terça-feira, 1 de março de 2011

Glaucoma: perigos e soluções

Marcelo Vitral, oftalmologista

Doença assintomática e segunda principal causa de cegueira em todo o mundo, o glaucoma é uma das patologias mais sérias que podem acometer a visão, esclarece o oftalmologista Marcelo Vitral V. Santos, ex-fellow de Glaucoma do Bascom Palmer Eye Institute - University of Miami – e médico assistente do Setor de Glaucoma do Centro de Referência em Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (Cerof/FM/UFG).

O que é o glaucoma?

Glaucoma é uma das mais frequentes e sérias patologias que podem acometer a visão. É a caracterização genérica de um grupo de doenças que atingem o nervo óptico e levam à perda de células ganglionares da retina. Está geralmente associada ao aumento da pressão intraocular, o que resulta em danos estruturais e funcionais ao olho.

Quantas pessoas essa doença atinge em média no Brasil e qual a idade mais comum de ocorrência?

Dados de 2010 mostram que cerca de 60 milhões de pessoas em todo o mundo apresentam a doença, com projeção de mais de 80 milhões em 2020. É a segunda maior causa de cegueira, responsável por 12,3% dos casos de perda de visão em adultos. No Brasil, apesar de poucas pesquisas estatísticas nessa área, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) estima que até o final deste ano (2010) existam 985 mil portadores da doença e, infelizmente, 635 mil não sabem que têm glaucoma, o que mostra que na maioria dos casos a doença é assintomática. Pode acometer qualquer faixa etária, porém é mais comum a partir de 40 anos.

Quais as causas da doença?

A principal causa do glaucoma é o aumento da pressão intraocular, ocasionado pelo bloqueio da drenagem do líquido contido dentro dos olhos chamado humor aquoso. O único fator no qual o tratamento atua é na diminuição da pressão intraocular. Outras causas estariam relacionadas à circulação e nutrição do nervo óptico, objeto de vários estudos na atualidade.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da doença somente poderá ser feita por meio da consulta ao oftalmologista. Basicamente, deverá ser medida a pressão intraocular, avaliação da estrutura por onde é drenado o líquido contido no olho e, essencialmente, examinar a cabeça do nervo óptico. Após detectado o problema, será necessário a realização de exames complementares para caracterização do glaucoma. Dentre os exames, os principais são a campimetria computadorizada, no qual é avaliado o campo da visão, paquimetria, que mede a espessura da córnea (relacionada com o glaucoma), e fotografia do nervo óptico. Os testes genéticos e o aperfeiçoamento na busca por métodos eficazes para se determinar a origem da doença, continuam sendo objeto de vários estudos.

Quais os tratamentos disponíveis?

Sabemos que o glaucoma não tem cura, porém, na maioria das vezes, podemos controlar a doença de maneira eficaz. Inicialmente, o tratamento é clínico com o uso de colírios que baixam a pressão intraocular, devendo ser usados de forma contínua e regular. O laser é indicado quando o tratamento clínico não consegue evitar a progressão da doença e as estruturas intraoculares permitam seu uso. O tratamento cirúrgico é indicado somente nos casos em que o procedimento clínico e o laser não conseguiram estabilizar a doença. A cirurgia mais realizada é a trabeculectomia, procedimento no qual criamos uma via alternativa para o escoamento do líquido intraocular. O sucesso no controle da pressão depende de vários fatores, alguns deles características dos próprios pacientes.

Novidades no tratamento

Como a população mundial está envelhecendo e o glaucoma geralmente é mais frequente em pessoas mais velhas, avanços em pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias surgem a todo momento. O tratamento clínico evoluiu bastante na última década com o uso de medicações eficazes e confortáveis para o paciente, aumentando a adesão ao tratamento. Vários tipos de laser estão sendo usados e testados, com objetivo de controlar melhor a pressão e aumentar seu tempo de duração. Novas tecnologias no tratamento cirúrgico do glaucoma estão sendo implantadas, principalmente nos EUA e Europa. O Trabectome, o Glaukos Istent (um dos menores implantes disponíveis para o ser humano) e a Canaloplastia são alguns desses procedimentos que promovem o aumento do escoamento do líquido intraocular, não sendo necessária a formação de fístula. O Solx Gold Shunt é um implante de ouro 24K que inclusive aumenta a drenagem do humor aquoso. Até o momento, a maioria desses procedimentos vem apresentando bons resultados.

Revista Oftalmologia em Goiás, fevereiro de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário