Por ITANEY FRANCISCO CAMPOS | Desembargador
É francamente ridícula, para não dizer patética, a fixação das empresas de incorporação imobiliária e seus jovens arquitetos em utilizar termos de línguas estrangeiras na designação dos empreendimentos imobiliários que lançam em ritmo alucinante nesta cidade de Goiânia. Esse esdrúxulo costume tornou-se verdadeira epidemia, revelando empobrecimento da imaginação e menosprezo aos termos do vernáculo e da realidade pátria.
Sua incidência cresce de tal forma que beira às raias da estultície. Para onde se volta o olhar, depara-se com termos ingleses, franceses e até alemães, como se estivéssemos na Europa, nos EUA, em qualquer lugar do mundo, menos no Brasil, onde, pelo que sei, a língua oficial ainda é “a última flor do Lácio, inculta e bela”, o sonoro português.
E assim, tome-se Opus One, La Vie em Rose, Gold Park, Sun Place, New York Business, Diamond, Metropolitan, Chateau du Park, etc e tal, e muitos outros estrangeirismos, inclusive com direito a imprecisão e mesmo erros, como se não tivéssemos uma língua própria, um idioma oficial, riquíssimo, por sinal, com suas imbricações latinas, africanas, ibéricas e indígenas. De vez em quando, ora viva, surge um Ventanas del Sol, lembrando que estamos na América Latina, no continente do sol, colonizado por espanhóis e portugueses. Mas português mesmo, só nos subúrbios e olhe lá!
O que predomina na burguesia são os termos em inglês, os barbarismos, revelando a mentalidade colonizada do empresário brasileiro, que vai haurir do idioma da matriz econômica as expressões para o seu empreendimento, como se isso fosse sinônimo de sofisticação, quando na verdade não passa de pobreza de espírito e verdadeiro complexo de vira-lata, para usar a expressão de Nelson Rodrigues, indicativa do nosso sentimento de inferioridade em relação ao império americano. Esse tipo de comportamento, para dizer o menos, é de uma “breguice” inominável, própria dos alpinistas sociais, que querem impressionar pela aparência e chalaça.
Pior do que isso só aquele argumento do Secretário de Planejamento do município de Goiânia de que é desnecessária a avaliação do impacto ambiental causado pela edificação de prédios residenciais, porque o congestionamento do tráfego só ocorre nos períodos da manhã e do final do dia. E querias ainda mais, cara pálida? Sem querer alimentar o xenofobismo, que afinal a língua é um organismo vivo, em permanente processo de renovação, mas também atento a que a nossa identidade está vinculada ao nosso idioma, elemento de unificação nacional, cujo uso é tutelado por lei promulgada pelo Parlamento Nacional, conclamo, ainda que voz solitária pregando no deserto, que valorizemos o vernáculo, o velho e bom português, coibindo o emprego desarrazoado, ridículo e inexplicável, de termos ingleses em empreendimentos comerciais brasileiros.
Afinal, a natureza foi dadivosa para com o Brasil, proporcionando rios, montanhas, ilhas, um imaginário coletivo inesgotável, matéria-prima inestimável para a colheita de termos poéticos, de raízes brasílicas, que bem poderiam ser empregados para as edificações que se espalham em ritmo delirante na paisagem goianiense. Para isso, basta o controle das entidades fiscalizadoras nacionais, como CREA, os Registros de Imóveis, as Juntas Comerciais etc, somado, é claro, ao bom senso e clareza de espírito dos jovens empreendedores brasileiros.
Revista da Academia Goiana de Direito, dezembro de 2011.
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