Após perder uma perna, moto-taxista diz que é mais feliz e vive bem melhor
“Estava em uma bicicleta, um ônibus virou para direita e, ao abrir para fazer a curva, a lateral do veículo bateu em mim. Caí e a roda dianteira passou sobre a minha perna esquerda. Deu esmagamento total, até os nervos foram esmagados, os ossos ficaram em pedacinhos, não dava para reconstituir. A amputação foi femoral, quatro dedos acima do joelho”. Triste a história? Não para quem passou por ela. O relato contado acima aconteceu há 12 anos. Marcelo Alves da Silva, que na época tinha 25 anos, não se abateu pela fatalidade e deu novo rumo à vida. Hoje ele trabalha como moto-taxista é feliz, joga futebol e adora sair para dançar.
Assim que o acidente aconteceu, o jovem se submeteu a duas cirurgias, uma no Hospital de Urgência de Goiânia (Hugo) e outra no Instituo Ortopédico de Goiânia (IOG). Mas, no terceiro dia, os médicos viram que não tinha como salvar a perna. “Graças a Deus eu não tive essa história de depressão. Eu parti para me recuperar logo”, lembra Marcelo. O acidente também fez a família se reaproximar. O moto-taxista conta que a mãe, os irmãos e até o pai, que mora em Brasília e não tinha muito contato, estiveram unidos. “Família, amigos e minha ex-chefe foram importantes para me dar força”, relembra.
Desde o início da nova fase, Marcelo sempre foi otimista e o momento foi de aprender a olhar o mundo com outros olhos e enxergar o próximo como mais respeito. “A única coisa que vinha à minha cabeça na hora do acidente é que eu não queria morrer. Não fiquei com nenhuma outra sequela foi só mesmo a perna”, descreve. Marcelo não lamenta a perda do membro e se recorda quando vários dos amigos chegaram até ele para lastimar pelo acidente. “Meus amigos diziam que tinha sido bastante ruim eu ter perdido a perna. Claro que é. Perdi um membro, mas se isso não tivesse acontecido, eu não seria quem sou. Aprendi a respeitar as pessoas. Foi uma grande lição”, emociona-se.
ESPORTE
Nos primeiros meses Marcelo sentiu a chamada “dor fantasma”. “Eram cãibras e cheguei a chorar de dor. Agora passou, não sinto mais nada disso”. Ele assegura que o fato de não ter uma perna não o atrapalha em nada. “Tanto que pratico o esporte que tanto adoro, que é jogar bola. Sou zagueiro da Seleção Goiana de Amputados”, destaca.
O grupo de atletas amputados surgiu quando Marcelo conheceu o protesista, Robson Limiro, proprietário da Loja Ortomédica. Em uma conversa o empresário perguntou a Marcelo se ele jogava futebol. Logo foi convidado a se juntar aos para-atletas Cláudio Aparecido, que também protesista e Juvenal, que é técnico da equipe de futebol. “Há três anos somos invictos no campeonato brasileiro. Montamos a equipe há 10 anos. Em dezembro participaremos de um amistoso em Angola contra a seleção de amputados do país”, relembra.
Há 12 anos usando prótese, Marcelo diz que já trocou de pernas várias vezes, pois o aparelho “não suporta minha agilidade”. A primeira foi do modelo 3R15. A garantia é de dois anos. Mas o moto-taxista quebrou o joelho em um ano de uso. Com a ajuda de Robson, Marcelo conseguiu uma prótese mais resistente, mas quebrou também. Há dois anos, o para-atleta usa o modelo 3R80. Porém, o aparelho já dá sinais que precisa ser reposta. “Eu desgasto rápido os joelhos, pois subir e descer da moto exige muito do joelho. E, além de jogar futebol eu ainda gosto de dançar”, menciona.
A jornada de trabalho de Marcelo é extensa. Começa às 7h30 da manhã e termina às 22h, de segunda a sexta. “Sexta eu emendo e vou até de madrugada”, e acrescenta. “No sábado e domingo eu começo a trabalhar às 18 e vou até 4h da manhã”. Além de voltar a jogar futebol, Marcelo conta que na “nova vida” construiu amizades sólidas. “Nesses 12 anos, posso dizer que tenho amigos, porque antes eu não tinha. Sei agora quem respeita ou não o próximo. Minha vida melhorou bastante”. Solteiro há 13 anos, Marcelo tem uma filha de 15. Depois do acidente teve algumas namoradas, mas nada sério. “Acho que as mulheres não gostam de moto-taxista. E se tiver de gostar de mim, tem que ser do jeito que sou”, avisa.
Revista Ortopedia em Goiás, novembro de 2011.
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