O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade e é conhecido também por DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). A neuropsiquiatra Arianna Costa Cavalcante Milhomens, pós-graduada em Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência pelo Serviço de Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas-HC-UFG (NINA), explica os sintomas, diagnóstico e tratamento deste problema, que afeta diretamente o aprendizado, assim como a qualidade de vida e a capacidade de integração social do portador. Confira.
O que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)?
Trata-se de uma disfunção cerebral, isto é, ocorrem alterações no funcionamento do cérebro que levam à diminuição da produção de algumas substâncias essenciais no controle da atenção e dos comportamentos.
Quais as causas?
Geralmente há uma associação entre fatores genéticos, já que é bastante comum um dos pais ou ambos terem sintomas de TDAH; e fatores ambientais, como uso de tabaco e álcool durante a gestação, hipóxia pré e pós-natal, traumas obstétricos, traumatismos crânio-encefálicos e exposição à infecções.
Quais seus efeitos no organismo e rotina do paciente?
A criança não tratada geralmente apresenta desempenho baixo rendimento escolar e dificuldades no aprendizado, podendo evoluir com repetências, expulsões e alto índice de evasão escolar; tem dificuldades no relacionamento com colegas e com familiares, sentimentos de menos-valia e baixa autoestima. O adulto sem tratamento pode apresentar dificuldades em administrar projetos pessoais; maiores taxas de desemprego; menor ascensão sócio-econômica; maior prevalência de divórcios; dificuldades em manter relacionamentos afetivos duradouros; precocidade de início da vida sexual; mau planejamento familiar e maior exposição à doenças sexualmente transmissíveis; risco três vezes maior de se envolver em acidentes de trânsito; maior número de advertências por excesso de velocidade e direção perigosa; maior uso de drogas; sentimentos de baixa auto-estima e desmoralização.
Está vinculada à outras doenças?
Sim, em até 50% dos casos encontramos comorbidades, ou seja, a ocorrência de outro transtorno associado, como a dislexia, o transtorno opositivo-desfiador, depressão, ansiedade, dentre outros.
Como é feito o tratamento?
O tratamento é feito com o uso de medicações, dentre elas a mais conhecida é o metilfenidato. Devemos inclusive lançar mão da terapia cognitivo-comportamental e de intervenções educacionais (apoio pedagógico).
Como é feito o diagnóstico da doença?
O diagnóstico é feito pelo médico (especialista neuropsiquiátra, neurologista e neuropediatra), por meio da observação da criança no consultório, relato dos pais ou cuidadores e da escola. Podem ser usadas escalas de avaliação da gravidade dos sintomas. A avaliação neuropsicológica também é importante para excluir ou confirmar a presença de co-morbidades. É importante salientar que atualmente não existe teste ou exame que dê, sozinho, tal diagnóstico.
Como os avanços na psiquiatria podem amenizar os efeitos e incidência da doença na população?
Com o diagnóstico e do tratamento precoce, para evitar sequelas que podem se tornar indeléveis.
A senhora possui dados da doença em Goiás? E no Brasil?
O TDAH apresenta uma prevalência que varia de 5 a 8% da população infantil mundial, sendo que em cerca de 60% a 80% desses casos permanecem com sintomas na vida adulta.
PRINCIPAIS SINTOMAS
Segundo a neuropsiquiatra, os sinais podem ser divididos em dois grandes grupos: sintomas de desatenção, como exemplo, não presta atenção a detalhes e ou comete erros por descuido; parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra; tem dificuldades para organizar tarefas e atividades; reluta em envolver-se em atividades que exijam esforço mental continuado; perde coisas necessárias para as tarefas e atividades; distrai-se facilmente com estímulos que não tem nada a ver com o que está fazendo. É a criança que parecer viver “no mundo da lua”. Há ainda os sintomas de hiperatividade/impulsividade, como ser irrequieto com as mãos e com os pés ou se remexer na cadeira; não consegue ficar sentado por bastante tempo; corre ou escala em demasia ou tem sensação de inquietude; tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; dá respostas precipitadas antes das perguntas terem sido completamente formuladas; tem dificuldades de esperar a sua vez; interrompe, intromete-se na conversa dos outros. É a criança que vive a “mil por hora” ou age como se estivesse “a todo o vapor”.
Revista NeuroNotícia, novembro de 2011.
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