terça-feira, 15 de maio de 2012

Andar na areia e no gramado evita problemas ortopédicos

Deformidade como pé torto, luxação do quadril, joelho torto e dedos supranumerários devem ser diagnosticados e tratados o mais cedo possível para evitar consequências físicas e psicológicas
ERICSON TOGNOLLO recomenda que o ortopedista seja procurado logo no nascimento para que possíveis deformidades possam ser sanadas no início

As deformidades ortopédicas na infância devem ser corrigidas o mais cedo possível para evitar consequências futuras. É o que alerta o ortopedista Ericson Tognollo, especialista em Ortopedia e Traumatologia Infantil pelo Pavilhão Fernandinho, em São Paulo. Segundo ele, os problemas mais comuns são os chamados pé torto congênito e luxação do quadril, que devem ser avaliados pelo ortopedista o quanto antes.

“O ideal seria que a criança passasse por uma avaliação ortopédica ao nascer”, avisa o médico. “Mas geralmente o pediatra, ou o pai e a mãe, percebem apenas o pé torto no começo e nos procuram. Quando o problema é no quadril, muitas vezes passa despercebido e isso só chegará até o ortopedista, se o pediatra não fizer o diagnóstico quando a criança começar a andar, somente quando ela começar a mancar”, completa. E depois dessa idade, Tognollo diz que é uma fase ruim para tratar o problema de luxação do quadril, já que poderia ter sido tratado anteriormente apenas com o uso de aparelhos imobilizadores e orientações. “A partir de 1 ano a possibilidade é menor, os aparelhos são mais difíceis de serem utilizados. E a partir de 2 anos, 2 anos e meio, no máximo, já começa a se pensar em tratamento cirúrgico”, frisa.

PÉ CHATO OU PÉ PLANO
Quanto aos pés planos ou pés chatos, como são popularmente conhecidos, só começam a ser tratados depois dos 2 anos e meio, conforme o ortopedista. “Existem duas escolas a respeito dos pés planos. Numa o especialista aguarda a evolução, dependendo do tipo de pé plano, e que 75% a 80% dos casos se resolvem com a evolução natural da criança. E outra que prefere usar a palmilha para correção do pé da criança e não ficar aguardando. Por volta dos 8, 9 anos de idade se faz uma nova avaliação e se o pé não conseguiu corrigir, é caso para indicação cirúrgica”, afirma.

Enquanto isso, o ideal é que os pés sejam submetidos a exames de radiografia de seis em seis meses no intuito de se medir o ângulo dos ossos para saber se o pé está em uma posição boa ou não. “Se não estiver melhorando existe a possibilidade de usar palmilha. A palmilha também ajuda na correção do pé, porque à medida que o pé está crescendo naquela posição correta, está se formando o arco do pezinho da criança”, considera, lembrando que atualmente não se usa mais aquela bota preta com a palmilha interna porque ela foi substituída por um tênis ortopédico, que tem uma melhor aceitação da criança, que não se sente excluída, já que o calçado não se parece com um aparelho e sim com um calçado normal.

O pé chato geralmente é uma herança genética e, de acordo com o médico, está relacionado à frouxidão das articulações. “Os ligamentos dos pés, que seguram o pés na posição correta, estão frouxos”, explica, acrescentando que algumas orientações simples aos pais podem contribuir para a resolução natural do problema, como colocar a criança para andar descalça em um terreno irregular, na areia, no gramado... “Andar com o pé chato em um chão plano só vai achatar mais o pé da criança. Às vezes colocamos a criança para andar no tapete, andar em terreno plano piora”, ressalva.

Ele cita como exemplo um estudo feito com crianças que moram nos morros do Rio de Janeiro e andam bastante descalças e, por isso, apresentam uma menor incidência de pé chato. “Logo que nascem nossos filhos queremos colocar uma meia, um calçado para proteger o pé da criança e acabamos piorando a situação”, reitera.

JOELHOS TORTOS

Outra deformidade citada por Tognollo é o joelho torto, que faz com que as pernas fiquem tortas, tanto para dentro, quanto para fora. Chamado de joelho genuvalgo pelos especialistas, deve-se à posição em que a criança nasceu. Segundo ele, é um problema que costuma se resolver com o crescimento, lá pelos 3, 4 anos. No entanto, caso isso não ocorra, o aconselhável é uma avaliação do ortopedista para avaliar se há problemas de calcificação. “Problemas renais podem prejudicar a absorção do cálcio, fazendo com que ele seja eliminado pelos rins. Algumas deformidades ósseas congênitas também podem levar a esse tipo de deformidade”, alerta.

Uma queixa bastante frequente das mães nos consultórios, conforme o ortopedista, é que a criança tem uma dor na perna, geralmente noturna e que a criança chega a chorar por causa dessa dor. “Geralmente é quando a criança tem de 3 a 4 anos, idade em que ela corre muito, brinca e a noite aparecem essas dores. Existe uma teoria que é a dor do crescimento, que essas dores ocorrem porque a criança está crescendo. Mas nem sempre esse é o motivo. O pé chato pode levar a essas dores, assim como o crescimento e deformidades ósseas do joelho”, reitera. Segundo ele, nesse caso é necessário que a criança seja avaliada, se submeta a exames de sangue e raios-x para poder avaliar a parte óssea.

DEDOS DEMAIS
O dedo supranumerário, tanto nas mãos quanto nos pés, é outro problema congênito elencado pelo ortopedista. O termo científico é polidactilia e o ideal é que se corrija o mais cedo possível, por causa da evolução da cartilagem óssea da criança. Entretanto, o médico considera que, às vezes, é preciso aguardar uma definição óssea melhor, para avaliar quais dos dedos mindinhos será predominante, o que costuma ocorrer depois do primeiro ano de vida. De qualquer forma, é melhor que se corrija ainda na primeira infância, já que além do problema físico, como dificuldade para calçar quando o dedo a mais está no pé, a criança pode se sentir constrangida com a anomalia e desenvolver também problemas de ordem psicológica e emocional.

De acordo com ele, o dedo supranumerário costuma ser uma deformidade hereditária, já tendo aparecido nos pais ou nos avós, mas que pode acontecer também por problemas durante a gestação, como o contato com substâncias tóxicas. “Temos visto crianças que têm sido operadas com o corpo todo grudado um no outro, isso geralmente ocorre por causa de substâncias tóxicas, usadas principalmente na agricultura”, esclarece.

Revista Ortopedia em Goiás, maio de 2012.

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