quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Polêmico mas útil

Rotablator deve ser usado com cuidado, mas pode auxiliar no uso de stents e encurtar o tempo de cirurgia

Técnica desenvolvida nos anos 80, o rotablator ou aterectomia rotacional, consiste em passar dentro da artéria coronária uma ogiva — uma pequena broca, com ponta cravejada de pó de diamante — que tem a função de lixar (corroer) uma placa aterosclerótica endurecida, rica em cálcio, que obstrui uma artéria do coração.

As placas ateroscleróticas, dependendo da quantidade de cálcio presente em sua composição e da disposição deste em relação à luz do vaso podem dificultar e até impossibilitar o tratamento por cateter. São as chamadas lesões complexas, presente mais comumente em indivíduos idosos, notadamente os octogenários e nonagenários.

Maurício Lopes Prudente, cardiologista intervencionista, explica que esse dispositivo não foi bem recebido pela sociedade médica no passado porque além de aumentar riscos e ser caro, não demonstrou resultados melhores em relação ao tratamento por balão. Com o desenvolvimento dos stents farmacológicos ou stents revestidos com medicamentos, os cardiologistas intervencionistas avançaram no tratamento da doença coronariana, no tratamento de lesões mais complexas e o rotablator, agora como coadjuvante, voltou a ter sua devida importância. “Há aproximadamente cinco anos a abordagem dessas lesões era exclusivamente cirúrgica, com as pontes de safena e mamária. Hoje temos alternativas seguras”, diz.

A partir do final da década de 90, “houve o renascimento da aterectomia rotacional”, conta Maurício Lopes Prudente. Porém, o ressurgimento não foi para substituir todas as cirurgias, mas como terapêutica adjunta segura e eficaz associada aos stents. “O rotablator lixa o trajeto calcificado, endurecido, corroendo espículas de cálcio que impediriam a progressão do stent até a lesão. Assim, o stent pode ser implantado com mais facilidade e segurança. Isso encurta o tempo de procedimento, diminui complicações, reduz o volume de contraste que poderia piorar a condição do paciente e aumenta significativamente a chance de sucesso”, ressalta o especialista.

Como qualquer outro procedimento de intervenção, o rotablator oferece riscos, como dissecção, oclusão ou perfuração do vaso, principalmente quando mal indicado e/ou executado. Como a ogiva gira entre 150 a 200 mil rotações por minuto, o cálcio é microfragmentado a ponto de não entupir o que tem pela frente (embolização), mas pode perfurar. “ Isso acontece em artérias tortuosas ou em situações de má técnica”, frisa o cardiologista. Contudo, Maurício é enfático em dizer que apesar do procedimento ser delicado, os benefícios, quando bem indicado, são maiores. “Temos documentado que o uso do rotablator pode encurtar o tempo de intervenção de algumas horas para menos de 40 ou 50 minutos. A redução do tempo de procedimento apresenta vantagens como menos contraste, menor exposição à radiação (médico e paciente) e menos complicações, especialmente em idosos”, enumera o cardiologista.

As vantagens não param por aí. Recentemente o rotablator tem sido empregado em casos de oclusões totais crônicas, quando a artéria está 100% obstruída. Com a ablação (lixamento) no local obstruído, consegue-se recuperar a vida útil da artéria, que volta irrigar a parte do coração que estava sem sangue, isquêmico. “O tratamento é sintomático, pois melhora a força de bombeamento do sangue pelo coração, pode diminuir a angina e assim contribuir para uma melhor qualidade de vida”, garante o especialista.

Revista Cardiologia em Goiás, setembro de 2011.

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