Maria Cristina Cento Fanti, otorrinolaringologista e presidente da Sociedade Goiana de Otorrinolaringologia
Os sons de qualquer natureza podem tornar-se insuportáveis quando emitidos em grande “volume”, neste caso, o mais correto é dizer-se que esse determinado som possui nível elevado de pressão sonora, ou elevada intensidade. O termo ruído pode ser utilizado em vários contextos. É algo inoportuno, indesejável.
Atualmente, nossa atenção tem se voltado para a saúde auditiva das crianças e adolescentes pois já existem trabalhos científicos mostrando lesões auditivas relacionadas ao ruído recreativo e as atividades de lazer (ambientes em shows e principalmente pelos aparelhos de sons portáteis individuais).
A perda da audição é o efeito mais frequentemente associado a qualquer som, seja ele ruidoso ou musical, que possua níveis elevados de pressão sonora, ou seja, que ultrapasse os limites de tolerância cientificamente já estabelecidos para o ouvido humano.
Esses limites de tolerância estão explicitados em diversas tabelas que relacionam os níveis de pressão sonora de sons e o tempo em que, sendo ultrapassado por alguém que se exponha ao mesmo, poderá sofrer lesões auditivas.
Os ruídos excessivos causam lesão auditiva e distúrbios sistêmicos físicos e emocionais, tais como distúrbios do sono em adultos, adolescentes e crianças. A partir de 55 dB, num ambiente de trabalho, pode-se considerar uma fonte sonora como incômodo. Se este nível de ruído permanecer por um período de tempo longo, a produção pessoal pode cair e a sensação de mal-estar pode aumentar enormemente. Emissões sonoras entre 60 a 75 dB produzem stress físico. Este tipo de poluição sonora pode determinar uma hipertensão arterial e provocar doenças circulatórias, como o enfarte do miocárdio.
Exemplo de alguns sons considerados como ruídos simples do nosso dia-a-dia e seu nível sonoro em decibéis (dB). A partir do nível de pressão sonora de 85 dB são potencialmente danosos aos ouvidos, se o contato com esses sons, sejam eles ruidosos ou não, durar mais de 480 minutos (oito horas).
Alguns exemplos :
• o ruído de uma sala de estar chega a 40 dB
• um grupo de amigos conversando em tom normal chega a 55 dB
• o ruído de um escritório chega a quase 64 dB
• brinquedos infantis podem produzir de 78 a 108 dB a uma distância de 10 cm
• um caminhão pesado em circulação chega a 74 dB
• em creches foram encontrados níveis de ruído superiores a 75 dB
• o tráfego de uma avenida de grande movimento pode chegar aos 85 dB
• trios elétricos num carnaval tem em média 110 dB
• obras com britadeiras até 120 dB
• bombas recreativas podem proporcionar até 140 dB
• boate a intensidade sonora chega até 130 dB
• um estádio cheio de vuvuzelas pode chegar até 140 dB
É de grande importância que nós, profissionais de saúde, alertemos aos adultos sobre este tema, pois a criança e o adolescente não têm a percepção do som como algo perigoso a sua integridade física e a perda auditiva nas frequências agudas tendo caráter irreversível.
Somente por meio da educação com programas iniciados precocemente na vida da criança modificaremos o comportamento e a compreensão sobre o efeito dos sons sobre a saúde auditiva e suas repercussões sistêmicas, considerado um problema de saúde pública.
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