Durval Moraes de Carvalho, oftalmologista |
É praticamente uma certeza da natureza humana: um dia você esticará os braços tentando por o cardápio do restaurante em foco ou pedirá ajuda para preencher o talão de cheques. Se você ainda não passou por estes momentos, a probabilidade de que aconteça é de quase 100%. A “vista cansada” ou presbiopia surge após os 40 anos e é um fenômeno natural, consequência do envelhecimento humano. Com o tempo, o cristalino — a lente do olho — se torna mais rígido e perde a capacidade de se contrair conforme o objetivo da pessoa focar um objeto perto ou longe.
Ainda que a indústria da oftalmologia tenha desenvolvido uma série de procedimentos que tratam e curam diversos problemas, a vista cansada é ainda um desafio aos cirurgiões. A maneira mais comum de resolver o problema é com o uso de óculos ou lentes bifocais, ou seja, uma parte foca objetos ao longe e outra, perto. Mas esta não é a única nem a mais moderna solução. Nos últimos 20 anos, as intervenções cirúrgicas tornaram-se bem menos invasivas, mais eficientes e possuem uma gama maior de opções ao paciente, levando em consideração seu o estilo de vida, objetivos e a presença de outros problemas oculares, como astigmatismo, miopia ou hipermetropia. Hoje, representam esperança de carta de alforria dos óculos de leitura e correntinhas penduradas no pescoço e nas golas das camisas.
Segundo o oftalmologista especialista em Glaucoma e Catarata, Durval Moraes de Carvalho, do Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos (CBCO), existem três tipos gerais de cirurgia e, dentro destas, dezenas de subtipos, que buscam a correção do problema. “O resultado da cirurgia é excelente, só que a satisfação do paciente vai depender dos objetivos que deseja. O trabalho mais difícil é encontrar a cirurgia certa para cada paciente. Ele gosta de ler? Dirige? Toca piano? Tudo isso é levado em consideração no momento da escolha do tipo de intervenção”, salienta.
Dentre os tipos básicos encontram-se monovisão; cirurgia a laser na córnea e implantação de lentes intraoculares. O primeiro refere-se à especificação de cada olho, um para longe e outro para perto. Neste caso, a intervenção pode ser feita à laser, na córnea, para mudar o grau de um olho ou, dada a realização de cirurgia de catarata, implanta-se uma lente intraocular em um dos olhos. “É preciso fazer várias simulações para concluirmos se a pessoa se acostumará”, ressalta Durval Moraes. A segunda opção tem o objetivo de deformar a córnea, com a criação de diferentes alturas em sua superfície, de maneira que ela passe a gerar imagens nítidas para quaisquer distâncias, assim como uma lente bifocal. Já o último objetiva a retirada total do cristalino e sua substituição por uma lente bifocal não-acomodativa. “Mas ela possui apenas o grau para longe e perto, no caso de distâncias intermediárias é preciso complementar com o uso dos óculos”, avisa.
Avanço tecnológico
As técnicas cirúrgicas, apesar de não curarem totalmente o problema, passam por melhorias desde que foram implantadas. Se antes o paciente necessitava de anestesia geral e pontos pós-operatório, hoje a abertura é tão pequena que não necessita de pontos e a anestesia é tópica, com a utilização de um gel especial. Mas as mudanças não dizem respeito somente à intervenção em si. Os produtos evoluem, inclusive, de maneira constante. Recentemente, os Estados Unidos aprovaram a utilização de uma lente acomodativa, ou multifocal, que muda o grau de acordo com a necessidade dos olhos. Ela é implantada durante o procedimento cirúrgico para retirada de catarata. Assim como na lente não acomodativa, o cristalino é substituído. O procedimento pode ser feito, ainda, em pessoas que não possuem catarata mas querem utilizar a nova tecnologia. De acordo com o oftalmologista ela não faz com que o olho volte a enxergar como aos 20 anos, assim como qualquer outra técnica, entretanto representa um avanço enorme nesta área da medicina.
Revista Oftalmologia em Goiás, fevereiro de 2011
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