sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Benefícios e malefícios do sol

Vitamina D é fundamental, mas se expor ao sol sem proteção pode causar doenças. E agora?

LUIS FERNANDO FRÓES FLEURY JÚNIOR, dermatologista

As mais recentes pesquisas sobre os benefícios da Vitamina D e sobre as doenças que sua deficiência pode provocar no organismo colocaram o sol no centro das discussões. Os resultados surpreenderam até os especialistas, que anteriormente acreditavam que a Vitamina D desempenhava somente o importantíssimo papel de promover a absorção do cálcio pelo organismo, sendo fundamental para a formação dos ossos e dentes.

Hoje, sabe-se que sua atuação vai além. “Osteoporose, raquitismo, fraturas, miopatias, diabetes, câncer de próstata, de mamas, de intestino, doenças autoimunes, como artrites, diabetes,e esclerose múltipla, hipertensão arterial, arterioesclerose, doença coronariana, D. de Alzheimer, TPM, fibromialgia e tuberculose podem ser desencadeadas se houver uma grande deficiência de vitamina D no organismo”, afirma o endocrinologista Luciano Sanches de Siqueira.

Ele explica ainda que a Vitamina D – que recebeu este nome devido às vitaminas ABeC – na verdade é um hormônio, derivado dos esteroides, e portanto tem várias ações biológicas, em vários tecidos diferentes, conforme a presença ou não de seus receptores. “Os benefícios são principalmente para os ossos e para a homeostase do cálcio, elemento que participa de muitas reações no nosso organismo: músculos, coração, imunidade, etc”, observa.

De acordo com as pesquisas, realizadas em grandes centros científicos ao redor do mundo, para que o nosso corpo sintetize bem a vitamina D o horário ideal para se tomar sol é das 12h às 14h. E 15 minutos por dia, três vezes por semana, seriam suficientes, mas isto deveria ser feito sem nenhuma proteção solar. Dizem também que o sol permitido pelos dermatologistas - antes das 10h e depois das 16h - não proporciona a mesma quantidade de vitamina D necessária aos humanos e ainda que o creme protetor solar bloquearia a benéfica ação da vitamina D.

O QUE DIZ A DERMATOLOGIA
O dermatologista Luiz Fernando Fleury Júnior considera que, quando se fala sobre hábitos de vida a palavra de ordem é equilíbrio. “Quanto à exposição solar também não é diferente, não podemos radicalmente proibir exposição ao sol, por outro lado recomendar exposição ao sol às 12 horas beira à irresponsabilidade”, contrapõe.

Ele informa que a Sociedade Brasileira de Dermatologia e a Academia Americana de Dermatologia, baseada em dados científicos concretos, recomendam que a exposição ao sol, de forma intencional, não deve ser considerada como fonte para a produção de vitamina D, ou para a prevenção de sua deficiência; e que as medidas fotoprotetoras, como uso de roupas e chapéus, óculos escuros e a não exposição ao sol em horários extremos, das 10 às 15 horas continuam como a recomendação mais adequada para a prevenção ao câncer de pele e ao fotoenvelhecimento.

Já o endocrinologista Luciano Sanches avalia que, como existe muita polêmica sobre o assunto, ele, enquanto médico, prefere usar o bom senso. “Ver custo benefício, por exemplo. Se um paciente tem muita chance de ter problemas graves com a deficiência de Vitamina D, sem ter muitos riscos para câncer de pele, prefiro recomendar uma exposição ao sol, mesmo que mínima, pois a melhor e principal fonte de Vitamina D é a exposição ao sol”, reitera. “A alimentação é uma pequena fonte desta vitamina, com exceção do óleo de fígado de bacalhau sabor pouco apreciado, do salmão e de sardinhas em lata”, completa.

Luiz Fernando alerta ainda que a exposição excessiva aos raios solares pode causar queimadura solar, rosácea, desencadear e agravar quadros de lúpus eritematoso, herpes, alergia solar e alguns dos mais frequentes tipos de câncer de pele.

Ele afirma ainda que os casos em que pode ocorrer deficiência de vitamina D são bem estabelecidos pela ciência e podem ocorrer em lactentes recebendo amamentação exclusiva; idosos (pele envelhecida produz menos vitamina D); indivíduos com baixa exposição ao sol; condições climáticas; uso rigoroso de medidas de fotoproteção; cobertura da pele por práticas religiosas (no caso das burcas muçulmanas, por exemplo); pessoa com síndrome de mal-absorção e obesos mórbidos.

Para o dermatologista, o único benefício reconhecidamente relacionado à Vitamina D é sua relação com a saúde óssea, através da participação no metabolismo do cálcio, e sua importância na prevenção do raquitismo e da osteoporose. “Segundo a posição formal do Instituto Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América (IOM), publicada no ano de 2011 no Journal of Clinical Endocrinology and Metabolismo,“a evidência de que a vitamina D ou o cálcio reduzem o risco ao desenvolvimento de doença crônica não–esquelética é inconsistente, inconclusiva e não atende aos critérios de relação causa-efeito. Evidências vindas de estudos randomizados são esparsas”.

Entretanto, o endocrinologista Luciano Sanches observa que o fato é que a insuficiência da vitamina D está presente em todo o mundo, em razão da menor exposição ao sol pelo uso de filtro solar, pelo ritmo da vida moderna, por mal absorção intestinal, causada por cirurgias bariátricas e outras doenças e uso de algumas medicações, como por exemplo, o fenobarbital, usado para epilepsia e orlistat, para acelerar o trânsito intestinal.

E para quem não pode conseguir esta fonte por meio do sol, Sanches avisa que resta a alternativa da Vitamina D em forma de suplementação, que, ele destaca, deve ser administrada de uma forma correta pelo médico. “É preciso ter cuidado com as doses, porque pode haver intoxicação pela vitamina D”, alerta. “Em torno de 90% dos idosos podem ter insuficiência de vitamina D e em torno de 40% dos jovens que trabalham em ambientes fechados. É preciso estar atento, e eventualmente, procurar um endocrinologista para um check up”, conclui.
Revista Dermatologia em Goiás, fevereiro de 2013.

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