quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Dor de cabeça crônica pode ser prevenida

A enxaqueca crônica é a principal causa de dor de cabeça na população adulta. Neurologista Paulo Sérgio de Faria alerta para o fato de que a principal causa de cronificação da doença é o uso de analgésicos sem orientação médicaapenas

As dores de cabeça crônicas recebem o nome genérico de cefaleias crônicas diárias. “Toda cefaleia que ocorra por mais de 15 dias ao mês, por mais de três meses, é considerada uma cefaleia crônica diária”, explica o neurologista Paulo Sérgio de Faria, coordenador do Ambulatório de Cefaleias do Hospital Geral de Goiânia e membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia e da International Headache Society. “Existem várias causas de cefaleias crônicas, abarcando tanto doenças benignas, quanto doenças potencialmente graves e letais. As principais causas de cefaleias crônicas são, em sua maioria, arrasadoras, advindo de doenças benignas como a enxaqueca (migrânea) crônica e a cefaleia tipo tensional crônica”, enumera.

Tanto a enxaqueca quanto a cefaleia tipo tensional são doenças que requerem uma conversa adequada entre o médico e o paciente para um diagnóstico preciso, ensina Paulo Sérgio. “Com a coleta das características da dor, como tipo de dor, localização, intensidade, tempo de duração da crise, frequência e etc, seguidos de um exame clínico minucioso, são suficientes para um correto diagnóstico, que é o grande esteio de um tratamento bem sucedido”, salienta. Sobre os exames complementares, nestes casos, segundo o especialista, são sempre normais, portanto tomografias, ressonâncias, exames bioquímicos e outros são importantes médicaapenas para outras causas de cefaleias crônicas, que constituem a minoria dos casos.

Ele frisa que é importante que o médico tenha em mente os principais sinais de alerta para cefaleias potencialmente graves, sabendo reconhecer e diagnosticar as cefaleias secundárias, utilizando racionalmente os vários recursos radiológicos e laboratoriais, a fim de que o paciente receba tratamento adequado, o mais precocemente possível. “A enxaqueca é a principal causa de cefaleia crônica. Trata-se de uma doença geneticamente determinada, na qual o indivíduo já nasce com a predisposição para o desencadeamento dos sintomas em determinadas épocas da vida. As primeiras crises de enxaqueca normalmente iniciam-se em pessoas jovens, da infância ao adulto jovem, sendo incomum o início após os 50 anos”, relata.

Paulo Sérgio afirma que, de acordo com a literatura médica, cerca de 4% da população desenvolverá formas crônicas de cefaleia. “Os indivíduos que apresentarão a enxaqueca crônica iniciam seu quadro com crises mais espaçadas, que vão se tornando cada vez mais frequentes, até atingir a frequência da dor crônica”, descreve.

As mulheres, devido a fatores genéticos e hormonais são as maiores vítimas da enxaqueca crônica, continua o médico, na proporção de três mulheres para um homem na população adulta. “O impacto na qualidade de vida destas pessoas pode ser enorme, com diminuição de todos os parâmetros. Estudos norte-americanos demonstram que a qualidade de vida destes pacientes pode ser pior que portadores de depressão, paraplegia e várias outras doenças debilitantes”, declara.

SINAIS COMUNS
Segundo o neurologista, o paciente enxaquecoso sofre de crises de cefaleias moderadas a intensas, normalmente pulsáteis, acometendo um lado ou ambos os lados da cabeça, com duração que vai de várias horas até três dias, acompanhadas de foto e fonofobia (luz e som incomodam bastante), náuseas e vômitos. “Cerca de 20% dos migranosos apresentam um fenômeno neurológico, precedendo ou acompanhando a dor: a aura, que tem como principais sintomas dificuldades visuais (turvação visual, manchas claras ou escuras que prejudicam a visão), adormecimento ou formigamento em um lado da face, membro superior ou todo um lado do corpo, levando o paciente ao medo de estar sendo acometido por um AVC”, diz o médico, acrescentando que estes sintomas duram poucos minutos e, normalmente, são precedidos pela dor típica da enxaqueca.

TRATAMENTO
O neurologista avisa que um dos fatores primordiais da cronificação da enxaqueca é o uso indiscriminado de medicações sintomáticas (“analgésicos” de toda ordem), sem orientação médica adequada. “É importante o conhecimento de que uma pessoa que apresenta crises cada vez mais frequentes de enxaqueca deve procurar um tratamento preventivo, evitando a automedicação e abuso de analgésicos”, alerta. “O tratamento preventivo engloba uma série de medidas medicamentosas e não medicamentosas, que podem oferecer importante diminuição da frequência, intensidade e duração das crises.Trata-se de uma patologia de evolução arrastada ao longo da vida, que ainda não dispõe de cura imediata, mas que pode ser bem controlada, propiciando grande impacto na melhoria da qualidade de vida dos pacientes portadores deste mal”, finaliza.

Revista Neuronotícia, novembro de 2011.


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