MARY MARQUES GUIMARÃES - Psicóloga
O paciente bariátrico chega ao cirurgião gástrico com uma demanda explícita por uma maneira rápida e prática de solucionar seus problemas, sem contudo considerar os aspectos psicológicos presentes nesse contexto. A obesidade enquanto doença demanda uma compreensão global que contempla os aspectos psicológicos como um conjunto articulado de fenômenos, cujo sintoma manifesto é o ganho de peso.
A relação emocional com o alimento tem início muito cedo na vida do sujeito, sendo este incorporado como uns dos primeiros cuidados dispensados logo após seu nascimento, já que é através da amamentação que a criança recebe amor, conforto e afago. Nesse processo, todas as sensações ruins, angústias e desconfortos do bebê tendem a ser amenizadas. Autores nos chamam atenção para a origem deste mecanismo, pois a criança chora por vários motivos, mas, se sempre entendemos esse choro como sinal de fome e oferecemos a comida, estamos favorecendo para que ele interprete que todas as sensações ruins podem ser resolvidas com o alimento.
O ato de comer envolve muito mais que selecionar um alimento. Envolve prazer, lembrança, refúgio e carícia. É essa compreensão que nos leva a analisar as pessoas que comem para além da fome. E assim tem sido ao longo dos anos. A comida passa a ter outras finalidades, muitos utilizam-na para resolver os problemas do dia a dia, por acreditar que pode lhe proporcionar alívio, amenizar tensões, ansiedades, frustrações e tristezas. Desse modo, é importante identificar o que está por trás da ingestão alimentar exagerada. Frequentemente observamos nos pacientes compulsivos uma inabilidade de contatar seus próprios sentimentos, dificuldade de identificar o que está errado e, desta forma, não conseguem enfrentar problemas nem resolvê-los.
Percebemos, então, que não é simples assim. O tratamento da compulsão alimentar envolve um trabalho mais complexo com o paciente em preparo para cirurgia. Uma solução seria orientá -lo a buscar o autoconhecimento, ou seja, entender os sentimentos que estão por trás da ingestão alimentar exagerada, fortalecendo suas capacidades psíquicas, assim como entrar em contato com suas habilidades inconscientes e aprender a enfrentar e se defender das vicissitudes da vida de forma mais realista.
Quando as questões emocionais começam a adquirir significados, torna-se mais fácil controlar a compulsão alimentar, o paciente começa a identificar que uma tristeza não é fome e, desta forma, não pode ser resolvida com a comida, e sim, enfrentando-se a causa desse sentimento ruim. São mudanças internas para que o paciente possa aproveitar o potencial da cirurgia em benefício próprio. É justamente neste trabalho de “causa e consequência” que entra em cena o papel do psicólogo na avaliação e acompanhamento no pré e pós operatório por tempo indeterminado.
Jornal da Sociedade Bariátrica-Goiás, maio de 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário