quarta-feira, 29 de junho de 2011

Contato inova mercado goiano de edição com lançamento de livro-objeto

Iúri Rincon Godinho

Há 45 anos o mundo era outro. O homem não havia chegado na Lua, não existia TV colorida, computador pessoal, internet. O governador de Goiás, Marconi Perillo, bebê, dava os primeiros passos. Madonna não cantava. Mas Gabriel escrevia.
Os Gatos é seu primeiro trabalho, reproduzido fielmente em edição de luxo, com lançamento no dia 30 de junho. A única mudança no texto em comparação com o original de 1966 é a adaptação à nova ortografia.
Cresci ouvindo histórias do Bié, o menino de 14 anos que ousou lançar Os Gatos e produziria daí para a frente de forma avassaladora, numerosa e constante. Sabia de suas loucuras dos anos 70 aos prêmios dos anos 90. De suas andanças pelo Brasil, às entrevistas com escritores famosos, seu viver a poesia 24 horas. Gabriel Nascente, o nosso poeta.
No início de 2011, Bié eleito na Academia Goiana de Letras, convidei-o para inaugurar um projeto que sonhava há anos: a criação de um grupo de bibliófilos no Estado, gente que exaltasse — e entendesse — o livro como objeto de arte. A primeira vez que ouvi falar no assunto foi com o sempre antenado e saudoso Getúlio Araújo, membro de uma sociedade de bibliófilos em Brasília. Ele me mostrou que sua biblioteca passou a ter mais valor depois que aderiu à ideia de investir em livros de arte, com tiragem limitada, formato, impressão e acabamento diferentes.
Ao transportar para o Estado a concepção artística e filosófica dos bibliófilos não imaginava a dificuldade para fazer as pessoas entenderem o que venha a ser um livro-objeto, ao mesmo tempo obra de arte, objeto e literatura.
O problema começou nas gráficas. De maneira geral, esses profissionais se acostumaram a enxergar só dois tipos de papel: para a impressão de jornais e revistas (couchê, sulfite e suas variações) ou para convite de casamento (chiques mas óbvios).
Depois de uma semana procurando, optei pelo papel vergê. Ele tem duas faces distintas. Em uma, textura. Na outra, lisa. O impressor disse ser impossível executar o trabalho, pois um lado era diferente do outro. Esse papel só aceitava impressão em um lado. E não adiantou explicar que era assim mesmo, essas nuâncias é que fariam a obra única. Tive de encarnar o opressor: “Estou pagando, faça do jeito que eu mando”.
Neste tipo de trabalho, imprimir é só o primeiro passo. Aliás, nem poderia se chamar impressão, mas impressões: os poemas em duplicadora, as ilustrações em off-set, os adesivos em laser. Fora a caixa, a aromatização, a montagem, a costura de acabamento e a aromatização. Ou seja, oito etapas.
Mas Gabriel merece, Goiás merece. O grande artista Amaury Menezes, uma lenda viva das artes plásticas, merece.
Minha intenção é fazer de três a quatro objetos como esse por ano. Criar uma coleção. Não apenas um livro, mas um objeto que tenha um alto valor cultural e que se valorize — artística e financeiramente — com o passar do tempo.

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