Especialista desmistifica a teoria do "leite fraco" na amamentação

Quando o assunto é amamentação dos bebês, muitas lendas rondam os pensamentos das mamães. A fonoaudióloga Valdirene Dias Pimenta Pereira, especialista em amamentação, acredita que o ideal é que a mulher seja preparada por um profissional especializado em amamentação ainda na gravidez.

A preparação da mama
Pesquisas recentes relatam e o próprio Ministério da Saúde diz que não é necessário preparar as mamas durante a gestação como forma de prevenir fissuras, e que o necessário é uma pega adequada ao seio. Realmente, a pega quando correta não machuca o seio. Mas, às vezes, o seio tem o bico plano e a pele é rígida, ou o bico é invertido e se a mãe não conseguir uma maior elasticidade da aréola, vai ficar difícil conseguir a pega certa, podendo nas primeiras mamadas ocasionar traumas mamilares. É bom que alguém com experiência em amamentação avalie a mama e veja se ela está adequada para amamanetar, oriente sobre a postura e pega favoráveis e seja um incentivador no processo da amamentação.

Mamães inseguras
Na atualidade, tenho observado que o que dificulta mais o aleitamento é a falta de preparação e esclarecimento da mulher. Apesar de ter mais facilidade de acesso ao conhecimento, por meio da internet, por meio de um curso preparatório para gestante, dentre outros, a mulher geralmente é uma mãe insegura. O medo do bebê chorar, o medo de deixá-lo passar fome, tem dificultado muito a mãe passar pelas primeiras etapas do aleitamento e a primeira semana realmente não é fácil. A mãe tem que ter noção que no início ela tem apenas colostro, mas mesmo ela sabendo, fica aflita e  ansiosa. A mãe que não tem um suporte da família poderá desistir frente ao primeiro obstáculo.

O mito do leite fraco
Muitas mulheres ainda tem na cabeça essa mentalidade de que o leite é fraco. Por mais que a gente informe, ainda tem as pessoas por trás que passam esse falso conceito. Não existe o leite fraco, geralmente o que acontece é que a pessoa observa o leite anterior (o leite inicial), que é rico em água. Ou senão é a mãe que troca muito o bebê de peito e ele não consegue chegar ao leite posterior, que é mais rico em gordura e fica no final da mama.

Complemento alimentar
Existem profissionais que introduzem complementos (glicose, leites artificiais) antes do tempo. A facilidade que a população tem hoje com complementação é grande. Quantas mães que estão grávidas e já tem a mamadeira ou que vão para a maternidade e já levam a mamadeira? A pressão para introduzir outros alimentos por parte de outras pessoas da família também é muito forte. Se a mãe entra com complemento, o bebê vai deixar de sugar o peito para sugar a mamadeira, o que é mais fácil.

No âmbito da fonoaudiologia
A amamentação traz vantagens nutricionais, imunológicas, econômica e prática. No âmbito da fonoaudiologia, o aleitamento é responsável pelo crescimento mandibular correto. O movimento da ordenha no peito faz com que o bebê trabalhe toda a musculatura da face, o que favorece o crescimento mandibular e contribui para que a face fique simétrica e harmônica. A sucção no peito é um preparo para a mastigação e esta é a preparação para a fala. O bebê que mama o peito estabelece também uma respiração nasal, tendo menos chance de se tornar um respirador bucal. O movimento que é feito na mamadeira é  diferente do que é feito no seio. Por mais que seja uma mamadeira ortodôntica, semelhante ao bico do peito, o bebê faz somente o movimento de abertura e fechamento, enquanto que na sucção no peito, a mandíbula abaixa, vai para frente, eleva e vai para trás, faz um movimento como se fosse uma alavanca e trabalha toda a musculatura da face. É importante que os profissionais da saúde saibam não só reconhecer as dificuldades com a amamentação e orientar as mães, mas que, sobretudo, sejam incentivadores e promotores da amamentação.

Jornal da Sociedade Goiana de Pediatria, setembro de 2010