Além da celulite, estrias e varizes, a
obesidade pode causar doenças de origem infecciosa, como candidíase,
erisipela e até mesmo psoríase
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Lana Bezerra, dermatologista |
Dentre as várias comorbidades que a obesidade apresenta, as doenças
dermatológicas são bastante prevalentes e infelizmente são
frequentemente negligenciadas, mesmo apresentando alto risco de
morbidade. É o que explica a dermatologista Lana Bezerra Fernandes,
mestranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás. “As
principais doenças que surgem em pacientes obesos são as estrias,
celulites, insuficiência venosa periférica e linfedemas, que possuem
causas mecânicas”, enumera. “Outras surgem devido a resistência à
insulina, como a pseudoacantose nigricante, que é caracterizada por
placas aveludadas escuras no pescoço, axilas e virilha; acrocordons, que
são machas de cor acastanhada no pescoço, axilas e virilha; hirsutismo,
que é o aumento de pelos de padrão masculino em mulheres devido à
produção elevada de androgênios causada pelo excesso de gordura;
hiperinsulinemia e acne”, acrescenta.
Lana diz que os locais mais comuns de acometimento no obeso são regiões de pregas cutâneas (sob as mamas, inguinais, axilares e abdominais), que são consequência do aumento de fricção e umidade nestas áreas. As extremidades também são atingidas, principalmente as pernas, devido à uma força oposta ao retorno venoso das extremidades, levando à dificuldade de circulação sanguínea, à dilatação venosa e a varizes.
Segundo ela, a obesidade também pode ser a causa de doenças infecciosas. “As infecções ocorrem mais no obeso porque há aumento do pH, facilitando a infecção secundária, principalmente em áreas de dobras e fricção”, informa a dermatologista. “A obesidade aumenta a incidência de infecções cutâneas, incluindo intertrigo, candidíase e outras micoses superficiais, furunculose, foliculites, erisipela e celulite. A cicatrização das feridas é diretamente afetada pelo excesso de peso devido à diminuição do colágeno. A obesidade também parece ser uma das causas primárias de disfunção microvascular, inclusive nos vasos da pele. É, ainda, reconhecida a associação do estado imune do indivíduo a fatores que atuam como agravantes da deficiência no mecanismo natural de cicatrização”, complementa. Também comum em obesos, a psoríase possui causa inflamatória.
Apesar de não existir dados claros na literatura quanto à prevalência de cada dermatose, acredita-se que as causas mecânicas são as mais comuns em obesos. Lana cita como exemplo a hiperceratose plantar, que é caracterizada pelo aumento da camada nas regiões dos pés, resultado direto da pressão aumentada causada pelo excesso de peso. “Essa alteração pode ser considerada uma resposta fisiológica ao trauma mecânico. A hiperceratose na região posterior da planta dos pés é considerada, por alguns autores, como o achado mais comum em pacientes com obesidade grave (grau III)”, afirma a médica.
CIRURGIA BARIÁTRICA
Ela lembra que a cirurgia bariátrica tem se mostrado uma alternativa eficaz no tratamento da obesidade. E após a perda de peso, os pacientes normalmente apresentam flacidez cutânea, muscular e lipodistrofias, acompanhadas de excesso de pele, capaz de causar acúmulo de suor e dificultar a higienização. “Há evidências de alterações micro e macroscópicas estruturais na pele após a cirurgia bariátrica, relacionadas à mal absorção e deficiências nutricionais. Outra complicação secundária ao tratamento cirúrgico da obesidade é a queda de cabelo, que geralmente tem origem multifatorial, podendo estar relacionada às deficiências nutricionais, desnutrição proteico-calórica e ao estresse”, finaliza.
Revista Dermatologia em Goiás, maio de 2012.
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