Não existe um trabalho de comunicação eficiente e continuado de defesa do médico. As entidades são ótimas em tratar com autoridades mas ineptas ao lidar com a classe média, a que forma opinião
Talvez porque nós da revista Medicina em Goiás trabalhamos com a área da saúde, sempre temos a impressão de que os médicos sofrem mais do que em outras profissões. O rosário de lamentações é amplo, praticamente insolúvel e continuado. E parece que outras categorias de trabalhadores vivem de maneira mais leve, sem paciente reclamando, sem cargas horárias malucas, sem planos de saúde pagando pouco e exigindo muito.
O calvário que os médicos encontram no cotidiano não faz onda nem tem reflexos, infelizmente. Com certeza você conhece aquele colega que já cansou de gritar, de lutar e, por não saber ou não querer fazer outra coisa, suporta a profissão até a aposentadoria — sem falar que aí começa outra luta, dessa vez contra o INSS e as ridículas quantias que humilham o brasileiro e envergonham o país.
Não adianta o médico achar que sua profissão é ruim. Ninguém acredita. Alunos do ensino médio sonham com o vestibular de Medicina, sempre entre os mais concorridos. Os pais se orgulham quando o filho manifesta a vontade de passar a vida entre consultórios e hospitais. E a população segue achando que o médico é aquele que tem um salário até longo demais para atendimentos tão curtos.
Querendo ou não, a humanidade sempre precisará e produzirá em profusão agentes da saúde. O que quer dizer que a concorrência vai aumentar, que outras profissões tentarão fazer o que só o médico estudou para fazer. E não adiantará nem lei de ato médico, porque se e quando ela entrar em vigor pouca coisa deve mudar no dia-a-dia.
Se serve de consolo, os médicos ainda são respeitados pela comunidade em geral. Mas até isso tem diminuído com as longas esperas em consultórios, as constantes histórias de erros cirúrgicos multiplicadas pela mídia e as já citadas consultas à jato.
Quase tudo isso é causa, mas a classe médica está paralisada, incapaz de mostrar à opinião pública seus problemas. Quando um doutor aparece na mídia, geralmente já virou reú. Não existe um trabalho de comunicação eficiente e continuado de defesa do médico. As entidades são ótimas em tratar com autoridades mas ineptas ao lidar com a classe média, a que forma opinião.
Enquanto continuar assim, o calvário atual levará inexoravelmente à crucificação.
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