse indivíduo a independência funcional.

NOVIDADES
As novidades estão principalmente na primeira e terceira fase do tratamento. No primeiro estágio, são as tentativas de se ampliar o tempo de tratamento do AVC agudo por meio de avanços na interpretação dos exames de imagem. Já no terceiro estágio da terapia a última notícia vem do estudo Flame, em que verificou-se a melhora da evolução motora em acometimento moderado a grave, quando se usava fluoxetina associado à fisioterapia nos primeiro três meses do derrame. Outra, para essa mesma fase de tratamento, uma publicação que evidenciou que assistência na unidade de tratamento de AVC associada aos cuidados de reabilitação diários reduz tempo de internação e até mesmo a mortalidade em cinco anos.

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