terça-feira, 17 de abril de 2012

Para evitar problemas oftalmológicos nas crianças, quanto antes verificar, melhor

De acordo com FERNANDO PACHECO VERÍSSIMO diversas doenças são transmitidas geneticamente, assim é indispensável o acompanhamento oftalmológico desde o nascimento



A visão é um dos sentidos primordiais do ser humano. Por isso, a preocupação dos pais deve vir desde o nascimento da criança. O oftalmologista Fernando Pacheco Veríssimo, especializado em Estrabismo e com diversos cursos em oftalmologia em universidades de, San Diego, Dallas, Chicago, San Francisco, Orlando, Fort Worth, Paris e Barcelona, explica quais os cuidados que se deve ter para evitar problemas oftalmológicos e alerta: “correto é levar a criança para avaliação na primeira semana de vida”.


A VISÃO NO RECÉM-NASCIDO
A criança nasce enxergando, porém não como o adulto. A visão é fraca e curta. A criança enxerga até 30 cm, além disso, bastante embaçado. Até os seis meses de idade, a visão tem uma grande melhora, e só chega ao seu desenvolvimento definitivo por volta dos três anos. A cor da íris no recém-nascido é mais clara até aos seis meses. Muitas crianças que nascem de olhos claros, se tornam de olhos escuros após os seis meses, período que se tem uma ideia melhor da cor definitiva.

OBSTRUÇÃO DAS VIAS LACRIMAIS
A doença mais comum do recém-nascido é a obstrução das vias lacrimais. Os sintomas e os sinais mais importantes são lacrimejamento, secreção purulenta (remela), vermelhidão nas pálpebras e nos olhos e irritação da criança. O tratamento requer, inicialmente, massagem local, na esperança de que ocorra a desobstrução. Quando há secreção purulenta, significa contaminação bacteriana, havendo a necessidade de se usar colírio antibiótico. Quando estas medidas são insuficientes, há a necessidade de sondagem das vias lacrimais. No centro cirúrgico, sob sedação, passa-se uma fina sonda para desobstrução das vias lacrimais. É preciso ficar atento porque até os três meses a criança não apresenta lacrimejamento quando chora. Antes dos três meses, o lacrimejamento quase sempre indica anormalidade.

CATARATA CONGÊNITA
A catarata congênita pode atingir um olho ou os dois. O sinal mais comum e que chama a atenção é a leucocoria. Este nome se refere à pupila que fica branca. A cor normal da pupila é negra e o reflexo do fundo do olho normal é vermelho. Quando se direciona um foco de luz aos olhos de uma criança, nota-se um fundo vermelho em ambos os olhos. Isto é sinal de normalidade. Se o reflexos estiverem esbranquiçados, seja em um ou nos dois olhos, deve-se levar a criança ao oftalmologista o mais breve possível. O tratamento da catarata é cirúrgico, dependendo do tamanho da catarata e do grau de comprometimento visual que ela esteja causando. Quando a cirurgia está indicada, quanto antes ela for feita, melhor. O tratamento vai além da cirurgia. Tem que haver um acompanhamento por longo prazo.

GLAUCOMA CONGÊNITO

O glaucoma congênito é o aumento da pressão do olho ou dos olhos do recém-nascido. Os sinais mais comuns são: a córnea fica esbranquiçada, acinzentada, o olho cresce mais do que o normal (buftalmia, ou olho-de-boi), lacrimeja e a luz incomoda (fotofobia). O tratamento é cirúrgico e de urgência. Quanto mais cedo, melhor o resultado. O acompanhamento também é a longo prazo.

TUMORES OCULARES

Apesar de serem raros, são graves. Por isto, deve-se fazer sempre o exame oftalmológico do recém-nascido. O sinal mais comum é a pupila esbranquiçada também, podendo à primeira impressão se pensar numa catarata, e ser diferenciado no exame oftalmológico.

DIAGNÓSTICO
O recém-nascido requer uma forma de exame completamente diferente das crianças maiores e principalmente dos adultos. Os olhos são pequenos, as pálpebras permanecem fechadas a maior parte do tempo, e requer uma ou duas assistentes para ajudar a segurar a criança e abrir o olho a ser examinado. Algumas vezes é necessário exame sob sedação em centro cirúrgico. O oftalmologista deve estar familiarizado com as patologias que acometem esta faixa etária.

IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS
Os principais sinais de que algo está errado com a criança são pupila esbranquiçada, lacrimejamento, remela amarela, sensibilidade acentuada à luz, grande desvio dos olhos (estrabismo), olhos vermelhos, choro sem motivo aparente, inchaço nas pálpebras e aumento no tamanho de um dos olhos ou dos dois.

GRUPOS DE RISCO

Existem vários grupos de risco, dependendo da patologia. Se há casos na família de glaucoma, catarata, tumores congênitos, existe uma maior probabilidade de surgir também no recém-nascido. Os problemas visuais, tais como miopia, hipermetropia e astigmatismo são transmitidos geneticamente, portanto, se os pais possuem um ou mais destes problemas, há maior probabilidade de que o filho também apresente.

PREVENÇÃO
As doenças geneticamente transmitidas poderiam ser diminuídas ou prevenidas em grande parte por um serviço especializado de aconselhamento genético, o que no Brasil está longe de ser uma realidade. Raras são as pessoas que procuram aconselhamento genético para terem um filho. Em crianças antes dos sete anos de idade pode-se prevenir um problema relativamente comum, que é a ambliopia, pela consulta oftalmológica de rotina. A ambliopia é o não desenvolvimento de uma visão devido a algum problema visual não detectado a tempo, seja a catarata, o estrabismo, um problema de grau. E todos têm cura se tratada corretamente a tempo.

CUIDADOS DIFERENCIADOS
Todo o tratamento do recém-nascido é mais complicado. A dose medicamentosa é diferente, os cuidados no exame e tratamento são especiais. O recém-nascido é um ser completamente diferente ao ser tratado.

NOVIDADES NA ÁREA
Uma novidade na área da oftalmo-pediatria é que, com a tecnologia moderna, está se implantando mais precocemente lentes intraoculares nas crianças operadas de catarata, o que há alguns anos era impossível de se aceitar, pelo maior processo inflamatório, pelas mudanças no grau do olho com o crescimento.

Tudo depende dos pais
Os pediatras estão unidos em encaminhar seus pacientes pequeninos para avaliação oftalmológica. O que precisa agora é que os pais se conscientizem desta necessidade. Que a mídia dê mais atenção ao assunto, pois ele é de grande importância. Uma criança não pode ser condenada a viver toda a sua vida com problemas visuais que poderiam ter sido solucionados e não foram por falta de informação. O correto é levar a criança para avaliação na primeira semana de vida.

Revista Oftalmologia em Goiás, março de 2012.

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