segunda-feira, 5 de março de 2012

Versatilidade e sacrifícios das profissionais da medicina

SÍLVIA AMORIM AZEVEDO tem o apoio da família quando o assunto é o compromisso com a profissão
Amor a profissão e harmonia familiar fazem com que a rotina de ADRIANA SABBATINI não seja tão pesada
ANA LÚCIA O. MAROCLO DE SOUSA tenta viajar ao máximo com os filhos


AKEMI KASAHARA se ocupa com cinco atividades e declara que se incomodaria com a falta de alguma de suas atribuições

A medicina é uma das profissões que mais exigem daqueles que a praticam. Quando se trata de uma mulher com filhos, é preciso mais do que boa vontade para cumprir os compromissos diários


Dividida entre a possibilidade de sucesso profissional e a constituição familiar, a mulher moderna diversas vezes tem que “rebolar” para desempenhar as múltiplas funções de forma equilibrada. A dermatologista Ana Lúcia O. Maroclo de Sousa qualifica de malabarismo o que faz para cuidar dos filhos André, Daniel e Isabela, com idades que variam entre 8 e 13 anos. “Conciliar a medicina e a maternidade é uma tarefa difícil, principalmente com três filhos, numa época em que a maioria dos casais tem no máximo dois”, avalia.

A urologista Sìlvia Amorim Azevedo Costa escolheu uma profissão pouco comum no universo feminino. Por ser mulher em uma especialidade habitualmente de homens, teve que demonstrar conhecimento, trabalhar bastante e manter um comportamento mais rigoroso para ganhar o respeito dos colegas e dos professores. Mas isto ela conseguiu. O desafio agora é o mesmo da maioria das mulheres: harmonizar carreira e vida familiar.

E como os ventos não andam bons para o lado dos médicos, que têm entrado em verdadeiras batalhas com os convênios de saúde por causa da baixa remuneração, conciliar dois, três trabalhos também faz parte da rotina da maior parte deles. Este é o caso da ortopedista Adriana Sabbatini da Silva Alves, que divide seu tempo entre o departamento de Ortopedia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás e outro hospital, onde atende como ortopedista e também como acupunturista. Além, é claro, de desempenhar os outros papéis femininos como os cuidados com os filhos, dona de casa e esposa.

Neste quesito de múltiplos trabalhos, ninguém supera a ortopedista Akemi Kasahara Omi de Freitas, que, justamente, por estar solteira e não ter filhos, mantém cinco atividades paralelas, atendendo em uma clínica, no Tribunal Regional do Trabalho, no Crer, no Hospital das Clínicas e na Secretaria Municipal de Saúde. “Normalmente saio de casa pela manhã para trabalhar e ao final do dia vou direto para a academia. Então, só retorno para casa à noite”, conta.


A SOLUÇÃO É SE DESDOBRAR
A dermatologista Ana Lúcia comenta que as atividades simplesmente não param. “Tenho que dar total atenção aos pacientes, cumprir os horários, me atualizar cientificamente de forma constante, administrar minha casa, participar dos eventos sociais com meu marido (o mastologista Juarez Antônio de Sousa), fazer atividade física, acompanhar o desenvolvimento escolar dos meus filhos em todos os sentidos e ainda dedicar tempo ao lazer em conjunto com a família”. Segundo ela, para encaixar tudo isso em apenas 24h, foi preciso bastante esforço, além de algumas mudanças. “Antes do nascimento do meu primeiro filho, o atendimento em consultório se prolongava até sete ou oito horas da noite, hoje isso mudou, dificilmente ultrapasso o limite das cinco horas da tarde”, declara.

Os desafios enfrentados pela urologista Sílvia são semelhantes. “Conciliar a urologia com a atenção aos meus dois filhos requer organização e uma enorme compreensão de toda a família”. Ela ressalta que, como se trata de uma especialidade cirúrgica, exige dedicação integral e aperfeiçoamento contínuo. “É necessário estar disponível para o cuidado dos pacientes a toda hora, em qualquer dia da semana. Inúmeras vezes meus filhos aguardaram no saguão do hospital, à noite ou em finais de semana, enquanto eu avaliava um paciente”, relata. Para amenizar um pouco as ausências, ela optou por não dar plantões para estar o mais presente possível e poder participar do cotidiano de cada um.

A ortopedista Adriana frisa que é importante organizar bem os horários. “Tenho alguns períodos livres durante a semana para estar com meus filhos e tomar as providências necessárias para o lar. A escolha pela acupuntura, mesclando meus períodos de atendimento com a rotina habitual da ortopedia, que é uma especialidade com muitas urgências, ajudou-me bastante nessa organização”, alegra-se.

Ana Lúcia também se desdobra. Faz questão inclusive de almoçar com os filhos todos os dias e participar de tudo o que acontece na vida deles e não tem dúvidas de qual papel é prioritário em sua vida. “Se um deles está com algum problema, não penso duas vezes antes de deixar a profissão um pouquinho de lado e priorizar a atenção a eles”, declara. “Aproveito cada minuto na companhia deles e viajamos juntos com frequência, porque sei que quando crescem eles nos deixam um pouquinho de lado”, brinca.

Sílvia ressalta que mantém a rotina médica e familiar interligadas. “Minhas atividades profissionais, como a agenda do consultório e os horários de cirurgia, foram organizadas para permitirem que eu ou meu marido, também urologista, possamos almoçar com as crianças e participar da vida escolar”, comenta. Apesar de sempre se dedicar o máximo a cada situação, a urologista mãe diz que não há como evitar os conflitos. “Não existe uma fórmula pronta, mas tudo é resolvido com diálogo e com a participação de todos. Meus filhos compreendem e apoiam o compromisso com a profissão”. E o fato de ser casada com um médico de mesma especialidade facilita o cuidado com os pacientes. “Tanto que eles já sabem que serão reavaliados por um de nós, conforme nossa disponibilidade. Normalmente, com esse objetivo, alternamos nossos horários no hospital e no consultório”, descreve.

Para conseguir conciliar as atividades díspares, Adriana ensina que é preciso cuidar do corpo, mente e espírito. “Gosto bastante de ler e tenho praticado atividade física regularmente, dentre elas a corrida de rua”. Outro fator primordial para que tudo corra bem, de acordo com Adriana, é ter sempre amor e harmonia familiar e inclusive amor à profissão. “Me empenho em realizar um trabalho relevante para todos aqueles que me procuram, dando minha parcela de contribuição para um mundo melhor”, salienta.

Para manter os cinco trabalhos, Akemi diz que define prioridades e estabelece horários, mas de forma que a vida profissional não prejudique a pessoal e vice-versa. “Sou normalmente agitada, então acredito que, se eu não tivesse todos os meus horários preenchidos, é que ficaria incomodada. Estou satisfeita com minha rotina e no momento não penso em mudar nada”, estabelece.


Revista Medicina em Goiás, fevereiro de 2012.

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