quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os sons, os ruídos e o ser humano

Maria Cristina Cento Fanti, otorrinolaringologista e presidente da Sociedade Goiana de Otorrinolaringologia

Os sons de qualquer natureza podem tornar-se insuportáveis quando emitidos em grande “volume”, neste caso, o mais correto é dizer-se que esse determinado som possui nível elevado de pressão sonora, ou elevada intensidade. O termo ruído pode ser utilizado em vários contextos. É algo inoportuno, indesejável.

Atualmente, nossa atenção tem se voltado para a saúde auditiva das crianças e adolescentes pois já existem trabalhos científicos mostrando  lesões auditivas relacionadas ao ruído recreativo e as atividades de lazer (ambientes em shows e principalmente pelos aparelhos de sons portáteis individuais).

A perda da audição é o efeito mais frequentemente associado a qualquer som, seja ele ruidoso ou  musical, que possua níveis elevados de pressão sonora, ou seja, que ultrapasse os limites de tolerância cientificamente já estabelecidos para o ouvido humano.

Esses limites de tolerância estão explicitados em diversas tabelas que relacionam os níveis de pressão sonora de sons e o tempo em que, sendo ultrapassado por alguém que se exponha ao mesmo,  poderá sofrer lesões auditivas.

Os ruídos excessivos causam lesão auditiva e distúrbios sistêmicos físicos e emocionais, tais  como distúrbios do sono  em adultos, adolescentes e crianças. A partir de 55 dB, num ambiente de trabalho, pode-se considerar uma fonte sonora como incômodo. Se este nível de ruído permanecer por um período de tempo longo, a produção pessoal pode cair e a sensação de mal-estar pode aumentar enormemente. Emissões sonoras entre 60 a 75 dB produzem stress físico. Este tipo de poluição sonora pode determinar uma hipertensão arterial e provocar doenças circulatórias, como o enfarte do miocárdio.

Exemplo de alguns sons considerados como ruídos simples do nosso dia-a-dia e seu nível sonoro em decibéis (dB). A partir do nível de pressão sonora de 85 dB são potencialmente danosos aos ouvidos, se o contato com esses sons, sejam eles ruidosos ou não, durar mais de 480 minutos (oito horas).

Alguns exemplos :
    •    o ruído de uma sala de estar chega a 40 dB
    •    um grupo de amigos conversando em tom normal chega a 55 dB
    •    o ruído de um escritório chega a quase 64 dB
    •    brinquedos infantis podem produzir de 78 a 108 dB a uma distância de 10 cm
    •    um caminhão pesado em circulação chega a 74 dB
    •    em creches foram encontrados níveis de ruído superiores a 75 dB
    •    o tráfego de uma avenida de grande movimento pode chegar aos 85 dB
    •    trios elétricos num carnaval tem em média 110 dB
    •    obras com britadeiras até 120 dB
    •    bombas recreativas podem proporcionar até 140 dB
    •    boate a intensidade sonora chega até 130 dB
    •    um estádio cheio de vuvuzelas pode chegar até 140 dB

É de grande importância que nós, profissionais de saúde,  alertemos aos adultos sobre este tema, pois a criança e o adolescente  não têm a percepção  do som como algo perigoso a sua integridade física e  a perda auditiva nas frequências agudas tendo caráter irreversível.

Somente por meio da educação com programas iniciados precocemente na vida da criança modificaremos o comportamento e a compreensão sobre o efeito dos sons sobre a saúde auditiva e suas repercussões sistêmicas, considerado um problema de saúde pública.
 

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