quinta-feira, 3 de março de 2011

COMO AS DOENÇAS NEUROLÓGICAS AFETAM O FUNCIONAMENTO DA BEXIGA


Rúiter Silva Ferreira | Médico Urologista, Mestre e Doutorando pela UNICAMP em Uro-Neurologia, Preceptor de Residência Médica do Hospital Geral de Goiânia e do Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo – CRER

A bexiga urinária tem a função de armazenar e eliminar a urina em intervalos regulares de tempo. O cérebro e a medula controlam esse correto funcionamento. Portanto, doenças neurológicas podem interferir, de maneira importante, no ciclo da micção levando ao surgimento da bexiga neurogênica. 
Esse termo, genericamente, refere-se às alterações na bexiga provocadas por doenças neurológicas. Pacientes portadores de doenças como esclerose múltipla, doença de Parkinson, sequelas de acidentes vasculares cerebrais – AVC (derrames), lesões medulares, mielomeningocele dentre outras, frequentemente apresentam sintomas urinários como micções próximas umas das outras (polaciúria), desejo súbito e imperioso de urinar (urgência miccional) que pode ou não estar acompanhado de micção involuntária (incontinência urinária) e a necessidade de levantar à noite para urinar (noctúria).
Outros sintomas urinários ainda podem estar presentes como dificuldade ou demora para iniciar a micção, o jato urinário fino/fraco e interrompido e a sensação de que não esvaziou completamente a bexiga. 
 
Esses sintomas interferem de maneira significativa na qualidade de vida dos pacientes. Por insegurança ou medo da incontinência urinária, eles passam a restringir a ingesta de líquidos acarretando sérios problemas de saúde como desidratação, aparecimento de cálculos urinários (pedras) e infecções.
O convívio social, familiar, profissional e sexual fica comprometido. As pessoas tendem a não sair de casa. Não se sentem à vontade para frequentar festas, ir ao teatro, cinema ou mesmo para fazer uma simples caminhada. A vida diária fica “controlada” pelos sintomas urinários.
 
Em algumas doenças, como nos acidentes vasculares cerebrais, a presença da incontinência urinária precoce está associada ao prognóstico menos favorável em médio e longo prazo.
Mais de 80% dos pacientes portadores de esclerose múltipla apresentam queixas urinárias. Esse percentual aumenta de acordo com o tempo de diagnóstico ou piora da incapacidade física. As infecções urinárias são bastante prevalentes e evidências sugerem que elas podem exacerbar a resposta autoimune na esclerose múltipla.
 
O diálogo entre o médico (neurologista ou neurocirurgião) e o paciente é fundamental para identificar e caracterizar esses sintomas e encaminhá-lo para uma avaliação mais detalhada com o médico urologista, preferencialmente um profissional habituado a atender pacientes com patologias neurológicas.
 
O urologista diagnosticará e tratará adequadamente cada caso. Os objetivos do tratamento da bexiga neurogênica são a preservação do bom funcionamento dos rins, controle das infecções urinárias, promoção da continência urinária e, consequentemente, a melhora da qualidade de vida.
O tratamento, geralmente, é dividido em terapias comportamentais, fisioterapia do assoalho pélvico, terapia medicamentosa oral, injeção de substâncias diretamente na bexiga e cirurgias nos casos mais avançados.
 
As terapias comportamentais englobam a adequação da ingesta de líquidos, micções em horas programadas (treinamento vesical), redução da ingesta de bebidas ricas em cafeína, tratamento da obstipação intestinal etc.
O tratamento fisioterápico visa proporcionar o fortalecimento da musculatura perineal e juntamente com a eletroestimulação e o biofeedback atuar no controle das contrações involuntárias da bexiga responsáveis pela urgência miccional e/ou incontinência urinária.
A terapia medicamentosa oral utiliza drogas que atuam nas fases de armazenamento e esvaziamento da bexiga. Tais drogas promovem um bloqueio das contrações involuntárias da bexiga e um relaxamento do colo vesical facilitando a micção. Porém, essas drogas podem levar a efeitos colaterais indesejáveis como boca seca, visão turva e obstipação intestinal. 
 
Nos pacientes que não conseguem esvaziar completamente a bexiga, o uso do cateterismo (passagem de uma sonda a cada 4 ou 6 horas) está indicado.
Em 2009, o Ministério da Saúde autorizou o uso da toxina botulínica (sendo o Botox® a marca mais conhecida) para o tratamento da bexiga neurogênica. A substância é injetada diretamente na parede da bexiga por via endoscópica. É um procedimento minimamente invasivo, na maioria das vezes realizado em nível ambulatorial e tem apresentado resultados bastante satisfatórios por um período médio de 6 a 9 meses. Está indicado nos casos de insucesso com a terapia medicamentosa oral ou intolerância aos efeitos colaterais descritos acima. 
 
O tratamento cirúrgico está indicado para um grupo bastante selecionado de pacientes. As indicações incluem incontinência urinária refratária às modalidades de tratamento descritas previamente, infecções urinárias frequentes devido ao esvaziamento vesical incompleto, presença de refluxo vesicoureteral (fluxo da urina da bexiga para os rins) ou sinais de diminuição da função renal.
O mais importante é ter em mente que os problemas urinários são extremamente frequentes nos pacientes portadores de doenças neurológicas e que o tratamento é eficaz e seguro na maioria dos casos.
 
Revista Neuronotícia, fevereiro de 2011.

3 comentários:

  1. Eu acho que tenho algum problema na bexiga porque sempre que tomo água tenho que sacar todo o liquido, e acho que as vezes mais do que eu bebo.
    Tenho que ir a algum centro de urologia para ver esse problema.

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  2. Estou desesperada meu pai sofreu um avc esquemico em maio deste ano a 3 meses ele vem dando reiteradas infecções de urina em uma delas chegou a ficar 4 dias no CTI. Já não sei o que fazer não quero perder ele.

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