quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Descolamento de retina pode causar cegueira

O descolamento de retina é um problema geralmente assintomático no início e que pode progredir para a cegueira total. Quem alerta é o oftalmologista Carlos Sérgio Nascimento de Melo, fellow em Retina e Vítreo no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HCFM-USP). Confira a entrevista que ele concedeu sobre o assunto.

Quais os sintomas do descolamento de retina?
A perda súbita de campo visual geralmente é a principal queixa relacionada ao descolamento de retina, mas apenas aqueles mais extensos podem ser notados pelos pacientes. Os casos iniciais frequentemente são assintomáticos e o descolamento de retina é classificado como sub-clínico. Entretanto, todo descolamento de retina primário progride para cegueira total se não tratado apropriadamente. Por isso, é de fundamental importância que a população seja orientada a identificar sintomas que podem estar relacionados a formação de roturas de retina, e procurar oftalmologista a tempo para o tratamento do defeito retiniano por meio da fotocoagulação a laser, procedimento simples que evita o desenvolvimento do descolamento de retina.

Que sintomas são estes que a população deve estar atenta?
Os sintomas iniciais relacionados à formação de rotura\descolamento de retina são o súbito surgimento das “moscas volantes”, isto é, a impressão de objetos flutuantes escuros no campo visual, associados à fotopsia, que são como flashes. Fotopsia é um fenômeno efêmero, geralmente percebido no campo visual temporal e no escuro.

Qual o grupo de risco?
Descolamento de retina não é uma condição comum na população em geral, a incidência anual é de aproximadamente 1 por 10 mil habitantes. Entretanto, várias desordens ocular e sistêmica são associadas com risco maior de descolamento de retina. Particularmente importante como fatores predisponentes estão a alta miopia, pseudofacia e afacia (cirurgia de catarata), trauma ocular, infecção por citomegalovírus associado a AIDS e diabetes mellitus. A maioria das roturas de retina ocorrem em pacientes que não tem uma condição sistêmica predisponente, mas existem algumas doenças como a síndrome de Marfan, Síndrome de Ehlers-Danlos, Síndrome de Wagner’s e Stickler’s que podem predispor à formação de defeitos retinianos e consequentemente aumentar o risco. Por isso, nos grupos de pacientes considerados de risco, especialmente nos altos míopes, nos pacientes operados de catarata, nos casos de trauma ocular e de diabetes, deve-se fazer pelo menos um exame anual com dilatação pupilar para mapeamento da retina.

Existem tratamentos disponíveis?
Sim. O objetivo do tratamento é conter os fatores que levaram ao descolamento, restabelecendo a fisiologia normal da retina, por meio da eliminação das trações vítreo-retiniana, cessar o fluxo de líquido sub-retiniano e bloquear os defeitos retinianos. Para a escolha da técnica mais apropriada, leva-se em consideração o nível de complexidade do descolamento de retina e a experiência do cirurgião. Existem desde técnicas consideradas menos complexas até outras mais sofisticadas. A grande novidade hoje na cirurgia do descolamento de retina são os modernos aparelhos de vitrectomia, micro sondas de corte e iluminação 23G e 25G, sistemas de iluminação com xênon e pinças cirúrgicas 23G e 25G, que permitem cirurgias sem sutura, excelente observação do vítreo e retina e ótimo controle de pressão e fluídica. Essas novas tecnologias em instrumentais e técnicas cirúrgicas associadas ao tratamento precoce do descolamento de retina têm se refletido em resultados
cada vez melhores para os nosso pacientes.

Revista Oftalmologia em Goiás, outubro de 2011.

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