Com
enredos bem elaborados os Grafic Novel arrebatam leitores exigentes e
que desejam se ver na narrativa
Diversidade
é a palavra que define o atual público das histórias em
quadrinhos. O estereótipo de ser “apenas só para meninos” ou
“arte para o segmento infanto-juvenil” acabou. Os super-heróis
deram espaço a novos personagens e histórias mais elaboradas, que
cativam leitores de várias faixas etárias e ambos os sexos. Tudo
começou com o surgimento do Grafic Novel - romance gráfico -
que teve seus antecedentes nos anos 1960 como Tintin, Asterix
e Spirou.
Sendo
este um estilo de história em quadrinhos que possui um enredo mais
extenso do que o normalmente encontrado nos gibis, ele é dividido em
capítulos, reunido em um álbum luxuoso com páginas acetinadas e
capa dura, atingindo um público adulto e elitizado que não mais se
interessa por histórias de sexo como nos anos 1950 – em que Carlos
Zéfiro é seu mestre no Brasil - e sim por histórias que se
assemelham as suas vidas.
As
pessoas sempre buscam na arte algum tipo de empatia, para que elas
consigam se ver no que veem, se imaginar no contexto, sentir o que o
personagem está passando, enfim, se inserir na situação. Existem
pessoas que até mesmo antes de ler um livro, pesquisam sobre, por
exemplo, a vida do autor para entender em que contexto tal obra foi
escrita, ou no caso de cantores, investigam sobre os momentos que
passou o músico para que escrevesse tal letra.
Os
filmes, livros, fotos e músicas que realmente emocionam seu público
são aqueles em que o próprio público possa se ver no contexto do
personagem de tais obras ou que pelo menos expressem o momento
emocional, espiritual, e até mesmo o social que esteja vivendo. Um
exemplo disso foi quando foram criadas as tiras no Brasil, nos anos
1960. Aquele era um momento de total rebeldia e indignação da
população diante das injustiças cometidas pela ditadura.
Em
meados dos anos 60 e 70, época em que o Brasil passou por
transformações significativas, surgiram cartunistas como Ziraldo,
criador do Menino
Maluquinho, e Henfil pai
dos personagens Graúna
e Os
Fradinhos, e
é claro Maurício de
Souza, que é o inventor
da Turma
da Mônica,
em 1959. Nessa época também foram produzidos personagens como
Escorpião,
Capitão Sete e
Raio
Negro.
Já no estilo policial temos o "O
Anjo",
feito por Flávio Colin, e no faroeste temos o personagem gaúcho
Fidêncio,
de Júlio Shimamoto.
Como
efeito do golpe
militar, nasce um estado de moralismo no meio das HQs, entretanto
surgiram as charges – desenho cômico - que satirizavam tudo o que
indignasse o país, lembrando que elas tiveram lugar de destaque no
Pasquim, jornal que mesmo sendo perseguido pela censura, criticava a
ditadura incessantemente.
Na
década de 1980, se firmaram os trabalhos de artistas como Angeli,
Glauco, e Laerte. Classificados com o termo “quadrinhos
underground”, pois eram vendidos de mão em mão, eles
desenhavam em revistas como Chiclete
com
Banana
e Circo
Editorial,
produziram juntos Los
Três Amigos,
e separados criaram a Rê
Bordosa, Geraldão e Overman,
respectivamente.
Temos ainda nessa época os quadrinistas Caco Galhardo, Fernando
Gonsales, Níquel Náusea, Adão Iturrusgarai e Miguel Paiva, que
desenhou Radical
Chic,
Gatão
de Meia Idade, e
as
tiras do detetive Ed
Mort, ganhando
maior fama sendo adaptados para televisão, teatro e cinema.
A
partir de 1982, a arte americana e inglesa invadem o Brasil. Surgem
desenhistas de HQs
que começaram a ser conhecidos no mundo todo, como Frank
Miller, que fez Sin
City,
Demolidor,
A queda de Murdock, Elektra,
Os
300 de Esparta. Neil
Gaiman que desenhou
Sandman e
Stardust
que foi adaptado para o cinema, tendo escrevido inclusive o script do
filme Beowulf, juntamente com Roger Avary. E
Alan
Moore que desenhou
A Liga Extraordinária, Constantine, V de Vingança,
que foram adaptados para o cinema, sendo sua obra mais aclamada
Watchmen,
que foi criado juntamente com Dave Gibbons.
Os
brasileiros
não ficaram fora do circuito quadrinista mundial, entretanto, como
resultado da fama foram
contratados para trabalhar com grandes editoras americanas de
super-heróis. Roger Cruz é um exemplo, na Marvel já desenhou
X-Men,
Surfista Prateado e Tropa Alfa, sendo
também um dos fundadores e sócios da
Fábrica
de Quadrinhos.
E Mike Deodato, um paraibano apaixonado por sua terra, que demonstrou
muito bem seu amor pela Paraíba ao fazer “A História da Paraíba”
em quadrinhos. Desenhando posteriormente Thor,
Mulher
Maravilha,
Os
Vingadores,
Hulk,
da DC Comics.
Com
esses exemplos, percebe-se que hoje as histórias são mais
importantes que as imagens. Os autores das HQs tem a chance de
conquistar o leitor com calma, não precisa de heróis exagerados
para cativar seu público. Público esse que a partir dos anos 1970
já incentivava seus filhos a lerem HQs. Esses filhos são hoje
pessoas que estão na faixa dos 40 anos, são financeiramente
independentes, movimentam um mercado de leitores que é formado por
quem gosta do gênero e exige cada vez mais algo sofisticado.
Então
a frase “coisa de menino” foi totalmente extinta e abriu espaço
para o reconhecimento das HQs e seus criadores. Infelizmente a
diversidade de público ainda não chegou ao Brasil com tanta força
quanto em outros países, mesmo tendo ótimos autores e desenhistas,
como além dos já citados, possuímos os goianos Fábio Yabu,
criador do Combo Rangers, Christie Queiroz, que faz o Cabeça
Oca e Anísio Serrazul desenhista dos Guerreiros da
Tempestade. No entanto, só se reconhecem Disney e Maurício de
Souza como autoridades em desenhos e HQs, os outros autores vão para
países onde são melhores remunerados e reconhecidos por sua arte, o
que é uma perda para o Brasil.
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