sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Crianças com câncer respondem bem à quimioterapia

A razão dos medicamentos agirem com eficácia, na maioria dos casos, é que as células ainda estão imaturas e são altamente sensíveis a essa modalidade de tratamento. Quem explica este e muitos outros detalhes sobre o câncer na infância é o oncopediatra Everaldo Ruiz Júnior, mestre no assunto, professor da PUC-GO e responsável técnico pelo Serviço de Oncologia Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. Confira.

SINTOMAS COMUNS QUE NÃO RESPONDEM A TRATAMENTO PODEM SER SINAIS DE CÂNCER
O primeiro passo para se reconhecer uma criança portadora de câncer é se lembrar que ela pode ter este tipo de doença. Os profissionais de saúde devem colocar entre os diagnósticos diferenciais de determinados pacientes a possibilidade de neoplasia. Os sintomas do câncer infantil podem ser os mais variados, a depender do tipo de neoplasia e de seu estadiamento.

SINAIS MAIS EVIDENTES

A adenomegalia (aumento do gânglio linfático que integra o sistema imunitário) também pode ser um sinal de alerta, principalmente se não estiver relacionada ao processo infeccioso local ou sistêmico. Caso o linfonodo se mostre endurecido, aderido a planos profundos, indolor, com crescimento progressivo e em cadeia supra-clavicular, devemos levantar a possibilidade de neoplasia. Alguns sinais e sintomas chamam mais a atenção para o diagnóstico de neoplasia, como crises convulsivas inéditas, alterações neurológicas (paraplegia, hemiplegia, alterações na marcha, sinais focais e outras), massa abdominal, tumorações em membros. Todos requerem investigação imediata. Também não se pode esquecer da imagem de fundo de olho pálida (leucocoria) quando se retrata uma criança com flash que pode corresponder a neoplasia ocular.

NEOPLASIAS MAIS COMUNS
A neoplasia mais comum da infância é a leucemia linfoblástica aguda, seguida dos tumores de sistema nervoso central, linfomas e tumores abdominais (tumor de Wilms e neuroblastoma). Também temos os tumores ósseos (osteossarcoma, sarcoma de Ewing), os sarcomas de partes moles (rabdomiossarcoma) e o retinoblastoma.

TRATAMENTO INDIVIDUALIZADO
O tratamento das neoplasias infantis é individualizado, depende do tipo de câncer, estadiamento, grau de malignidade e estratificação de risco. Os tumores mais agressivos e de alto risco são tratados com doses mais elevadas de quimioterapia e radioterapia. A maioria das neoplasias são tratadas com uma combinação de quimioterapia, cirurgia e radioterapia. Estas três modalidades podem ser utilizadas em conjunto ou individualmente. A quimioterapia consiste na aplicação de drogas que matam as células neoplásicas, porém não são específicas para estas células. Trata-se de um tratamento sistêmico, uma vez que a medicação circula na corrente sanguínea. A radioterapia consiste na aplicação de radiação ionizante em alta dose no leito tumoral por meio de um aparelho que emite este tipo de radiação, o que provoca a morte das células localizadas neste campo. É um tratamento localizado.

DIFERENCIAIS DOS TRATAMENTOS ENTRE CRIANÇA E ADULTO
Nos adultos, os tipos de câncer mais comuns são de origem epitelial com crescimento lento e menos sensíveis à quimioterapia. Portanto a cirurgia e a radioterapia são mais importantes no tratamento. Na infância, as neoplasias mais comuns são originadas de células imaturas e altamente sensíveis à quimioterapia que é a modalidade de tratamento mais importante. As leucemias, por exemplo, são tratadas em sua maioria somente com quimioterapia. As crianças também suportam doses mais elevadas de quimioterapia em relação aos adultos, o que torna esta modalidade ainda mais efetiva.

MEDICAMENTOS MAIS UTILIZADOS
Na oncologia pediátrica, cerca de 70% das crianças sobrevivem ao câncer. A leucemia linfoblástica aguda (LLA) tem sobrevida em cinco anos de cerca de 75%. Desta forma novas medicações só são utilizadas quando estudos de fase III mostram que elas são superiores aos tratamentos de primeira escolha. O que houve nos últimos anos foi a otimização na aplicação das drogas já existentes e sabidamente eficazes contra a maioria das neoplasias, feita do aumento da dose e modificações na maneira de aplicação. Para neoplasias refratárias aos tratamentos convencionais ou que recaem existem novos agentes quimioterápicos em estudo, como a clofarabina para LLA em segunda recaída. Agentes imunoterápicos como os anticorpos monoclonais – rituximabe (anti-CD20). Terapias guiadas molecularmente como o mesilato de imatinibe para as leucemias com a translocação BCR-ABL. Vacinas de células dendríticas e outros.

DIAGNÓSTICO PRECOCE
Como o câncer infantil é mais influenciado por pré-disposições genéticas do que por hábitos de vida da criança ou pelo ambiente, torna-se difícil falar em prevenção. Temos sim que pensar em diagnóstico precoce, pensando em câncer para crianças dentro dos diagnósticos possíveis em certas situações. Maiores cuidados e acompanhamento devem ser feitos para crianças com algumas síndromes genéticas relacionadas a incidência aumentada de neoplasia como: síndrome de Beckwith-Wiedmann, Down, Bloom, Denys-Drash, ataxia telangectasia, anemia de Fanconi, neurofibromatose tipo I, síndrome WAG.


USO DE CELULARES E VÍRUS
Existem controvérsias quanto à exposição a campos eletromagnéticos e risco aumentado de neoplasias, dessa forma recomenda-se uso restrito de celulares por crianças. Alguns vírus tem relação com certas neoplasias, principalmente o vírus Eptein Barr com os linfomas. Desta forma, após quadro confirmado de mononucleose infecciosa, o acompanhamento das crianças deve ser rigoroso.

FIQUE ATENTO AOS SINAIS

Sintomas comuns como febre, cefaleia, dor óssea ou muscular, tosse, dor abdominal devem ser consideradas suspeitas quando não evoluem conforme o esperado com tratamento para afecções mais comuns ou observação com sintomáticos. Caso haja piora progressiva também devemos ficar atentos. A associação desses sinais com perda de peso, palidez, emagrecimento, equimoses e outros distúrbios hemorrágicos, hepaoesplenomegalia deve aumentar nossa suspeição quanto à possibilidade de câncer.





Prevenção deve vir dos adultos
Pode-se pensar em prevenção quando educamos os pais sobre o risco do uso de drogas antes e durante a gestação. O consumo paterno ou materno de maconha e outras drogas antes e durante a gestação tem relação com risco aumentado de neoplasias nos descendentes. As crianças não devem ser expostas à radiação ionizante, intraútero e após o nascimento. As mulheres em idade fértil devem tomar cuidado antes de se submeterem a exames de Raio X.

Revista Vida Nova, dezembro de 2011.

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