quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Causas e tratamento da síndrome do olho seco

Fatores ambientais, produtos químicos e medicamentos podem estar na origem do problema, que é resolvido tratando-se os sintomas

De acordo com FERNANDO HEITOR as mulheres são as mais afetadas pela síndrome do olho seco
A síndrome do olho seco é definida como uma desordem do filme lacrimal provocada pela deficiência de lágrima ou excesso de evaporação, causando dano à superfície ocular e sintomas de desconforto, conforme explica o oftalmologista Fernando Heitor de Paula, especialista em Córnea e Doenças Externas pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e fellow ship em Córnea, Catarata e Cirurgia Refrativa pela Universidade de Michigan (EUA).

De acordo com ele, clima seco, poluição, ar-condicionado e monitores de computador são os principais responsáveis por aumentar a evaporação e causar olho seco. O problema pode ser causado ainda por queimaduras químicas, por meio de substâncias presentes em produtos de limpeza e materiais de construção em geral. “Este tipo de queimadura também está associada aos casos mais graves de olho seco e grande dano à superfície ocular”, informa.

Medicamentos descongestionantes, anti-histamínicos, tranquilizantes, antidepressivos, pílulas para dormir, diuréticos e betabloqueadores para tratamento da hipertensão arterial  podem causar a síndrome do olho seco, avisa o médico. Segundo ele, a idade avançada é um fator predominante para o surgimento do problema por causa da diminuição da produção de lágrima. “Estima-se que a incidência do olho seco na população de mais de 65 anos gire ao redor de 15% a 40% da população”, relata. Fernando Heitor diz ainda que, embora não haja dados precisos sobre a incidência da doença do olho seco na população brasileira e goiana, alguns estudos epidemiológicos nos EUA sugerem que a doença atinge aproximadamente 10% da população geral, ou seja, cerca de 18 milhões de pessoas sofrem com a doença no Brasil. E as mulheres são as mais afetadas, o que costuma ocorrer na menopausa, por causa das mudanças hormonais e piora da qualidade da lágrima.

SINTOMAS
O oftalmologista esclarece que o quadro clínico varia dos casos mais brandos, com queixa básica de desconforto, aos mais graves, por vezes com sérias complicações, como úlcera e perfuração da córnea. “Os sintomas são de ardor, irritação, sensação de areia nos olhos, dificuldade para ficar em lugares com ar-condicionado ou em frente do computador e olhos embaçados ao final do dia”, detalha.

De acordo com ele, há diversos métodos para diagnosticar a síndrome, sendo que o oftalmologista pode medir a produção, o tempo de evaporação e a qualidade das lágrimas, com testes específicos. “Teste de Schirmer é utilizado para medir a quantidade de lágrima. As colorações por corantes vitais (fluoresceína, rosa bengala ou lisamina verde) são utilizadas para detecção de células superficiais da córnea/conjuntiva que estejam sendo comprometidas pelo olho seco. Tempo de ruptura do filme lacrimal pode avaliar a qualidade do filme lacrimal. Testes mais específicos podem ser utilizados, como a citologia de impressão, teste de osmolaridade da lágrima dentre outros”, enumera, acrescentando que, atualmente tem se levado em consideração, principalmente em estudos clínicos, a osmolaridade da lágrima para diagnóstico e tratamento do olho seco. “Um dos testes que podem ser utilizados é o Tear lab test que avalia a osmolaridade de maneira rápida e precisa”, completa.

Fernando diz que o melhor meio de prevenir o problema é por meio da realização de exames anuais, e que o oftalmologista deve ser procurado imediatamente, caso tenha sintomas de olho seco ou algum declínio na visão. “Vários destes sintomas  podem estar presentes em outras doenças oftalmológicas. E a falta de lágrimas nos olhos pode desencadear úlceras de córnea e até perfuração ocular em casos mais severos”, reitera.

Tratamento
O oftalmologista diz que o tratamento é basicamente sintomático e que, recentemente, novas modalidades de tratamento com objetivo de atingir a causa do olho seco têm sido introduzidas. Ele comenta os cinco estágios de tratamento para o olho seco que consistem em:
1 – Substituição da lágrima: existem as lágrimas artificiais aquosas e as viscosas para quadros mais severos. Atualmente, algumas lágrimas artificiais não possuem ou neutralizam os conservantes. Este tipo pode ser utilizado mais frequentemente do que o habitual.
2 – Conservação da lágrima: a oclusão dos pontos lacrimais pode ser feita com plugs, cauterização dos pontos lacrimais ou oclusão cirúrgica, normalmente em casos mais severos.
3 – Estimulação da produção de lágrimas: existem certos medicamentos que aumentam o lacrimejamento como a pilocarpina, porém, possuem alguns efeitos colaterais e por isso são reservados para casos mais severos.
4 – Terapia anti-inflamatória: esse tipo de tratamento pode ser baseado no uso adequado e controlado de corticoide tópico e da ciclosporina tópica. A ideia é minimizar o efeito do processo imune nas glândulas lacrimais e superfície ocular.
5 – Alguns estudos estão sendo realizados para avaliar a importância da chamada “dieta no tratamento do olho seco”. Essa dieta deve ser rica em ômega 3 (óleo de linhaça, verduras, nozes e peixes), que possuem propriedades anti-inflamatórias.

Revista Oftalmologia em Goiás, agosto de 2012.

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