Por Jonathan Clive Lake | Oftalmologista
A designação premium tem sido adotada pela comunidade oftalmológica brasileira e internacional para definir grupos de lentes intraoculares com características ópticas diferentes das lente intraoculares esféricas. Algumas delas são: asfericidade, toricidade, presença de anéis difrativos, presença de diferentes anéis refrativos e até algumas que têm como objetivo certa acomodação. Avanços recentes permitiram aumentar o grau de previsibilidade óptica da cirurgia de facoemulsificação. Técnicas cirúrgicas e aparelhos novos permitiram maior padronização do resultado cirúrgico. A biometria e a avaliação do segmento anterior contribuíram bastante para esta padronização.
No entanto, estes avanços trouxeram alguns desafios. Atualmente a indicação não leva somente em consideração a acuidade visual. A indicação da cirurgia de extração do cristalino leva em consideração todo o estilo de vida do indivíduo e como isso está sendo afetado pela disfunção do cristalino. Alterações anatômicas como ângulo fechado, contagem baixa endotelial e progressão rápida do erro refrativo podem levar a situações em que a cirurgia deve ser realizada mesmo com acuidades visuais que não comprometem o dia-a-dia do paciente. Estes podem ser alguns dos problemas que o oftalmologista tem que enfrentar ao avaliar pacientes candidatos à cirurgia do cristalino.
Os avanços atuais, embora sejam benéficos e desejáveis, trouxeram aumento da expectativa do médico e do paciente. Expectativas, por serem baseadas em emoções, podem fazer com que uma cirurgia bem sucedida não seja considerada assim nem pelo médico nem pelo paciente. O uso do termo “premium” piora isso. O termo foi criado pela indústria para gerar uma sensação de lente diferenciada que trará, sem contrapontos, melhora na visão e na vida do paciente.
Isso pode ser real e acontece em diversos casos, mas o oftalmologista deve saber combater expectativas irreais para evitar resultados negativos. A forma de combater isso é por meio de estudo, conhecimento, experiência e compartilhamento de tudo isso com a comunidade oftalmológica.
Para uma cirurgia de catarata bem sucedida, o oftalmologista deve ter bem claro na sua mente que toda lente atualmente apresenta uma contrapartida. Toda lente que apresenta um ganho em algum aspecto apresenta uma perda em outro aspecto. Uma cirurgia de sucesso é uma em que o médico consegue fazer o paciente entender isso de forma inequívoca.
Alguns exemplos podem auxiliar o entendimento disso: Lentes com anéis difrativos oferecem excelente acuidade visual para perto, porém o foco fica em um ponto específico. O ponto para perto necessita excelente iluminação. Além disso, ocorre perda de contraste noturno com presença de alguns halos e glare. Outro exemplo: Lentes asféricas oferecem excelente acuidade visual para longe em ambientes escuros ou claros. No entanto, não só a acuidade visual para perto é baixa, como ocorre diminuição da profundidade de foco. Lentes acomodativas oferecem excelente acuidade visual para longe. No entanto, a acuidade visual para perto é limitada em algumas situações e pode piorar depois de alguns anos. Lentes tóricas apresentam risco real de hipo ou hipercorreção do astigmatismo – isso deve ser passado para o paciente.
Estes são alguns exemplos que se deve ter em mente na indicação de lentes que não são “somente esféricas”. Além disso, é fundamental a documentação extensa de todos os componentes ópticos do olho, isso envolve topografia e tomografias do segmento anterior e aberrometrias oculares. Por fim, a função macular deve passar por avaliação sistemática e rigorosa pelo especialista em retina com auxílios importantes como OCT macular. Munidos do arsenal diagnóstico e terapêutico à disposição do oftalmologista e com a noção real das contrapartidas de cada solução personalizada o sucesso com a facoemulsificação pode ser alcançado.
Jornal da Sociedade Goiana de Oftalmologia, fevereiro de 2012.
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