terça-feira, 6 de setembro de 2011

Vacina quadrivalente previne o câncer de colo de útero

Doença pode ser diagnosticada no início, por papanicolau, que as mulheres devem fazer anualmente, mas ainda mata cerca de 230 mil pessoas anualmente

O câncer de colo uterino é o segundo – depois do câncer de mama – de maior incidência e inclusive o segundo que mais mata mulheres nos países em desenvolvimento (veja tabela ao lado). “É um grande problema de saúde pública no Brasil. Estes indicadores são motivos de vergonha e ao mesmo tempo de estímulo à luta contra esta situação”, considera o ginecologista obstetra e presidente da Associação Médica de Goiás, Rui Gilberto Ferreira. De acordo com dados do Ministério da Saúde de 2009, cerca de 230 mil mulheres morrem anualmente por causa dessa doença.

Ele diz que, por ser uma doença silenciosa, que gasta de 15 a 20 anos para evoluir de uma mancha branca no colo uterino, causada pelo Papiloma Vírus Humano (HPV), até se transformar em câncer invasor inicial, o método diagnóstico mais importante é o preventivo, por meio da realização do exame colpocitológico (Papanicolau), que deve ser feito anualmente por todas as mulheres em idade reprodutiva. “De 7 a 10% destes exames apresentarão alguma alteração, que será submetida a um exame colposcópico (olhar com lentes de aumento de 5 a 25 vezes procurando alterações) e os que necessitarem serão submetidos à biópsia”, explica o médico, acrescentando que, em qualquer região brasileira estes três itens podem ser feitos por um baixo custo. “O exame histopatológico de uma biópsia pode ser feito à distância via transporte convencional e o resultado pode ser entregue via internet”.

Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior a possibilidade de sobrevida. “O problema é que o câncer de colo uterino é mais frequente em mulheres pobres e com bastante filhos. Aquelas que menos voz e vez têm em relação a quanto e como deverão ser gastos os recursos públicos de saúde”, lamenta Rui Gilberto. “Elas continuam morrendo de uma doença evitável com um exame de prevenção anual (Papanicolau) e as autoridades sanitárias, os políticos e os setores organizados da população (geralmente representantes da elite dominante) não têm tomado as devidas providências. Países como Cuba, Costa Rica e Chile já resolveram esta questão com a prevenção”, informa.

De acordo com Rui Gilberto, o HPV é um dos fatores mais importantes na gênese do câncer de colo uterino: mais de 95% das portadoras da doença apresentam associação com o vírus. “Os subtipos do HPV de alto risco oncogênico possuem nos seus genomas uma proteína E6 e E7, que bloqueiam genes oncobloqueadores no organismo das mulheres, e elas ficam mais suscetíveis à evolução da doença”, esclarece.

Por isso, as duas vacinas para o HPV, disponíveis desde 2006, representaram um grande avanço para a prevenção do câncer de colo uterino. “A quadrivalente, além de prevenir o câncer, previne também as verrugas causadas pelo HPV. Elas ficam na geladeira a oito graus, são aplicadas intramusculares em três doses durante seis meses”, precisa o médico. Ele diz ainda que a vacina pode ser aplicada em quem já teve contato com o vírus, porém são mais eficazes se recebidas na adolescência dos nove aos doze anos, antes do início da vida sexual.

As vacinas não têm contraindicação, podem ser aplicadas inclusive em gestantes e em mulheres que amamentam. “Têm uma eficácia superior a 95% de proteção e já ultrapassam oito anos de imunidade”, assegura Rui Gilberto. Só têm um problema, como todas as vacinas que não estão disponíveis na rede pública de saúde, o valor: custam de 180 a 280 reais cada dose.

Tratamento e recaída
O tratamento depende do estágio da doença, informa Rui Gilberto. “Geralmente, varia de uma
retirada de um pequeno fragmento do colo do útero a cirurgias extensas e por vezes mutiladoras, com
alto risco cirúrgico e ainda com complementações de radioterapia e, às vezes, quimioterapia”, alerta e
reitera que, quanto mais precoce o diagnóstico mais conservador é o tratamento e melhores as chances
de sobrevida.
Assim como, quanto mais extensa doença, maiores as chances de lesões residuais. “Uma doença restrita ao colo uterino possui uma chance de cura de mais de 80%. Ou seja tem menos de 20% chances de lesões residuais. Já quando compromete o corpo do útero, parede pélvica, vagina, bexiga, intestino, pulmões, etc, as chances de sobrevida em cinco anos são inferiores a 30%”, declara.

Revista Vida Nova, agosto de 2011.

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