terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Reabilitação de pacientes com incontinência urinária

A incontinência urinária é uma das sequelas mais comuns em pacientes atingidos por doenças neurológicas, como AVC, por lesões de medula espinal, doença de Parkinson, mielomeningocele, esclerose múltipla entre outras. Para falar sobre o assunto, convidamos o urologista Ruiter Silva Ferreira, responsável pelo setor de Urologia do Instituto Movimento. Fundado em agosto de 2009, o Instituto, que funciona no Bueno Medical Center, tem como foco a reabilitação em diversas áreas, incluindo o tratamento da bexiga hiperativa. Confira.

Quem desenvolve incontinência urinária

A maioria dos pacientes do Instituto do Movimento tem problemas neurológicos e a incontinência urinária é uma das consequências mais comuns, sendo mais prevalente em pessoas atingidas pelo AVC, por lesões de medula, esclerose múltipla, doença de Parkinson, mielomeningocele dentre outras. Além desses pacientes, avaliamos casos de incontinência urinária de esforço, pacientes com bexiga hiperativa de causa idiopática e homens com incontinência urinária pós-prostectomias.

Perda da qualidade de vida

A avaliação e tratamento deste paciente é fundamental, porque a perda involuntária de urina atua de forma devastadora na qualidade de vida. O paciente incontinente se retira do convívio social, porque se sente inseguro para sair de casa; toma medidas preventivas prejudiciais como diminuição da ingesta de líquidos, na tentativa de minimizar o problema; alguns precisam usar fraldas e aí vem complicações relacionadas ao uso, como o surgimento de dermatites, problemas relacionados à higiene e as infecções urinárias. Todos estes problemas são sérios porque causam um impacto emocional extremamente negativo.

Trabalho do Instituto Movimento

No Instituto se trabalha de forma multidisciplinar. Contamos com fisioterapeutas treinados especificamente para a reabilitação do assoalho pélvico. Enfermagem que treina e acompanha os pacientes que fazem cateterismo vesical intermitente. Nossa equipe é composta ainda por neurologistas, fisiatras, médico especialista no tratamento da dor, psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. Todos empenhados em restaurar a qualidade de vida ao paciente. A experiência mostra que quando os clientes dispõem de um tratamento integrado e multidisciplinar os resultados são mais satisfatórios e obtidos em período de tempo mais curto.

Medicação e exercícios

Após avaliação criteriosa, o plano de tratamento é exposto ao cliente. Uma das modalidades de tratamento é o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico através da cinesioterapia. A eletroestimulação é uma ferramenta bastante importante nesse processo. Do ponto de vista médico, o tratamento da bexiga hiperativa é feito, inicialmente, com uso de drogas anticolinérgicas por via oral. Naqueles casos refratários ao tratamento oral, ou em que o paciente apresenta intolerância ao uso da droga, ou contraindicações ao seu uso, temos utilizado a toxina botulínica tipo A injetada diretamente no detrusor com excelentes resultados clínicos. Esses bons resultados repercutem nos parâmetros urodinâmicos, bem como na qualidade de vida.

Quando é necessária a cirurgia

Para casos bastante selecionados, que não respondem ao tratamento medicamentoso e fisioterápico inicialmente. A correção cirúrgica da incontinência urinária de esforço feminina através das técnicas de Sling é o padrão-ouro. Dispomos de uma grande variedade de kits que tornam o procedimento minimamente invasivo, que podem utilizar as vias supra-púbica ou transobturatória. O uso do esfíncter urinário artificial, embora bastante oneroso para nossa realidade, é o padrão ouro para se tratar incontinência pós-prostatectomias.

A idade tem relação com o aparecimento da incontinência urinária

A bexiga hiperativa idiopática que está associada a sintomas de frequência, urgência ou incontinência acomete de 12 a 17% dos adultos na Europa e EUA e sua prevalência aumenta com a idade. Mas, no caso da bexiga hiperativa de origem neurogênica, como a esclerose múltipla que atinge mais mulheres e há uma grande prevalência em jovens, incide pessoas de 20 a 40 anos. Já a lesão de medula atinge mais frequentemente o homem, numa proporção de quatro homens para cada mulher e também há uma grande incidência em pacientes de 20 a 35 anos, ou seja, assim como na esclerose múltipla, pessoas que estão na fase mais produtiva da vida. Por outro lado, a Doença de Parkinson e as demências são doenças típicas da população idosa.


Revista UroCentroOeste, setembro de 2010

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